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25164454323 38ebc91c87 zBrasil - Diário Liberdade - A Equipe Clínico Política/RJ é um grupo de terapeutas que desde 2013 trabalha no Projeto Clínicas do Testemunho, uma das ações da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.


Foto de José Roitberg (CC by-nc-nd/2.0/) - Golpistas em Copacabana (RJ) no dia 13 de março.

A equipe trata dos familiares de perseguidos políticos da ditadura de 1964. A intenção de todas as equipes e dos familiares atendidos é de que o projeto seja uma política pública permanente não só para os atingidos pela ditadura, como também os atingidos pela violência de Estado na democracia hoje.

A Equipe Clínico Política/RJ apela aos depoimentos recolhidos das vítimas da ditadura para compreender o que está no palco brasileiro nestes dias e apelam aos coletivos para "dar um outro destino ao atual ‘sentimento de ruptura iminente’" e evitar que abra o "ovo da serpente" do golpismo.

Repetição?

Cumpre lembrar hoje os ensinamentos contidos nas centenas de depoimentos que, como terapeutas do Projeto Clínicas do Testemunho, da Comissão de Anistia, ouvimos de pessoas gravemente afetadas pelo Terror de Estado na época da Ditadura.

São valiosos testemunhos que lançam uma luz de esclarecimento – e também de alerta - diante dos complexos acontecimentos que dominam a vida social e política do país.

Ninguém melhor do que eles, que viveram o horror, para nos advertir sobre as extremas consequências que começam como “atos de exceção” do Estado Democrático de Direito, tal como se insinua hoje. Ninguém melhor do que eles, violentados por um poder acima da lei e da política, para lembrar a todos as diversas formas, sutis ou brutais, com que o Estado de Exceção se inicia.

Sem descuidar do fato de que para alguns setores da sociedade o Estado de Exceção nunca deixou de existir, podemos ver estes sinais:

Quando o Estado ordena a prisão de um cidadão, sem que haja crime nem julgamento.

Quando usa da coerção para interrogar cidadãos.

Quando os retira forçadamente, sem mandado, dos seus lares e famílias.

Quando há conluio entre os poderes institucionais dos políticos, do sistema jurídico e dos meios de comunicação.

Quando os discursos públicos começam a ser ameaçadores e anunciadores do pior.

Quando este efeito terrorista se irradia de forma instantânea.

Quando fica claro que não se trata -- quando falamos dos indícios do Estado de Exceção -- de estar dentro ou fora

da Lei constitucional – sem garantia dos direitos da cidadania – mas de estar fora do Estado Democrático de

Direito – sem as garantias dos direitos fundamentais do ser humano.

Quando aparece um discurso moral totalitário disposto a apontar os condenados da vez (além dos de sempre, é claro), como acontece hoje com o descortinamento da corrupção, que sempre houve. Só que agora, os lucros políticos das denuncias purificadoras são oferecidos como bandeiras – financiadas, como sempre foram, pelo poder econômico das corporações – para a mobilização da massa e a formação de consensos, que se definem mais pelo inimigo comum que recortam, do que por seus (inexistentes) projetos.

Quando, enfim, a multiplicação de abusos e excessos parece anunciar uma ruptura da ordem – chame-se golpe ou qualquer outro nome --, é necessário lembrar os princípios da Justiça de Transição: memória, verdade e justiça e reforma das instituições do Estado. Reformas institucionais para que cessem as violacões e se garanta os direitos constitucionais para todos. Memória para não esquecer que já vivemos sob o Estado de Exceção, mesmo que hoje tenhamos um Estado que reconhece seus crimes (do passado) e se responsabiliza pela reparação. Verdade para ser restabelecida por cima do imaginário produzido pelas grandes mídias, e, Justiça para apontar onde se encontram as verdadeiras chagas da impunidade: nos violadores dos direitos humanos nunca julgados... e não apenas nos corruptos. O chamado ‘caixa dois’ é crime punível e a prática de abuso de poder, prisão mediante sequestro, torturas e assassinatos em nome da lei e da ordem, não?

Cabe aos grandes coletivos dar um outro destino ao atual ‘sentimento de ruptura iminente’. Neste sentido, cabe a pergunta: qual é a metáfora para representar aquilo que advirá? A irrupção do maravilhoso mundo desejado? A ruptura do ‘ovo da serpente’? Ou algum acontecimento outro? Nossa clinica política nos indica apostar no acontecimento e não na repetição.

e-book

Entre outras atividades desenvolvidas, a Equipe Clínico-Política do Rio lançou no final do ano passado um livro sobre a reparação simbólica.


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