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IC canecão chicobuarqueGaliza - Quilombo Noroeste - Hoje trazemos um artigo diferente. Sempre postamos trabalhos de brasileiros/portugueses sobre o galego. Hoje, trabalho de um galego sobre a variedade brasileira da nossa língua. Porque a cultura brasileira também interessa na Galiza! Artigo de Diego Bernal Rico, professor de português na EOI em Plasencia e professor-leitor de galego na UERJ (2011-13).


O Canecão foi uma das mais importantes salas de concertos do Rio de Janeiro. Por ela passaram artistas fundamentais da música brasileira como Elis Regina, Tom Jobin, Vinícius de Morais, Chico Buarque, Cazuza ou Legião Urbana.

O nome de Canecão deve-se a que o local foi concebido originalmente como uma grande cervejaria no conhecido bairro de Botafogo. Caneca designa em galego-português um copo com asa para beber líquidos e a terminação –ão, habitual sufixo aumentativo, tem no português brasileiro uma produtividade extraordinária, bem superior à das variedades lusitana e galega da língua portuguesa.

Assim na liga de futebol brasileira, o brasileirão, jogam equipas como o fogão –Botafogo- e o mengão -Flamengo. Quem não gostar de futebol sempre pode ver O domingão do Faustão, popular programa da TV. Eu, na verdade, recomendaria o corujão, sessão em que passam filmes de madrugada.

As altas temperaturas do Rio de Janeiro fazem com que seja habitual a comida de rua: tapioca, acarajé, cuscuz doce, pamonha, curau… são algumas das iguarias típicas que podem ser consumidas em plena calçada carioca. Calçada é no Brasil qualquer passeio, daí não confundir com o calçadão pois este só é o da orla de Copacabana ou Ipanema.

Calado 2

Quem preferir comer hambúrguer ou cachorro quente é só ir no podrão, nome popular com que são conhecidos estes postos na rua. Para beber pode ser um latão geladão–lata grande bem fresquinha- ou um litrão -garrafa de um litro- de cerveja. Saudades de uma boa empada galega? É só enfiar numa padaria e pedir um empadão –em Portugal seriam as típicas bolas da Guarda. Quanto à sobremesa, recomendo um churrão, nome das farturas no Brasil, recheado de doce de leite com coco e coberto de açúcar com canela. Estás de dieta? vá no sacolão, comprar uma frutinha. Ora bem, almoço universitário é no bandejão, local onde servem refeições muito económicas. Calma! Arroz e feijão não há de faltar. Onde também há bandejão é no brizolão, escolas desenhadas por Oscar Niemeyer concebidas para seguirem a pedagogia de Darcy Ribeiro e que levam o nome do político que as impulsionou, o polémico Leonel Brizola. Brizola, ainda que nunca foi militante do partidão –o partido comunista- foi um político progressista que lutou contra a ditadura militar de 1964.

Para voltar a casa pode-se ir de busão. Se for a hora do pico vai ser mais desconfortável do que ir no camburão da polícia e por isso é recomendável pagar um pouquinho mais e usar o frescão, autocarro com ar condicionado e poltronas confortáveis. De resto, para veículos assustadores já temos o caveirão da BOPE.

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Se for feriadão, com dias de folga pela frente, sair da cidade e fazer um mochilão para ficar um tempão na região serrana do Rio de Janeiro, é uma boa opção.

A lista seria longa de mais pois como dissemos ao princípio este sufixo virou uma rica fonte de inovações lexicais privativas do português americano. Assim o fato-macaco do português europeu vira macacão na outra beira do Atlântico, um graffiti é uma pichação, um rojão é um foguete usado nas festas ou nos protestos para fazer barulho e o lugar aonde vai parar todo o lixo da cidade é o lixão.

Noutras ocasiões as palavras respondem a realidades exclusivas do Brasil. Orelhão é a cabine telefónica no Brasil, que tem forma de orelha grande; o minhocão é um prédio-favela vertical do Rio de Janeiro; o mergulhão um túnel que há no centro da cidade e arrastão uma tática de roubo urbano que surgiu na praia de Copacabana na década de 80.

A gíria não podia ficar à margem desta terminação. Ferradão é alguém que tem problemas, doidão alguém que está sob os efeitos de drogas e chapadão alguém que fumou maconha.

É bom sublinhar que a pronúncia do –ão em português está sujeito a muita variação. Lembremos que na área metropolitana do Porto, a segunda cidade mais povoada de Portugal, é pronunciada –om/-am, tal e como era no galego-português arcaico. O famoso mercado do Bulhão é Bulhom e o estádio do Dragão, Dragom. Esta é a pronúncia típica da área originária do galego-português e a que se mantém na Galiza e no norte de Portugal.

Por último, para se despedir, a melhor saudação no Brasil é sempre um abração.


Imagens: 1. Sala Canecão no Rio de Janeiro, 2. Calçadão de Copacabana 3. Caveirão da BOPE. 

 

 


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