Em quase todos os casos, o fim das respectivas comunidades lingüísticas está próximo, com o fim da derradeira geraçom de falantes. Em quase todos os casos, quase ninguém tinha dado atençom a umhas realidades com tanto em comum com a Galiza... a começar pola língua.
Com umha já longa trajectória de entusiasta apoiante da causa reintegracionista, o João Aveledo nasceu na Corunha em 1964, filho de mestres e neto de labregos. Define-se como "Bichólogo e boticário (sem botica)", mas trabalha como professor de Processos de Diagnóstico Clínico, além do seu meritório labor como poeta e colaborador do periódico Novas da Galiza.
Com ele conversamos sobre Entre Línguas, que se encontra em plena fase de promoçom e apresentaçom, um pouco por toda a Galiza.
Diário Liberdade – Achas que correspondeu o resultado do trabalho que figestes com a vossa tese de partida?
João Aveledo - Com efeito, nós partimos da tese de que os dialectos de origem galego-portuguesa ou, entom, portugueses, raianos por contacto com o espanhol, iam dar uns resultados, tanto do ponto de vista lingüístico, quanto sociolingüístico, que iriam ser muito semelhantes àquilo que nós estamos afeitos a ouvir na Galiza.
Achamos que sim, que essa tesse foi ratificada. Para nós foi umha enorme surpresa comprovarmos como falavam pessoas de Calabor, ou Ferreira de Alcántara... escuitar, por exemplo, gheadas, em praticamente todos estes territórios. Fenómenos lingüísticos que tínhamos por exclusivamente galegos ocorrem em províncias tam distantes como Cáceres, Salamanca, Badajoz...
DL - Isso nom coincide com a versom oficial...
Realmente, na Galiza só está a ser estudado um desses territórios: o de Xalma. É a variante falada nessa regiom que a versom oficial di ser “galego” ou “galego da Extremadura” [espanhola]. Quanto às restantes, preferem obviá-las, pois entrariam em demasiadas contradiçons, quando os próprios falantes de, por exemplo, Almedilha, afirmam que falam português. No Xalma, sendo um português de feiçom mais arcaica, que o aproxima do galego, e por nom haver nos falantes umha consciência lingüistica clara de que é o que falam, entom aí sim, pudo mesmo ser armada umha teoria para tentar explicar umha alegada “origem galega”.
DL - Mas, entom, afinal, o que é que falam nesses territórios?
Falam basicamente português, com um maior ou menor grau de hibridaçom, em funçom da história particular de cada um desses lugares. Assim, é óbvio que o Casalinho, fundado no século XVIII por portugueses e que tinha muito contacto com Portugal (até há pouco que foi construída umha barragem), aí fala-se um português mais standar; ou noutras localidades raianas da área de Alcántara, fundadas por portugueses, algumhas no século XX, onde as pessoas ainda se consideram alentejanas.
Ora, noutros lugares, cuja separaçom de Portugal tem umha origem mais antiga, ou inclusive na própria Olivença, que há dous séculos que passou a ser “espanhola”, mas onde o processo de castelhanizaçom foi brutal, ou Ferreira de Alcántara, Almedilha, Calabor... a proximidade fonética e lexical com as falas galegas é incrível.
DL - Além do parecido lingüístico, existem parecidos sociolingüísticos, quer nos comportamentos, quer na auto-estima?
Sem dúvida. Como aqui, lá existe o auto-ódio, ainda mais marcado, por carecerem de qualquer referência de tipo identitário-nacional. Na escola, simplesmente dixérom-lhes que falavam um “chapurreado” e eles próprios o denominam assim em ocasions. Nom tenhem consciência lingüística: dim que falam um “chapurrao”, um “dialecto” que nom sabem o que é, e para o explicarem inventam-se por vezes as teorias mais estranhas...
Como aqui, nessas regions está a produzir-se um corte na transmissom da língua de pais a filhos. Deparamos com casos de numha mesma família onde uns irmaos sabiam falar português e outros, os mais novos, já só tinham aprendido o castelhano.
A escola, como na Galiza, é um factor determinante. Primeiro as pessoas fôrom educadas numha segunda língua, o castelhano, para depois essas mesmas pessoas já só transmitirem esse idioma, e nom o próprio, aos seus filhos, em funçom do prestígio social de aquele.
DL - Como está a ser acolhido o vosso trabalho? Qual a distribuiçom?
Levamos quatro apresentaçons. A recepçom está a ser boa, mas estamos ainda na fase inicial, pois há menos de um mês que o documentário está editado. Nos próximos meses temos bastantes apresentaçons à nossa frente pola Galiza, nalguns desses territórios e algumha também em Portugal, como na Universidade do Minho, em Braga. A partir daí veremos, mas de partida já foi pré-seleccionado para um festival de cinema em Ourense e está a ser distribuído nos centros sociais da Galiza, assim como polas principais livrarias do País. Também figemos envios às terras que protagonizam o trabalho, para que tenham conhecimento do resultado da sua colaboraçom.
DL - Para concluir, tendes novos projectos como colectivo GLU-GLU?
Temos, mas nom pode adiantar-se mais, a nom ser que a língua terá presença, quer expressa, quer como transfundo. Estamos no processo de documentaçom e discussom prévia do que poderá vir a ser um novo trabalho, por isso ainda é cedo para dar pormenores.
Entre Línguas (2009)
Realizaçom: João Aveledo, Eduardo Maragoto e Vanessa Vila Verde.
Duraçom: 30 minutos (mais um segundo dvd de extras)
Legendas: português e espanhol
Extras
Entre Línguas Documentos: Olivença, Alcântara, Xalma, Almedilha, Calabor, Entrevista com Henrique costas.
Montagem
Ramiro Ledo
Design
Manuel Pintor
Montagem Extras
Heitor Barandela
Música
"De la vida de les piedres" Diariu 2, Nacho Vegas e Ramón Lluis Bande; "Olhar quem passa" Contarolando, João Filipe