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200316 dinheiroResistir - [Bruno Bertez] Como é possível que haja pessoas ou instituições que compram títulos do Estado ou de grandes sociedades com um rendimento negativo?


Formulamos a pergunta de outro modo a fim de facilitar a compreensão: Como é possível que pessoas ou instituições paguem para possuir títulos emitidos pelo Estado ou por grandes sociedades como a Nestlé? Como é que alguns aceitam ver o seu capital corroer-se?

Primeiro é preciso ter em mente que o que as pessoas ou as instituições intercambiam não é dinheiro (cash), mas sim depósitos bancários. Ao comprar um título com taxa negativa elas procedem a uma troca, trocam um crédito sobre o banco por um crédito sobre um devedor sólido como um governo ou a Nestlé.

Isso significa que elas consideram o governo em causa ou a grande multinacional serem mais seguros, mais solventes, do que o seu banco. Isso é que é preciso ter em mente. Um depósito bancário não é um direito de propriedade clássico, de facto não é tão pouco um depósito e sim um crédito sobre o banco. Um depósito bancário é uma relação com o banco, relação governada pelas leis bancárias e o código monetário. Ora, tudo mudou subrepticiamente. O motivo da mudança é celerado, pois resume-se a isto: em caso de crise, não é preciso que seja o contribuinte a pagar mas sim os clientes dos bancos. Sob o pretexto de proteger o contribuinte, deseja-se de facto fazer com que seja o cliente do banco a pagar. É uma trapaça intelectual, pois estando todo o mundo bancarizado a classe dos contribuintes e a classe dos clientes se sobrepõem. De facto, quando eles dizem "contribuintes" entenda-se o Estado, o governo. Trata-se de proteger o Estado, o governo, de cortar a ligação entre o sistema bancário e os governos para proteger estes últimos.

Se nos acompanham, compreendem que a compra de títulos soberanos ou sólidos com taxas negativa não tem sentido senão se se considera que os depósitos bancários estão ameaçados. Ao comprar estes títulos, toma-se um seguro, é uma cobertura contra um ou vários riscos. Estes riscos são variados, mas ainda assim reais.

Há o risco de tributação sobre os depósitos bancários por parte dos governos. Há o risco de taxas negativas sobre os depósitos impostas pelos bancos como já acontece, sem publicidade, em muitos lugares da Europa. Há o risco de bail-in, ou seja, de bloqueio da sua conta de depósito quando houver dificuldades do banco. E sobretudo, daquele que não se fala, o risco de "corrida". Uma corrida é quando todo o mundo se precipita para o banco a fim de retirar o seu dinheiro. A corrida leva o banco à falência por falta de liquidez e este é o risco, o grande risco oculto do sistema. Este risco é colossal. Para o contrariar, os governos instituíram limites para os montantes de retiradas e limites na periodicidade destas retiradas. Isto protege os bancos, mas transforma seus haveres em haveres não líquidos, isto é, não há mais cash. Num segundo momento, após o bloqueio, vem a amputação, o confisco parcial. [1]

É contra todos estes riscos que os grandes, os ultra-ricos, as instituições, se querem proteger.

jurosE para se protegerem é preciso então tomarem um seguro e para ter um seguro é preciso pagar. Assim, as taxas negativas devem ser interpretadas como um custo, um prémio de seguro que se paga, um sacrifício para melhorar sua segurança.

Quanto mais as taxas se tornarem negativas e quanto mais se generalizarem, mais os seguros serão caros, o que significa que a percepção do risco vai aumentar e se a percepção do risco aumenta então o risco real também aumenta. É uma profecia que se realiza ao ser acreditada, como é frequente em matéria financeira. Nisto os idiotas que governam não pensaram – eles próprios aumentam o risco que pretendem estancar.

As taxas negativas constituem a confissão por parte dos governos e dos bancos centrais de que não só a crise não está acabada como também de que ainda mal começou!

De facto, estamos numa gigantesca armadilha e a verdade obriga a dizer que não há lugar onde se esconder, "no place to hide".

Para fugir ao risco que paira sobre os depósitos bancários, pode-se comprar fundos do Estado, obrigações corporativas, acções, etc. Mas tudo o que se possa comprar está sobrevalorizado. Tudo o que é comprável está em bolha, como se diz. O risco de baixa é colossal, pelo menos de 50%, mas provavelmente de 60% na minha opinião. Portanto, substitui-se por um risco de dedução (prélèvement) talvez não muito importante, ao invés de um risco de amputação de um capital muito maior.

Eles colocaram as pessoas na armadilha, os povos, eis a realidade e é voluntário, é cínico.

Quando se está no modo sem risco (risk-off), ou seja, de medo do risco, vai-se certamente para o cash e os fundos de Estado com os riscos que isso comporta, acima descritos. Quando se está no modo risk-on, apetite pelo risco, vai-se para as acções e suportam-se os riscos de super-avaliação que isso implica.

No universo convencional, quem falar cruamente está tramado.

Os governos brincam connosco de esconde-esconde, mas somos sempre perdedores.

Passa-se tudo como na auto-estrada quando está engarrafada. Quando se descobre um buraco muda-se de fila e acredita-se ir mais rápido que os outros. Alguns minutos mais constata-se que é a fila anterior que circula melhor, torna-se a mudar e assim por diante. Com este comportamento esquece-se que a lei do mercado tudo igualiza, à medida que passa o tempo.

Se fugir do cash, vai-se prejudicar pelas taxas negativas sobre os fundos do Estado, se fugir para os fundos do Estado vai-se prejudicar pelas acções, tudo entramado... no place to hide.

ouroA compra de ouro é um seguro, mas naturalmente tem um custo. Eles fazem tudo o que podem para nos meter medo, para nos dissuadir, portanto para fazer tombar as cotações [NR] , introduzem a volatilidade. E depois nos assustam com as ameaças de requisição, de tributação, de roubo, etc. E o ouro não é muito líquido, é um custo a acrescentar.

Mas a única protecção é sair do universo, do seu universo.
Aconselhamos:
muito cash em sua casa
ouro físico em moedas sem comissão (prime), tipo Kruger ou 50 Pesos mexicanos
fundos do Estado com maturidade curta, três anos por exemplo
organismos de investimento colectivo em valores mobiliários (OPCVM) do imobiliário locativo
imobiliário locativo de pequena superfície em zona urbana
financiar sua própria actividade, sua pequena empresa.

NR
[1] Acerca das manobras do Fed para deprimir a cotação do ouro ver Os manipuladores do ouro , de Paul Craig Roberts
[2] Ambas as situações, amputação e confisco parcial, já se verificaram em Chipre. Ver Pensa que o seu dinheiro está seguro numa conta bancária? Pense bem , de Ellen Brown


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