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1458951082096Brasil - Laboratório Filosófico - [Rafael Silva] O presentíssimo espetáculo político brasileiro, ao contrário do que as telas de TV golpistas mentem, não terá um final feliz com um golpe, mesmo que "branco", isto é, político-jurídico. Em primeiro lugar, porque o que teremos em seguida será algo que atenderá ainda menos pelo nome de democracia, e, em segundo, porque a “morte” em cena aberta dos seus protagonistas, quais sejam, Dilma Rousseff e o PT, apenas deixará o palco livre para atores muito menos virtuosos e muito mais descompromissados com o bem-estar da plateia-povo-brasileira, tais como, Michel Temer e Eduardo Cunha, do PMDB.


Entretanto, não é outro o triste “working process” que o PMDB está produzindo para reestrear centralmente na Broadway política tupiniquim. Tão triste que nem um dos seus maiores roteiristas teve coragem de estar presente na cena-ensaio na qual o partido anunciou que estava abandonando o governo. Temer foi o charlatão-mor que, de um lado, articulou diretamente o abandono do Planalto para chegar enviesadamente à presidência, mas que, de outro, não compareceu ao ato do abandono para não escancarar o fato de que, na verdade, quer nada mais nada menos que a presidência da república, enviesadamente mesmo.

Porém, à plateia que permanece atenta, não é difícil observar o que quer o espetáculo peemedebista com os gritos de “Fora PT” e “Brasil pra frente, Temer presidente” que ecoaram rapidamente na sessão de três minutos realizada na Câmara dos Deputados, dia 29 de abril de 2016, na qual o partido, por aclamação, decidiu abandonar o governo Dilma. Tampouco as palavras de Eliseu Padilha, quais sejam, “temos de ter o partido fora da base do Governo para nos tornarmos um player em 2018” afastam a certeza de que não é o distante 2018 que visa o PMDB, mas esse mesmo 2016 crísico&agonístico.

E o patrocínio intensivo e apressado do PMDB a esse ato crísico&agonístico da “ópera brasilis” outra coisa não busca senão nublar o que disse o líder do PSOL, Ivan Valente, que “não podemos aceitar um impeachment sem argumentos jurídicos da forma como está ocorrendo”. Isso porque, embora o processo de impeachment exista na legislação brasileira, ele não foi concebido para funcionar como arma política. Nas palavras da própria Dilma: “nós estamos discutindo impeachment concreto sem crime de responsabilidade. E impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”.

A declaração da controversa Marina Silva em relação ao desembarque do PMDB do governo tem ao menos a pertinência de relembrar-nos de que o PMDB é o mesmo partido de sempre, que decide romper com o Governo sem dar satisfação à sociedade nem pedir desculpas por ter sido um dos responsáveis pela atual crise. A política em cima do muro de Marina é virtuosa ao menos em sustentar que o PMDB quer apenas “se descolar da crise política e reinventar-se como solução. Continua o mesmo e velho PMDB tentando renascer das cinzas da fogueira que ele ajudou a atear”.

Não obstante, o tiro já saiu pela culatra peemedebista. A ordem do partido para que todos os cargos públicos, inclusive os ministérios da Ciências e Tecnologia, Aviação Civil, Minas e Energia, Agricultura, Saúde e Portos, sejam entregues não foi, nem tem como ser cumprida. Os seis ministros peemedebistas estão dispostos a continuar em seus respectivos cargos no governo de Dilma. Sem dizer que Temer, o articulador do desembarque, não desembarcou nem desembarcará de sua vice-presidência tacitamente acessória.

E para que as contradições peemedebistas não parem por aí, basta dizer que 24 horas depois do espetacular teatro de três minutos do PMDB, o senador Roberto Requião, do mesmo partido!, disse que Temer, na verdade, estava aplicando um golpe no próprio PMDB, pois, segundo o senador, não havia quórum para deliberar a saída do governo Dilma. Sugeriu ainda que era “só conferir nos vídeos”. Talvez por isso tenham escolhido nada claro sistema de aclamação, onde não se apura voto a voto a decisão da maioria. Um grito basta para fazer "democracia" para esse partido.

O PMDB, portanto, está aplicando um duplo golpe: o primeiro, na democracia que outrora ajudou a construir, e o segundo, em si mesmo, rachando-se em peemedebistas que concordam e peemedebistas que discordam do próprio PMDB. Dilma, a protagonista do primeiro golpe, acaba se beneficiando com o segundo. Rousseff, em vez de renunciar, como quer desesperadamente o PMDB, se aferra ainda mais às suas obrigações. Como ela não fez questão de esconder, não renuncia, “não desembarca” em hipótese alguma.

Dilma cancelou inclusive a sua viagem para os Estados Unidos na próxima quinta-feira para não passar temporariamente o comando do país ao seu vice, mentirosamente desembarcado, Temer. Como deixar seu objeto mais precioso, isto é, a nação que governa, nas mãos de um “companheiro” tão vil e tão pouco democrático?

E o tiro que já saiu pela culatra peemedebista findará como um legítimo tiro no pé se, como falou Marco Aurélio Mello, ministro do STF, não houver fato jurídico que respalde o processo de impedimento da presidenta Dilma, pois, nesse caso, “esse processo não se enquadra em figurino legal e transparece como golpe”. O problema, entretanto, é que esse tiro no pé atinge o povo brasileiro, visto que uma das estratégias golpistas é fazer com que a economia nacional, que afeta a todos, acompanhe os mesmos acordes sombrios da crise política que conta com a colaboração espetacular do PMDB.

O conselho de Mello, de que “agora precisamos aguardar o funcionamento das instituições ... precisamos nessa hora de temperança”, parece não fazer parte do contemporâneo ideário peemedebista, que em parcos três minutos, e por razões que nem mesmo dentro do próprio partido encontram eco universal, saiu da cena que ocupa há trinta anos. Cena esta aliás que só está tão desagradável por conta da “coadjuvância” do próprio PMDB.

E agora o partido, esquecendo-se estrategicamente de sua velha e cada vez menos crível fala democrática, covardemente acusa a parceira de cena, Dilma, de ter errado a sua. Mas ela, como bem disse, jamais desembarcará deliberadamente da complexa e nem sempre agradável ópera histórica que no momento protagoniza, qual seja, o governo do Brasil. Bem diferente do PMDB...


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