É a visão de um cientista (colaboraram na obra Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino) que frequentou o espectro político da direita em seu país, a Itália. O que Bobbio chama de “direitos sociais”, na visão dele, incorpora-se ao que define como “Estado Contemporâneo”.
O ex-presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, num dos mais célebres discursos que pronunciou (Roosevelt foi eleito em quatro pleitos sucessivos e só após sua morte a lei nos EUA foi modificada permitindo apenas uma reeleição) fala dos direitos fundamentais para que se possa construir a nação de forma justa para todos os seus cidadãos. Educação, saúde, moradia, emprego, segurança, cita a expressão dignidade referindo-se ao ser humano. Nos EUA, Roosevelt foi eleito pela primeira vez em 1932 e os norte-americanos ainda juntavam o que poderia ser salvo dos escombros da crise de 1929.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, subscrita, entre outros pelo Brasil, EUA, assegura os direitos básicos das pessoas.
Não há exagero e nem é uma expressão de linguagem referir-se aos EUA e a Israel como conglomerados terroristas. Um general norte-americano, escapa-me o nome, fala que “terrorista é quem perde”.
O mundo neoliberal é o fim do conceito de nação. Povo, território, língua, tradições, soberania e governo, em linhas gerais. O deus mercado introduziu o mundo dos conglomerados. Das grandes empresas, do terrorismo que se vê em Guantánamo, na farsa das armas químicas e biológicas no Iraque (para justificar o controle do petróleo).
Essa forma de ver o mundo pode ser entendida na frase de Madeleine Albright, secretária de Estado do governo Clinton, quando respondia a um repórter sobre o custo em vidas do bloqueio imposto ao Iraque por seu país. Duzentas mil crianças mortas à míngua de alimentos, remédios, condições primeiras de vida no geral.
“É o preço que se paga pela democracia”.
Albright enterrou ali outro conceito, o que afirma a democracia como sendo “o governo do povo, pelo povo e para o povo”. E os direitos humanos.
Uma General Motors vale mais que qualquer vida humana, que milhões de vidas humanas. E assim o que Eisenhower, ex-presidente dos EUA e comandante aliado na IIª Grande Guerra, chamou de “complexo militar e industrial”, referindo-se ao que Jânio Quadros, entre nós, chamaria de “forças ocultas (a diferença entre o norte-americano e o brasileiro está só no teor alcoólico).
Foi no rastro dessas constatações que Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo (Editora Contraponto, 1997), conclui que há dois séculos se faz a mesma e “apavorante pergunta”. “Como fazer para que os pobres trabalhem quando a ilusão é desenganada e a força se desagrega?”
“Se o mundo pode enfim proclamar-se oficialmente unificado, é porque essa fusão já se realizara na realidade econômico-política do mundo inteiro. Foi também porque a situação à qual universalmente chegou o poder separado era tão grave, que esse mundo sentiu a necessidade de se unificar rapidamente, de participar de um bloco único da mesma organização consensual do mercado mundial, falsificado e garantido pelo espetáculo.”
“E sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... Ele considera que a ilusão é sagrada, e a verdade é profana. E mais: a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado” (Feuerbach, prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo).
O espetáculo é cruel, perverso, se sustenta em vários tentáculos, dois dos quais, decisivos. A mídia como fator de alienação, de desconstrução do ser e sua coisificação. Os arsenais nucleares, químicos e biológicos, o poder do terror infundido nas guerras da “democracia”.
“O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não vivo” (Guy Debord).
Os egípcios acordaram. Ao cabo de trinta anos de ditadura com todos os ingredientes boçais de uma ditadura, os egípcios, como os tunisianos, os argelinos, os jordanianos, os iemenitas, despertaram.
O povo de Israel começa a despertar do terror do governo nazisionista que dirige o país. Mais de vinte mil manifestantes saíram às ruas para protestar contra a decisão do parlamento, de investigar organizações que defendem os direitos humanos. Direitos humanos em Israel excluem os palestinos, muçulmanos de um modo geral, num preconceito que se estende à mentira tornada sagrada de povo eleito. Ungido.
