Foto: RSNY (CC BY-NC-ND 2.0)
Os acordos com o governo Putin, impulsionados a partir da visita do chefe do Departamento de Estado John Kerry a Sochi, em junho, mostraram as crescentes dificuldades do imperialismo para manter os “sócios” dentro de um certo grau de controle. Essa frente única também envolve o Irã, os chineses, o Hizbollah e os curdos.
A mudança de política pela Administração Obama no Oriente Médio teve, na base, o caos generalizado, em grande medida impulsionado pela política de terra arrasada praticada pelas potências regionais que têm apoiado vários dos grupos “rebeldes”. A tentativa de Obama de colocar em pé uma força de “rebeldes próprios”, a um custo de meio bilhão de dólares, colapsou.
Os russos estão se aproveitando da crise do imperialismo no Oriente para colocar em jogo a própria política. Além de conter o movimento guerrilheiro muçulmano, a busca pela ampliação da influência no Oriente Médio e o relaxamento ou eliminação das sanções, o governo Putin tenta usar o palco da Síria como “showcase” (salão de exposições) da tecnologia militar. A Federação Russa representa o segundo maior exportador de armas, num mercado cada vez mais disputado.
A tecnologia de mísseis russa é uma das mais avançadas no mundo e evoluiu sobre o legado da extinta União Soviética. Os Kalibr-NK são muito difíceis dos radares detectarem. Eles podem ser manobrados a baixas altitudes, contam com alta precisão e podem ser disparados a partir de navios menores. Foi a primeira vez em que mísseis com essas caraterísticas foram utilizados em combate real.
O imperialismo em estado de estupefação
A reação do imperialismo aos mísseis russos foi de estupefação. A rede de televisão CNN chegou a dizer que quatro dos mísseis teriam falhado, o que foi desmentido até pelo Departamento de Estado e pelo Pentágono. O governo norte-americano declarou que os russos estariam violando o Tratado de Forças Intermediárias de Médio Alcance, apesar de que este Tratado somente considera os mísseis de tipo LACM, ou seja, os disparados a partir de bases terrestres.
Na realidade, ficou evidente que o Oriente Médio inteiro se encontra no raio de ação dos Kalibr-NK, enquanto a Rússia está blindando o espaço aéreo para ataques com mísseis balísticos com o sistema baseado nos mísseis S-500.
A pressão do imperialismo norte-americano sobre as potências regionais tem aumentado já que continua em pé a política de 2001 denominada “full spectrum dominance”, ou dominação total do espectro. A Rússia e a China são os alvos principais. Com o objetivo de impedir o expansionismo chinês, o Pentágono direcionou para a região Pacífico da Ásia nada menos que a metade do orçamento e está incentivando o desenvolvimento militar do Japão.
Os investimentos bilionários em super porta-aviões e na caríssima infraestrutura balística estão sendo colocados em xeque, no caso de um conflito bélico real, por economias muitos mais fracas. Mas o problema é que essa política tem na base o aprofundamento da crise capitalista mundial.
O complexo militar industrial que representa o grosso da economia, profundamente integrado à especulação financeira, somente pode manter os lucros num estado permanente de guerra.
O imperialismo significa a fusão do capital industrial e do capital financeiro, tal como o definiu Vladimir Ilich Lenin no célebre livro “O Imperialismo etapa superior do capitalismo”. O parasitismo financeiro e as guerras pela divisão do mercado mundial fazem parte intrínseca do imperialismo.
Ambas as caraterísticas têm escalado e deverão escalar ainda mais no próximo período. Está colocado um novo colapso capitalista mundial de enormes proporções. Os monopólios tentarão salvar os lucros a qualquer custo. Mas a crise tende a colocar em cena a mobilização dos trabalhadores nos países centrais. O desenvolvimento da crise implica no confronto inevitável entre os trabalhadores e os capitalistas, o proletariado mundial e a burguesia.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.