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keynesDiário Liberdade - [Alejandro Acosta] A contenção da crise capitalista e o ascenso revolucionário em cima do aumento do gasto público se esgotaram devido à falência do estado burguês.


John Maynard Keynes, o pai do Keynesianismo: salvar o capitalismo da crise por meio de altos investimentos do estado em obras públicas e o setor de armas. Foto de domínio público.

O economista britânico John Mayard Keynes elaborou, em termos teóricos, a política econômica dos imperialistas norte-americanos e britânicos para superar a Grande Depressão dos anos de 1930, inclusive as ideias sobre o chamado “estado de bem-estar social” para conter as massas. O livro, publicado em 1936, denominado “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, tornou-se a pedra angular do chamado keynesianismo. Nele se encontram as bases da chamada macroeconomia, que trata do estudo de uma economia regional ou nacional como um todo.

Após a Segunda Guerra Mundial, particularmente durante os anos de 1950 e 1960, as políticas keynesianas predominavam amplamente nos principais países capitalistas e até no cone sul da América do Sul, onde eram difundidas pela recém fundada Cepal (Conferência Econômica para a América Latina).

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Quais eram as principais teses e políticas recomendadas por Keynes? Qual foi o contexto histórico que explica o ascenso, desenvolvimento e o ocaso do keynesianismo? Por quê o keynesianismo foi substituído pelo neoliberalismo? Por que o neoliberalismo representa a continuidade natural do keynesianismo? O que os neo-keynesianos atuais pretendem quando propõem a volta à implementação das políticas keynesianas como solução para a crise capitalista atual?

Fundamentos teóricos do keynesianismo

Há quatro principais componentes da teoria econômica de Keynes.

O “uso de agregados econômicos”, que seria a base do método de análise, está baseado na observação da psicologia individual dos agentes econômicos, que ele chega a denominar “espíritos animais”. Apesar de ser óbvio que os capitalistas realmente encarnam espíritos demoníacos na busca por lucros a qualquer custo, a questão seria o por quê eles se comportam dessa maneira. Para Keynes os motivadores seriam meramente psicológicos. Para Marx, o homem que explicou as leis do capitalismo na perspectiva do nascimento, evolução e morte, os capitalistas representam a personificação do capital.

Na mesma linha, para Keynes, o motor da economia capitalista seriam as “expectativas dos chamados agentes econômicos” e a “incerteza natural em relação às consequências das decisões dos capitalistas”. Keynes abandonou totalmente a teoria do valor-trabalho que representou o centro da teoria de Adam Smith, posteriormente desenvolvida por David Ricardo, e analisada em profundidade por Karl Marx como o núcleo do capitalismo, porque ela dava lugar à mais-valia. Por esse motivo, os keynesianos não têm a mínima condição de fazer uma análise científica das leis do capitalismo e não passam de meros apologistas.

O chamado “princípio da procura efetiva”, tomado de Malthus, se resume à necessidade do consumo parasitário dos excedentes da produção não aplicados no ciclo de reprodução ampliada do capital, pois, caso contrário, a economia estagnaria. Malthus atribui esse papel aos proprietários da terra; Keynes ao estado burguês. Posteriormente, esta ideia se materializou no parasitário complexo industrial militar.

Apesar de Keynes constatar a tendência à queda da taxa de lucro, como um dos fatores que conduz à estagnação da produção, não ofereceu nenhuma explicação, além de tomar o efeito como causa. O por quê desta abordagem deve ser explicado em termos históricos. A depressão econômica e o ascenso revolucionário, que tinha levado inclusive à tomada do poder pela classe operária na Rússia, posicionaram Keynes não como um economista que tentava explicar a sociedade capitalista, mas como um bombeiro que tentou encontrar mecanismos para conter o colapso.

Por último, a importância da “liquidez”, principalmente durante a crise, representa mais um dos componentes da verdadeira colcha de retalhos que é o keynesianismo, montada em cima do núcleo das ideias do Naturalismo do século XVIII. O comportamento humano, considerado como determinado pela natureza, tem como objetivo justificar a existência de exploradores e explorados sob a argumentação de que alguns seres humanos seriam mais empreendedores e outros mais passivos. Neste ponto, o keynesianismo está muito próximo da ultra-reacionária Escola Austríaca, que baseia as suas teorias na chamada “praxeologia”, ou o estudo da ação verdadeiramente humana.

