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170210_velasco.jpgGalizalivre - Carlos F. Velasco fai parte de umha fornada de historiadores que tenhem investigado muito o nosso passado mais recente, o nosso passado mais esquecido.

 


O agrarismo e a IIª República, mas também o nacionalismo galego, fôrom alguns dos seus objectos de estudo principais. Docente da Escola Popular Galega, reintegracionista, Carlos F. Velasco falou com nós acerca do movimento operário galego de pré-guerra, achegando dados tam interessantes e desconhecidos como o de que só Catalunha tinha mais mulheres assalariadas na península do que a Galiza.

 

Tens reivindicado em vários ocasions a necessidade de o movimento popular galego de hoje recuperar também as figuras do movimento operário e fazê-las suas. Como é que hoje em dia se conhece à maioria dos vultos do galeguismo mas nom a gente tam importante para o país como Heráclito Botana?

A razom está em que a cultura política maioritária do nacionalismo do pós-guerra (a da UPG-BNG, essencialmente, mas nom só) nom reconhece como própria a tradiçom do movimento operário e popular. Só considera como precedente o galeguismo organizado em torno ao PG. Eu acho isto um grave erro, levando em conta que desde a década de mil novecentos e setenta o sindicalismo constitui um dos mais firmes alicerces do nosso nacionalismo, sem o qual este nem teria sentido.

Ora, este esquecimento tem feito com que a cultura política do nacionalismo galego se prreocupasse de publicitar e transmitir a memória dos seus mártires e representantes políticos mais destacados durante a II República e a época das Irmandades, mas só a deles, precisamente por considerar os personagens mais destacados das outras tradiços como alheios. Se acrescentamos a isto o peso que a cultura nacionalista tivo no âmbito da criaçom literária, o do professorado de ensino meio e superior, etc. como transmissores dessa visom, podemos compreender o que estou a dizer. Ainda mais: se bem que durante as comemoraçons em torno ao Ano da Memória a visom de conjunto foi mais equilibrada, em muitas ocasions as iniciativas reivindicativas da honra dos nossos mártires apresentam umha deformaçom de classe muito evidente, focando a sua atençom em gentes do âmbito intelectual e galeguista, muito mais que em operários, labregos, marinheiros (e mesmo galeguistas de base) que fôrom, ao cabo, quem mais padecéroma repressom e quem mais luitárom.

Por isso é que quase nengum instituto, rua, centro cívico ou congostra vicinal leva o nome de dirigentes populares (de gente de ofício manual) e sim o de escritores, intelectuais, etc (nom quero empregar aqui a palavra persoeiros).

Outras lacunas que se estám começando a explorar na histórica contemporânea galega é o importante papel das mulheres. A antropóloga Moreno Feliu critica que se fale da “incorporaçom da mulher ao mundo laboral”, quando levam toda a vida nele. Que papel jogárom as mulheres assalariadas galegas no movimento operário?

É claro que ao falarmos de incorporaçom da mulher ao mundo laboral nos estamos a referir ao âmbito do trabalho assalariado ou extra-doméstico, pois no outro, certamente, levam toda a vida. Devemos especificar sempre isso.

Quanto às assalariadas galegas, relativamente numerosas já no século XIX no sector da conserva e na fábrica de tabacos da Corunha (também na costura e como criadas de servir nas casas dos "señoritos"), na altura da II República eram arredor de 30 000, dous terços das quais na conserva e mais actividades marítimo-pesqueiras (rredeiras, atadeiras...). Galiza era daquela, após a Catalunha industrial, a comunidade espanhola com mais assalariadas. Quanto à sua incorporaçom ao sindicalismo e práticas associativo-reivindicativas, estava a dar bons fruitos antes do golpe de estado, por mais que levasse um considerável atraso a respeito dos seus companheiros homens.

O anarquismo, centrado na Corunha, foi a corrente mais importante no movimento operário galego de pré-guerra. Em certa maneira, isto é bastante peculiar no conjunto do países europeus nom é?

O anarco-sindicalismo tivo bastante força, em geral, nos países menos industrializados da Europa e preferente da órbita Mediterrânea (Itália, Espanha, Portugal) e daí passou para a América Latina. Nem sei se tem isto algo a ver com a idiossincrasia cultural destes povos, diferente das dos centro-europeus e nórdicos, mas aí está. Mesmo umha sociedade tam ponteira em industrializaçom e capitalismo como a catalana gerou um obreirismo genuinamente anarquista.

Galiza nom é um país mediterrâneo, mas a sua inserçom num Estado onde essa cultura era predominante pudo influir...; também o facto da forte presença de um mundo laboral duro, como o da pesca, em que um patronato singularmente rude e bestalhám nom dava lugar a opçons mais moderadas. Finalmente nom perdamos de vista que a carência de espaços democráticos ao longo de quase toda a história da Espanha dificultava muito a emergência de um sindicalismo mais "legalista" que pudesse participar em eleiçons, etc. Aqui, ou era pola brava ou nom era. Contudo nom menosprezemos a importância da corrente socialista (mais UGT) e mesmo da comunista durante os anos trinta.

Que relaçom tivérom os movimentos operários com outro tipo de movimentos associativos (arredor do desporto e da cultura)? Pode-se dizer que fôrom capazes de criar umha cultura própria, de classe?

Efectivamente, o movimento operário foi quem de criar uns espaços de habitabilidade e cultura próprios e diferenciados, arredor dos bairros proletários. Vê-se muito bem no caso da Corunha, com um senfim de círculos culturais, ateneus, escolas, clubes desportivos; e também em Ferrol e Vigo, sobre o que há algum estudo específico. Era, com efeito, umha contra-cultura de classe.

Gostaríamos de que falasses de um facto pouco conhecido. No 1934 muitos galegos participárom na Revoluçom de Astúrias, mas aqui também havia planos insurrecionais?

Em Outubro de 1934 houvo, ao parecer, um par de tentativas insurreccionais de âmbito mais bem local ou comarcal (Ferrol e Monforte). Estám descritas no livro de González Probados O socialismo na II República, Eds. do Castro, 1992. Assim e tudo, o mais rechamante na Galiza foi a relativa amplitude do movimento de greves de solidariedade com Astúrias, com o subsequente saldo de conselhos de guerra e encarceramentos.

Tu és docente da Escola Popular Galega; que papel crês que podem jogar este tipo de iniciativas na recuperaçom da memória histórica?

Podem desempenhar um papel difusor e conscientizador importante. Mas convinha que as sessons nom fossem excessivamente maratonianas, e que se estimulasse ao máximo a participaçom dos assistentes. Parabéns em qualquer caso pola iniciativa.


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