Foto: cena do filme britânico “Criação” (Creacion), de 2009, dirigido por John Amiel.
“O homem, em sua arrogância, pensa de si mesmo como uma grande obra, merecedora da intervenção de uma divindade”. (Charles Darwin)
A relevância desses acontecimentos contribuiu para grandes mudanças de ideias, da forma como vemos o mundo e para a evolução do nosso conhecimento. Dentre estes, podemos incluir a viagem de Charles Darwin no HMS Beagle, que zarpou exatamente no dia 27 de dezembro de 1831, sob o comando do capitão Robert FitzRoy, às 14 horas, do porto de Plymouth, na Grã-Bretanha.
O Beagle foi assim batizado em homenagem ao cão da raça com o mesmo nome, sendo um importante navio de exploração científica da Marinha Britânica. Mas a embarcação realmente entrou para a história por carregar, na sua segunda viagem, o jovem naturalista inglês Charles Robert Darwin que, posteriormente, rendeu homenagem ao meio de transporte na publicação do seu diário de anotações, “A Viagem do Beagle”, no ano 1839.
Pois a viagem do Beagle foi fundamental para a mais notável obra de Darwin, e provavelmente uma das mais importantes do nosso conhecimento científico, “A Origem das Espécies”.
Originalmente a obra de Darwin foi publicada, em 1859, com o nome “Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida” (On the Origin f Species Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life). O nome resumido e definitivo, e que tornou a obra mundialmente famosa, somente foi adotado na sexta edição, em 1872.
Foto: Tartaruga e Falcão em Galápagos.
Com tal obra, o grande naturalista britânico colocou abaixo pelo menos duas vertentes da ciência cartesiana:
- o antropocentrismo; e
- o especismo.
Darwin definitivamente comprovou que o ser humano não é o centro do planeta, ao rebaixá-lo da condição de criação divina para o mesmo nível das várias espécies originadas do processo de seleção natural, afirmando que “O homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva”.
Para o mestre da teoria da evolução, “O homem tem apenas um fim: escolher para vantagem de si próprio; a natureza, ao contrário, escolhe para vantagem do próprio ser”. É por isso que no Prefácio da sua principal obra Darwin destaca aincapacidade do ser humano para realizar um processo de seleção tão rico como o desenvolvido pela própria natureza, jogando por terra todas as teorias que sustentam um “darwinismo social”.
Sobre o especismo, Darwin também é definitivo, “não há diferença fundamental entre o Homem e os animais nas suas faculdades mentais(…) Os animais, como o Homem, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento”.
Mas o obra de Darwin vai além da biologia e do naturalismo, também demonstrou preocupação política com a liberdade, ao ponto de considerar como ofensiva a escravidão observada na sua estada no Brasil, em 1832, o que chegou a gerar um conflito com o capitão do Beagle e o seu banimento temporário da embarcação.
Com uma teoria tão vigorosa e consistente, baseada na observação geológica, biológica, social e comportamental, Darwin acabou encontrando, e ainda encontra, grandes opositores, como o célebre bispo anglicano Samuel Wilberforce, que além de confrontar a teoria da evolução, travou grandes debates em Oxford com Thomas Huxley, um dos mais notáveis seguidores de Charles Darwin.
É famosa a pergunta de Wilberforce a Huxley que se “foi através da sua avó ou do seu avô que considerava a descendência de um símio?” A pronta resposta de Huxley demonstra a poderosa influência de Darwin, quando afirmou que “preferia ser descendente de um símio a um homem altamente favorecido pela natureza que possui grande capacidade de influência, mas mesmo assim emprega essa capacidade e influência para o mero propósito de introduzir o ridículo em uma discussão científica séria“.
Mas o tempo vem demonstrando a correção tanto do método como da teoria da Charles Darwin, e a importância da mesma para o nosso próprio autoconhecimento como espécie e como parte integrante da biodiversidade.
E tudo começou com a viagem no Beagle, iniciada no distante 27 de dezembro de 1831, e com a posterior visita às mágicas Ilhas do Arquipélago de Galápagos, lar de tartarugas centenárias e das iguanas-marinhas, dentre outras espécies. Foi neste local que Darwin descobriu características que diferenciavam as aves (mockingbirds) de uma ilha para a outra. Também identificou diferenças entre as gigantes tartarugas (as Tartarugas de Darwin) e as 13 espécies de tentilhões existentes no arquipélago.
Foto: Diferença entre os Tentilhões, da autoria do próprio Darwin.
Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado no Rio Grande do Sul, mestre em ciências sociais.