Em 2015, a independência de Angola completou 40 anos. Foto: Wikimedia Commons (CC BY 2.0)
"Oh Pátria, nunca mais esqueceremos os heróis do 4 de fevereiro/ Oh Pátria nós cumprimentamos a seus filhos que caíram por nossa independência", reza uma das estrofes do hino angolano recordada pelo presidente José Eduardo dos Santos em sua mensagem à nação, em ocasião dos 40 anos da independência (11 de novembro).
Em sua intervenção, Dos Santos reconheceu que a emancipação não foi entregue de bandeja de prata, mas conquistada "com suor e sacrifício, através de uma luta difícil e muito corajosa em que se envolveram várias gerações durante a tentativa de ocupação colonial efetiva de Angola por Portugal".
Detalhou que representantes do monarca português chegaram ao reino do Congo em 1482 e, em sucessivas missões, estabeleceram relações de amizade e cooperação com benefícios recíprocos para as duas partes durante quase 100 anos.
Logo Portugal modificou unilateralmente sua política e iniciou pela força a ocupação de territórios do reino e de outros soberanos vizinhos.
Nessa zona começaram a extrair recursos naturais, a ocupar terras, a estabelecer cidadãos lusos e a iniciar um negócio muito lucrativo com o comércio de escravos, os quais eram transportados em navio para o Brasil e outros lugares do continente americano.
Segundo historiadores, dos aproximadamente quatro milhões de escravos levados da África para o Brasil, a metade saíram de Angola.
Por isso, indicou Dos Santos, essa deve ser a principal razão pela qual a população de Angola não é mais numerosa, pois se supõe que atualmente excede os 50 milhões de habitantes, em vez de aproximadamente 26 milhões.
O chefe de Estado chamou a não esquecer que a arma mais perigosa usada contra os angolanos foi a divisão de suas filas. Os colonialistas recorreram ao tribalismo, racismo, regionalismo e a intriga de todo tipo.
Após a II Guerra Mundial surgiram em Angola intelectuais e quadros com conhecimentos teóricos e visão estratégica que permitiram apresentar as bases para criar partidos políticos e movimentos de libertação nacional.
Em sua extensa fala, Duas Santos reiterou que no dia 11 de novembro de 1975 o presidente Agostinho Neto promulgou o nascimento da República Popular de Angola (atualmente República de Angola), e a paz se somou de forma tênue com tal proclamação.
Argumentou que depois de se derrubar a autoridade colonial portuguesa, o Movimento Popular da Libertação de Angola (MPLA) aflora como o mais importante dos três movimentos independentistas nacionais.
No entanto o frágil pacto tripartite que regia entre eles se avariou depois do MPLA se fazer cargo do governo e portanto do controle de Luanda.
De imediato esse grupo viu-se envolvido em uma guerra civil contra a Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA), de tendência de direita e sob a liderança de Holden Roberto, e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), de Jonas Savimbi.
Tanto o FNLA como a Unita, que controlavam o centro e sul do país, recebiam apoio de potências ocidentais e seus aliados regionais de Zaire e África do Sul.
Nesse contexto perpetra-se a invasão sul-africana a Angola e o MPLA solicita a ajuda de Cuba e a outrora União Soviética para enfrentar a agressão. As tropas internacionalistas cubanas mantiveram-se no país até 1991.
Depois de escabrosas negociações, a fins de maio desse ano atingiu-se um acordo político que presumiu o cessar das hostilidades e a celebração de eleições gerais em 1992.
Participaram na consulta 18 partidos políticos, não obstante a rivalidade nas urnas centrava-se entre o MPLA e a Unita.
O Movimento ganhou a maioria parlamentar e as presidenciais, com o aval da maioria dos observadores internacionais, quem qualificaram as eleições de livres e justos.
Essa vitória empurrada pela ambição de poder de Savimbi, quem não aceitou os resultados eleitorais, ao invocar negligencia e fraude generalizada, e determinou retomar a guerra.
Para novembro de 1994, com a mediação do presidente sul-africano, Nelson Mandela, chegou-se aos Acordos de Lusaka que realmente se puseram em marcha oito anos mais tarde, depois da morte de Savimbi, em 22 de fevereiro de 2002.
Dois meses depois se estampa a almejada concórdia e o Governo começa a implementar uma série de políticas públicas que favorecem o avanço social dos angolanos.
Com respeito a estas quatro décadas de emancipação, o reconhecido escritor angolano António Gonçalves valorizou sete conquistas importantes para Angola. Em primeiro lugar menciona que o país segue sendo livre e inseparável de Cabinda a Cunene.
Destaca como segunda a sã convivência entre os 13 idiomas nacionais mais representativos e o uso da língua oficial (o português).
Considera uma terceira conquista a segurança das pessoas e sua circulação por todo o território nacional que se ganhou em maior medida depois da assinatura dos acordos de paz em 4 de abril de 2002.
Um quarto resultado de suma importância, agrega o também poeta, foi a capacitação e formação dos cidadãos, como supôs Neto e continuou depois, Dos Santos.
Gonçalves assinala como quinto avanço a adoção da nova Constituição em 2010 que conduziu ao país a um sistema presidencial.
A sexta, de suma importância para os angolanos, é que pode ser realizado de forma regular o exercício da cidadania, que consiste na eleição de seus líderes por votação secreta.
O literato está convencido que uma sétima e última grande conquista da nação foi sua afirmação na área internacional com voz independente.
Este lucro teve expressão notória ao Angola assumir em janeiro de 2014 a presidência da Conferência Regional dos Grandes Lagos e por segunda vez ser eleita membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De acordo com autoridades, o país intensifica esforços para fazer do Conselho uma entidade mais eficiente e equilibrada.
Tenta garantir a promoção do diálogo entre as civilizações como elemento essencial para a harmonia, o respeito pela diferença entre os povos e a prevenção de crise.
A 40 anos de sua independência, Angola exibe orgulhosamente a paz como a maior de suas riquezas.