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Gaza11Palestina - CubaDebate - [Andy Coghlan, Tradução do Diário Liberdade] A cidade de Gaza, com cerca de 750.000 habitantes, é sem dúvida uma área urbana densamente povoada.


Isto, em certa medida, explica o elevado número de vítimas no conflito atual. São 63 israelenses e aproximadamente 1.800 palestinos mortos desde que o conflito atual se iniciou há um mês, com pelo menos 245 crianças assassinadas. Mas por que tantas crianças? Acontece que há características incomuns da estrutura da população de Gaza que a convertem em uma singularidade no mundo moderno.

Em primeiro lugar, a população da Faixa de Gaza, de 1,8 milhões, tem uma anormal grande proporção de crianças. Os números para 2013, de acordo com o Index Mundi, mostram que 43,5% da população tem 14 anos ou menos, em comparação com 32% no Egito e 27% em Israel.

A idade média em Gaza é de 18 anos, em comparação com a média mundial de 28. Na maioria dos países europeus é de 40, e de 30 em Israel. Só uma dezena de países africanos tem uma média de idade mais baixa, chegando a 15 em Uganda.

Empregos para os homens

De modo que, por que há tantas crianças em Gaza? Os demógrafos dizem que é uma combinação de fatores incomuns. Um é a estranha baixa proporção de mulheres palestinas que conseguem manter postos de trabalho. "É o lugar no mundo que tem menos mulheres trabalhando fora de casa", diz Jon Pedersen, do Instituto FAFO, um centro para a investigação demográfica e social em Oslo, Noruega. Os últimos dados da Oficina Central Palestina de Estatísticas mostram que só 14,7% das mulheres estão no mercado de trabalho.

"Na maioria dos outros países, é muito superior. Nos países escandinavos, é entre 70% e 80%, por exemplo", diz Pedersen, que é coautor de um estudo exaustivo de uma década atrás sobre a demografia de Gaza. Inclusive em outros países do Oriente Médio com culturas similares a Gaza, as proporções das mulheres que trabalham fora de casa são significativamente maiores. Na Jordânia, por exemplo, 16% das mulheres estão empregadas.

Os dados do Index Mundi mostram que a taxa de fecundidade em Gaza, de 4,4 filhos por mulher, se encontra entre as mais altas do mundo. Isso tem diminuído de maneira constante desde um máximo de 8,3 filhos por mulher em 1991. Mas mesmo assim é elevado para os dias de hoje, se compararmos com uma taxa de 3 filhos por mulher em Israel, ainda que a taxa global chegue a cerca de 6 entre os judeus estritamente ortodoxos. Na maioria dos países europeus, a taxa é de 2.

O segundo fator que contribui à alta taxa de fecundidade é o fato de que enquanto as mulheres estão confinadas dentro de casa, seus maridos ganham mais dinheiro se sua família se expande. "É que os empregadores estão dispostos a pagar", diz Pedersen. "Tradicionalmente os homens recebem salários adicionais se têm muitos filhos."

Nenhum vínculo com a educação

Um quebra-cabeças, no entanto, é por que tantas mulheres de Gaza – especialmente aquelas que têm uma boa educação – optam por ter famílias numerosas ao invés de seguir uma carreira. Na maioria dos países, a taxa de natalidade geralmente está ligada a uma melhor educação e mais oportunidades de emprego para as mulheres, mas em Gaza não se segue este padrão.

Um estudo publicado em 2006 mostrou que apesar do alto rendimento educativo entre as mulheres de Gaza – todas têm ao menos o nono grau de escolaridade – e as taxas de mortalidade relativamente baixas – 25 por mil nascimentos –, a maioria das mulheres opta pelo matrimônio e a família como destino para suas vidas. Durante o levantamento da Intifada que começou em 1987, a investigação mostrou que houve um aumento nas taxas de matrimônio, com muitas mulheres com alta educação, que se casavam com homens que tinham menor educação.

"As mulheres palestinas estão tendo muitos filhos, apesar de elas saberem sobre os anticoncepcionais, e poderem ter acesso a isso", diz Sara Randall, antropóloga da Universidade College de Londres, que é coautora da investigação de 2006. "De modo que a mulher tem que concluir se realmente quer ter muitos filhos."

Chamada às armas

O estudo de Randall, que entrevistou 16.204 mulheres de Gaza e 4.900 mulheres jordanas para um estudo comparativo, chegou à conclusão de que a Intifada foi um fator impulsor chave para o aumento do matrimônio e da fertilidade. Nos anos da Intifada de 1989 e 1990, por exemplo, as mulheres se casaram 1,4 vezes mais do que em 1980. A taxa durante a Intifada foi ainda maior, o dobro de 1980, para as mulheres com maior nível educativo.

"É evidente que os níveis extraordinariamente altos de fertilidade em Gaza são também uma resposta a mais longo prazo à opressão política e se percebe a necessidade de aumentar o número de palestinos, algo que não se pode deduzir a partir dos dados disponíveis, mas certamente parece ser uma hipótese plausível", conclui o estudo de Rendall.

"Em uma situação na que a falta de poder, o subemprego e a marginalização deixaram poucas oportunidades para a expressão da identidade, a reprodução é uma das poucas liberdades que seguem tendo, o qual também contribui ao objetivo mais geral de aumentar a população palestina", diz.

Fonte: New Scientist. Traduzido do inglês para o espanhol por CubaDebate e do espanhol para o português pelo Diário Liberdade.


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