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conquestCausa Operária - Morreu aos 98 anos, o "historiador" que inspirou o Livro negro do comunismo.


Conquest morreu no último dia 3 de agosto. Sua obra manipuladora sobre o comunismo é responsável por mentiras que são repetidas até hoje pelos reacionários para difamar a esquerda. Foto: Ninian Reid (CC BY 2.0)

Robert Conquest era considerado, por alguns, “o maior conhecedor da história soviética”. Escreveu três livros que alcançaram um volume muito grande de vendas. Se alguém leu, duvida-se, pois a leitura desses livros revela nada mais nada menos do que uma estupidez sem tamanho. Foi em seu primeiro sucesso, O grande terror (1968), que Conquest chegou a atribuir a Stálin o número de 20 milhões de mortos.

Antes de analisarmos a obra, será preciso dizer quem era Robert Conquest. Foi ele um ardoroso anticomunista, amigo pessoal de Margareth Thatcher e admirador de Ronald Reagan. Escreveu coisas tão ridículas como O que fazer quando os russos vierem. Um manual de sobrevivência (1984) e teve toda a sua pesquisa financiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, um organismo governamental ativamente envolvido na Guerra-Fria.

Em O grande terror, Conquest procura determinar o número de mortos durante o regime de Stálin. Entretanto, ele mesmo diz que não é possível determinar-se esse número devido à escassez de documentos e à dificuldade de se obter mesmo os dados que estão disponíveis. E, apesar de tudo o que justifica em sua pesquisa, os números apresentados fundamentam-se, sobretudo, no desejo de Conquest de fazer de Stálin um genocida.

Conquest chega ao número de 20 milhões de mortos levando em conta as vítimas de guerra e da fome, o que seria, no mínimo, discutível. Mas mesmo que aceitássemos essa tese, não teríamos como aceitar os números. A quantidade de execuções promovidas por Stálin beira o absurdo, por exemplo. Absurda também é a ideia dos campos de extermínio, algo que só existiu na Alemanha nazista. Outros especialistas afirmam, categoricamente, que não existiram campos assim na União Soviética.

Além do mais, a Alemanha tinha uma indústria de extermínio; e foi apenas essa indústria que possibilitou a realização de genocídios durante a guerra. A União Soviética não dispunha de um aparato assim e o próprio Conquest dá a entender que as execuções eram feitas por fuzilamento.

A obra, considerada por alguns como rigorosa, é tão fraca que não poderia ser levada a séria sequer em um exame universitário. Todo número apresentado ali é falso, exagerado e os cálculos são ridículos.

Por exemplo, Conquest fala que, em uma determinada cidade da União Soviética, encontraram-se 9 mil corpos enterrados numa vala. Agora vem o mais ridículo: se multiplicarmos esse número pelo total de distritos que há no país, chegaremos ao número de um milhão e meio de mortos nas mesmas circunstâncias.

E o livro começa e termina enumerando absurdos que, se colocados num filme de ação, fariam o espectador dar risadas. De acordo com o escritor, em 1937 havia 6 milhões de prisioneiros em campos de trabalhos forçados e, entre 1927 e 1938, 2,3 milhões morreram ali. A simples administração desses campos seria algo impossível de ser praticado. Nenhum país do mundo, em momento algum, inclusive hoje, teve uma população carcerária tão grande, a não ser a Alemanha, em época de guerra.

É de obras assim que surgem obras mais grosseiras ainda como O livro negro do comunismo, livro que começou a ser denunciado antes mesmo de sua publicação, e pelos próprios autores, que afirmaram que o editor estava obcecado com a ideia de chegar a cem milhões de mortes.

A fantasia do Livro negro é ainda mais exagerada do que a de Conquest, atribuindo ao comunismo chinês 60 milhões de mortes. Além disso, os autores apressam-se a colocar na conta de Pol Pot, do Camboja, 2 milhões de mortos, a maior parte vítima de fome. Esquecem-se, contudo de afirmar que a fome foi provocada pela devastação dos campos causada pelos bombardeios norte-americanos por napalm.

Quando os arquivos da União Soviética foram revelados ao público, Conquest resolveu mostrar ao mundo que as cifras apresentadas por ele anteriormente estavam corretas. Não conseguiu. O autor afirma no posfácio de seu O grande terror, uma reavaliação que o número de 7 milhões de mortes derivam, entre outras fontes, do testemunho de ex-prisioneiros provenientes de diversas prisões. Esses dados não são confiáveis, visto que pessoas colocadas em situações como essas tendem a exagerar o próprio estado em que se encontram.

Conquest afirma, também, que o número de execuções de um milhão – veja-se aqui que os números sempre são redondos, o que implica estimativas bem grosseiras – baseou-se em duas valas comuns encontradas em Mínsqui e em Quieve. Não considera ele a possibilidade de que todos os mortos poderiam estar nessas cidades mesmo, nem que ali estariam a maior parte deles (ou mesmo a menor parte).

E, se acompanharmos os cálculos desse escritor, os critérios de pesquisa adotados por ele, a coleta de dados a que procedeu, etc., perceberemos a falta de valor científico de sua pesquisa. Ele procedeu a um longo trabalho de simples falsificação baseada em meias-verdades e tirando conclusões apressadas. Com isso, acaba por prestar um desserviço à informação histórica e, contrariamente à intenção dele, termina por absolver Stálin da maior parte de seus crimes.

As prisões arbitrárias, os julgamentos fraudulentos, as sessões de tortura e as falsificações da história perpetradas durante a era de Stálin, e mesmo depois dela, devem ser analisadas pelo olhar frio e isento do historiador. Apenas com base em dados seguros, podemos concluir alguma coisa acerca de um determinado momento da história. Exageros só contribuem para a confusão e fazem com que mesmo os crimes mais cruéis se tornem obra de ficção.


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