As ditaduras em países como o Egito foram e são sustentadas pelos norte-americanos. Petróleo e o controle do Oriente Médio, estratégico para os interesses da potência-conglomerado terrorista.
Obama não é diferente de Bush e nem é negro. É apenas disfarce.
Nos primeiros momentos da revolta popular contra o ditador Hosni Mubarak a secretária Hillary Clinton falou em “estabilidade na região”. Riscos de mudanças graves com a saída de Mubarak. Num dado momento o “presidente” virou “ditador” diante do inevitável.
A repressão, não teve como a mídia esconder, alcançou jornalistas estrangeiros e se deu a partir da polícia (sempre) do ditador. Mortos, milhares de feridos, a declaração patética de um sanguinário governante, Mubarak, que “estou farto de poder. Não saio para evitar o caos”.
A crise histérica do primeiro-ministro nazisionista de Israel, Benjamin Netanyahu, tentando vincular o Irã à revolta no Egito, advertindo o mundo para a possibilidade de uma revolução islâmica no Egito. Ora, 90% da população egípcia é formada por muçulmanos e seus partidos políticos foram proscritos pelo ditador de joelhos diante dos EUA e de Israel.
Quem se dedicar a pesquisar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, vai encontrar recomendação de Maomé no sentido da paz e da misericórdia, como da necessidade de luta se essa se fizer necessária.
O deputado Kadima Meir Sheetrit, israelense e opositor do terrorismo, disse que a decisão do parlamento de “investigar” organizações de direitos humanos no país “é ofensiva perigosa para o Estado de Israel... e faz do país um dos estados das trevas”.
Hagai Elad, diretor executivo da Associação pelos Direitos Civis afirmou: “Os milhares de pessoas que aqui estão entendem que nossa democracia necessita de proteção contra aqueles que a querem destruir. Somos os porta-vozes de uma voz clara em defesa dos direitos humanos e da democracia e contra o racismo, o macartismo. Continuaremos a lutar pelos valores democráticos, liberdade de expressão, direitos iguais para os cidadãos e fim da ocupação."
O povo de Israel está acordando.
A reação do povo egípcio a um regime ditatorial, submisso a interesses de potência estrangeira (é sempre fácil comprar ditadores, Mubarak não é exceção, até porque é general também cheio de medalhinhas no peito) era previsível.
Não há como manter caladas milhões de vozes submetidas ao terror. Sejam egípcios, sejam israelenses indignados com o genocídio praticado contra palestinos.
O dilema de Obama, seria o de qualquer outro presidente. Obama é igual a Bush na essência, difere no estilo, é como imaginar um Oriente Médio controlado pela vontade popular, ao arrepio da mentira tornada sagrada da “democracia” norte-americana.
A verdade absoluta do mundo dos conglomerados. Bancos, latifundiários e empresários. E a corte burocrática arrastando-se no entorno.
Imposta a ferro e fogo e a um espetáculo aviltante no tentáculo mídia.
A História não se faz num dia. É passo a passo. O capitalismo e o império norte-americano encontraram o clássico beco sem saída. Quanto tempo vai durar a agonia são outros quinhentos.
Mas é a agonia.
O problema no Egito é simples. Fora Mubarak, eleições gerais com participação dos partidos muçulmanos. O Egito para os egípcios.
A propósito, a exceção do manifesto temor do embaixador do Brasil no Cairo com a situação dos brasileiros que lá estão (“estamos vivendo um regime sem leis, a polícia não permitiu à embaixada ajudar os brasileiros”), o Itamaraty não disse uma palavra sobre o assunto que não seja algo vazio e sem sentido.
Há um mês e meio atrás não era assim, o Brasil havia deixado de ser coadjuvante, era protagonista.
É o tal pragmatismo econômico do Estado economicista de Dilma Rousseff. O risco é sair uma nota conjunta Brasil-EUA, quer dizer, EUA-Brasil.
Charge por Carlos Latuff (@CarlosLatuff)