Ocuparam o quartel do Centro sexta-feira (3) pelas 19:30, em protesto pelo seu salário de 950 R$ - o pior salário no país, sem vale transporte. Após uma passeata nas principais ruas do Centro, na que participaram milhares, ocuparam o quartel, onde permaneceram ininterrompidamente desde então. Até às 6:10 horas de ontem.
Essa manhã as autoridades, com o governador Sérgio Cabral à cabeça decidiram-se pela atuação da tropa de Choque da Polícia Militar e do BOPE, que invadiram o quartel do Centro para despejar os e as manifestantes. Visto que com palavras não renunciavam às suas reclamações, o governador tentou fazer as 2.000 pessoas concentradas renunciarem através força. Foram detidas 439 pessoas.
Cabral não mostrou esta manhã uma atitude muito receptiva: "Não há negociação com vândalos, eu não negocio com vândalos, eles responderão administrativa e criminalmente". E ponto.
As autoridades chegaram a dizer que as e os bombeiros estavam armados. No entanto, o sargento Monteiro, preso, dizia hoje para a mídia comercial que após a invasão do BOPE "encontrámos cápsulas de fuzil. Bombeiro não usa esse tipo de arma".
A promotoria informou que as 439 pessoas presas serão acusadas de motim, dano e impedimento ao socorro, punido o motim pelo Código Penal Militar com 4 a 8 anos de prisão, 1 a 6 anos o crime de dano e de 3 a 6 anos de prisão o impedimento ao socorro.
Isto é o que Sérgio Cabral chama de resolver um conflito trabalhista.
Crianças intoxicadas pela polícia, aborto e maus tratos
Uma mulher gestante abortou como consequência da brutal atuação policial. As pessoas detidas também relatavam maus tratos durante a sua detenção: "Estamos há mais de dez horas sem comer" – assegurou o sargento Monteiro para a mídia comercial.
"Ficamos encurralados pelos ataques do BOPE e do Batalhão de Choque. Tive que correr como se fosse um bandido. Muitas crianças chegaram a ficar sufocadas". Porém, a mídia comercial não confirma mais do que "pelo menos duas crianças" intoxicadas pelas bombas de moral e lacrimogênias da PM de Choque e do BOPE.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) confirmou irregularidades (ao menos uma) nas 439 detenções. Polícia não está permitindo acesso às pessoas detidas.
Queriam um salário digno, receberam o insulto de Cabral
"Nós temos o pior salário da categoria no país, que é de R$ 950. Estamos há dois meses tentando negociar com o governo, mas até agora não obtivemos resposta. Nosso movimento é de paz e estamos em busca da dignidade. Não vamos recuar até que haja uma solução. Queremos um acordo, queremos que o governador se pronuncie" – disse Benvenuto Daciolo, porta-voz da manifestação.
A visão de Sérgio Cabral, é que o corpo tem "recebido um apoio jamais visto nas últimas quatro décadas." Ainda, para o arrogante governador do Rio, querer e agir na procura de melhores condições trabalhistas converte as e os bombeiros em "vândalos, irresponsáveis, que não irão de forma alguma prejudicar a imagem de uma instituição tão respeitada e querida pelo povo do Rio de Janeiro."
Atos de apoio domingo e segunda-feira
Há já uma convocatória para um ato de apoio às e aos bombeiros presos para hoje domingo às 9:00 horas, na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro - Alerj. Para segunda-feira, a concentração de apoio foi marcada para as 12:00 no mesmo local.
Foto: Imagem da TV na noite na que bombeiras e bombeiros ocuparam o quartel.