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david harveyAmérica Latina - Andes - [Tradução do Diário Liberdade] O professor inglês David Harvey voltou ao Equador. Lançou um novo livro, advertiu sobre as contradições do capitalismo, e opinou sobre o "modelo Correa" que transcende fronteiras.


Em entrevista à Andes, disse que a América Latina está dando um exemplo ao tratar de reverter os piores aspectos do neoliberalismo, e anunciou que "deveria-se inventar um modo no qual haja valores, em que não se busque o lucro, em que se possa viver uma vida decente e tenhamos um ambiente diferente".

Por que o fim do capitalismo?

Porque creio que há muitos sinais que indicam que o capitalismo está um pouco fora de tempo e de espaço, o que impossibilita que siga se expandindo. O capitalismo é um sistema que, ou cresce, ou morre. As possibilidades de crescimento estão cada vez mais e mais limitadas. Agora o capitalismo está estabelecido em todo o mundo, e não posso imaginar um crescimento maior a 3% baseado no que existe hoje.

O que o motivou a escrever este livro em particular?

É parte de uma grande sequência que vem se desenvolvendo por 10 ou 15 anos. Queria que ficasse claro que uma análise baseada na teoria de Marx pode ser muito útil e pode ajudar a entender o que acontece atualmente na sociedade. De modo que parte da minha missão era deixar claro o que Marx realmente disse, dado que houve muitos mal-entendidos a esse respeito, e demonstrar que se leva em conta o que realmente disse e a forma em que o disse, então é muito útil e podemos entender por que temos estagnação, por que temos desigualdade social, por que temos desemprego, e também tanto dano ambiental.

O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, disse: 'O neoliberalismo é um arcaísmo que estamos jogando na lixeira da história'. O que você acha disso?

Bom, o capitalismo tomou muitas formas ao longo da história. Desde os anos setenta veio mudando seu modus operandi. Algumas personalidades-chave, como Pinochet no Chile, se viram imersas em uma forma neoliberal que tem características muito específicas, e muitas destas características são, por exemplo, a redução dos salários, que recaem especialmente sobre as classes baixas, enquanto que as classes altas ficam mais e mais ricas. Então, posso entender muito bem por que muitos movimentos ao redor do mundo bucam sair desta específica forma neoliberal de fazer política. A América Latina, em geral, está dando um exemplo ao tratar de reverter alguns dos piores aspectos do neoliberalismo. Agora, a pergunta é: o problema é o neoliberalismo ou é o capitalismo em todas as suas formas?

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Alguns líderes estão falando do modelo de [Rafael] Correa. Você conhece esse modelo? O que acha dele?

Sim, claro. Sobre o governo equatoriano, acredito que não é único. Há algumas semelhanças com o que está se fazendo na Bolívia, o que está se tentando fazer na Venezuela, o que está acontecendo no Brasil, ou na Argentina, que se trata de sair desta forma neoliberal e tentar redistribuir as riquezas entre a massa populacional, e se observarmos os dados podemos ver que aqui no Equador diminuiu a desigualdade social, e algo parecido está acontecendo na Bolívia, se está investindo muito mais nos campos da educação e da saúde e em muitos serviços sociais desse tipo.

As infraestruturas melhoraram, estradas foram construídas. Se está tentando distribuir as riquezas, e esse não tem sido o caso de muitos países na Europa e na América do Norte. Então, há aqui um modelo diferente. Além disso, no Equador existe um problema muito específico, que constitui uma contradição no fato de que para poder executar tudo isso, é preciso explorar o petróleo e atualmente há uma lei que busca proteger a mãe natureza. Como lidar com esta contradição é uma das perguntas-chave agora.

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O presidente Correa tem falado sobre privilegiar os direitos das pessoas diante do capital. Você concorda?

Acredito que há aqui um princípio muito importante, eu trabalhei muito com esta organização, e aqui vem um dos slogans: Queremos as cidades para os lucros ou as cidades para as pessoas? E acredito que alguém que está tentando reformar ou se distanciar do neoliberalismo tentará criar um país para as pessoas e não para o capital. Mas acredito que isso é algo difícil de conseguir, já que o capital é necessário para conseguir coisas e para poder entregar bens para a população.

Se o capitalismo está com seus dias contados e o neoliberalismo também, qual é a situação em que nos encontramos?

Para ser honesto, não estou muito seguro. Mas se vivêssemos no século XV e alguém nos perguntasse "como é o capitalismo?" não teríamos ideia de como responder isso e, na verdade, não acredito que essa resposta esteja clara. Bom, agora creio que devamos nos distanciar de uma sociedade que se baseia em jogos monetários e que quer comercializar tudo, e começar a pensar realmente em construir um mundo no qual as pessoas tenham acesso às coisas que são necessárias para viver uma vida decente. Por exemplo, recentemente nos Estados Unidos vimos como deixaram 6 milhões de pessoas sem moradia por não terem como pagá-las, e todo o mundo tem direito a uma casa e a um ambiente decente. Deveria-se inventar um mundo no qual haja valores, em que não se busque o lucro, no qual se possa viver uma vida decente e tenhamos um ambiente diferente.

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O livro

As "17 contradições e o fim do capitalismo" aborda as contradições do capital, que o autor classifica em "fundamentais, mutantes e perigosas", e as considera "essenciais para explicar a reprodução social das sociedades atuais".

É de máximo interesse para quem deseja aprofundar na compreensão e lógica do capitalismo e suas contradições, "excelente mapa, necessário esquema para organizar a luta de classes no século XXI e a revolta global, regional e local contra a lógica do capital e as formas de exploração e dominação, que oferecem a 99% da população do planeta um presente de crise e de desastre social e um futuro de desolação e caos sistêmico. E talvez para desenhar a superação definitiva do capitalismo".


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