As principais políticas keynesianas

A principal política que deriva das ideias de Keynes relaciona-se com o aumento da intervenção do estado burguês na economia por meio de medidas fiscais e monetárias com o objetivo de conter o aprofundamento da crise capitalista. Para viabilizá-la, o estado deveria, inevitavelmente, aumentar o endividamento público.

A Grande Depressão dos anos de 1930 introduziu uma diferença marcante em relação às crises anteriores. O ciclo de ascenso da produção que conduzia à crise, enxugava os capitais excedentes, mas, a seguir, levava a um novo crescimento econômico, entrou em colapso de maneira definitiva. Não havia mais a retomada da economia. A crise tinha conduzido à recessão que, por sua vez, levou à depressão.

A explicação principal de Keynes para o problema foi que o nível de emprego é determinado pela “demanda agregada” de bens e serviços, e portanto dos gastos em dinheiro, e não pelos preços do trabalho, ou salários, conforme diziam os economistas neoclássicos. Por esse motivo, a livre concorrência e a redução dos salários não conseguiriam superar o enorme desemprego e a falta de investimentos. A saída seria o aumento dos investimentos estatais, que possibilitaria, supostamente, atingir o pleno emprego, perante a impossibilidade da economia se autorregular devido ao “espírito animal” dos capitalistas.

“Vou argumentar que os postulados da teoria clássica são aplicáveis a um caso especial e não apenas para o caso geral, a situação que ela assume ser um ponto de limite das posições possíveis de equilíbrio. Além disso, as características do caso especial assumidas pela teoria clássica não são os da sociedade econômica em que realmente vivemos, com o resultado de que seu ensino é enganoso e desastroso se tentarmos aplicá-lo aos fatos da experiência.”

Keynes também estabeleceu as ideias fundamentais do chamado estado de bem-estar social que preconizava fortes investimentos públicos para o fornecimento de serviços públicos e programas sociais com os quais as massas seriam contidas.

Contexto histórico do keynesianismo

A teoria keynesiana reflete, em termos teóricos, a experiência prática implementada por Franklin Delano Roosevelt, com o New Deal nos EUA, e pela Alemanha Nazista, em cima da política econômica aplicada pelo ministro de Economia, Hjalmar Schacht, entre 1934 e 1937, para sair da Grande Depressão de 1930.

Os nazistas conseguiram acabar com o desemprego em cima de enormes investimentos públicos e o direcionamento militar da economia.

As políticas implementadas pelo New Deal entre 1933 e 1937, tiveram como componentes principais enormes investimentos em infraestrutura, que geraram milhões de empregos; a destruição em massa dos estoques de produtos agrícolas, para evitar a queda dos preços; o controle dos preços e da produção, para conter a superprodução; e a melhoria dos direitos trabalhistas, incluindo a fixação de um salário mínimo, a diminuição da jornada de trabalho, o seguro desemprego e a aposentadoria para os maiores de 65 anos. Por meio dessas políticas, Roosevelt passou a controlar o movimento operário e os movimentos sociais cooptando a burocracia sindical.

A crise foi contida de maneira precária até o início da Segunda Guerra Mundial, quando o esforço de guerra conseguiu produzir uma situação macabra de pleno emprego à custas de uma enorme destruição das forças produtivas.

O estado de bem-estar social foi implementado em larga escala após a Segunda Guerra, como o componente econômico para conter o ascenso revolucionário. Enormes setores da economia foram nacionalizados. A saúde e a educação públicas, assim como os programas sociais, passaram a funcionar de maneira exemplar na maioria dos países desenvolvidos e em parte dos países atrasados.

A expansão econômica propiciada pelo Plano Marshall, a partir de 1948, somente conseguiu superar a devastação provocada pela Guerra em 1958.

A contenção política e social esteve a cargo do estalinismo, em primeiro lugar, e dos social-democratas.

Apesar de terem sido feitos enormes investimentos na reconstrução industrial, inclusive na Alemanha, e de terem sido criados setores novos, o capital fictício continuou crescendo a partir do chamado complexo industrial-militar. O próprio Keynes tinha dito que o modelo que tinha funcionado durante a Guerra deveria continuar sendo usado no período posterior, ou seja, a continuidade dos investimentos nos setores não produtivos, principalmente no setor militar.

