Também em 2014 conseguiu um excedente de 8.900 milhões. Estes resultados, em geral apresentados como uma façanha da disciplina das contas germânicas, posta em contraste com o “despesismo” da maioria dos países da União Europeia, não são independentes do facto de a Alemanha ser o principal aspirador da riqueza produzida na União.
De facto, as contas alemãs nem sempre foram excedentárias: em 1995, por exemplo, tinham um défice de 9,4%. O reforço do papel dominante da Alemanha na economia europeia nas últimas décadas foi determinante para a inversão desses valores.
A evolução verificada nos últimos 5 a 6 anos — justamente os anos da crise económica! — é ainda mais significativa. Em 2010 a Alemanha tinha um défice de 4,2% do PIB; em 2011 baixou-o para 1%; e em 2012 e 2013 reduziu-o para 0,1%.
Não admira que o ministro das Finanças Schäuble seja um carrasco implacável das economias mais débeis da União Europeia, como se viu no caso de Grécia e como ainda recentemente se confirmou no caso da fiscalização do Orçamento do Estado português. Ele sabe que o domínio económico (e portanto político) da Alemanha exige a defesa dos capitais germânicos que especulam com as economias da Europa do Sul.
A exigência de “contas sãs”, como repetem os discípulos portugueses do sr. Schäuble, é a garantia de que os rendimentos continuam a chegar à Alemanha em boa ordem.