O colapso industrial nos países desenvolvidos levou ao desenvolvimento de uma indústria local nos países atrasados que, posteriormente, seria destruída, em larga escala, pelas políticas neoliberais.

Em cima dessas políticas, o rendimento das bolsas em escala mundial foi de 562% na década de 1950, puxado pela Alemanha onde foi de 4.094% e pelo Japão com 1.565%, de acordo com a revista The Economist. Na década de 1980, tinha despencado para 255% e, na década seguinte, para 142%.

Neoliberalismo, continuidade do keynesianismo

O neoliberalismo apareceu como um contraponto ultraminoritário do keynesianismo até a década de 1970. No final da década anterior, as pressões inflacionárias e o desemprego tinham disparado. Os gastos militares dos EUA na Guerra do Vietnã estavam levando a economia ao colapso, como ficou muito claro em 1971, quando a administração Richard Nixon declarou o calote do acordo de Breton Woods. Do dia para a noite, a conversibilidade do dólar ao padrão ouro foi abolida.

O ocaso dos investimentos públicos em larga escala, do estado de bem estar social e do próprio keynesianismo aconteceu com a crise mundial do petróleo de 1974. No início da década seguinte, entrou em cena a implementação das políticas neoliberais nos EUA e na Grã Bretanha e, a partir daí, a transformação em política econômica mundial.

O neoliberalismo acusou as políticas keynesianas de terem sido as vilãs da crise capitalista devido a terem gerado altos déficits e endividamentos públicos. Isso não passou de uma farsa disfarçada de teoria econômica. As políticas neoliberais não implicaram na redução do papel do estado na economia e a volta ao liberalismo do século XIX. Muito pelo contrário. Elas têm representado um keynesianismo voltado exclusivamente para as multinacionais imperialistas, com ataques em crescente escala contra as condições de vida das massas trabalhadoras, com o desmonte do estado de bem estar social, e o assalto dos recursos públicos em escala inimaginável.

O neo-keynesianismo

Perante o colapso das políticas neoliberais a partir de 2007-2008, a ala esquerda do imperialismo passou a propor a implementação de políticas keynesianas no lugar dos desastrosos planos de austeridade neoliberais. O prêmio Nobel de economia Paul Krugman e Nouriel Roubini são dois dos mais importantes representantes dessa corrente.

Na Grã Bretanha, o Partido Trabalhista contrapõe às desastrosas políticas do governo conservador, com o objetivo de conter a crise capitalista, as seguintes políticas – taxar os lucros dos banqueiros, investimentos públicos a longo prazo, reduzir os impostos sobre o consumo, o IVA, e isentar de impostos trabalhistas as pequenas empresas.

O PSF (Partido Socialista Francês) conseguiu eleger o presidente François Hollande e obter a maioria no parlamento em cima das políticas de “crescimento”, que em apenas alguns meses tiveram que ser deixadas de lado, abraçando as políticas de austeridade promovidas por Angela Merkel.

O problema prático para a implementação dessas políticas é o contexto histórico, que está muito longe de permitir a recuperação do sistema capitalista, em cima da visão infantil de que ao se produzirem empregos, os trabalhadores irão gastar mais e fazer girar a economia.

A economia capitalista ainda não engripou como aconteceu nos anos de 1930, mas está caminhado a passos largos nessa direção, em condições muito mais explosivas. Os estados burgueses estão falidos devido aos trilhões que têm sido destinados a salvar as multinacionais imperialistas e a manter em pé a especulação financeira, de onde proveem, quase que exclusivamente, os lucros, devido ao esgotamento da economia real por causa da decadência histórica do sistema capitalista.

As alternativas para salvar o capitalismo são muito poucas, pois não dependem das soluções brilhantes de um prêmio Nobel de economia. Como pode ser visto na prática em escala mundial, até na própria França, a alternativa tem sido “mais do mesmo” – mais políticas neoliberais, que implicam em planos de austeridade para a maioria da população e keynesianismo para os especuladores financeiros.

A única alternativa real é a expropriação do punhado de parasitas que domina o mundo por meio da revolução proletária mundial que passa pela destruição da casca, que protege um conteúdo cada vez mais podre, o estado burguês.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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