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agBrasil - O Comuneiro - [Ângelo Novo e Ronaldo Fonseca] O Brasil vive um momento de extrema agudização na luta de classes. Agora você é petralha ou coxinha, não restando nada no meio.


Os juízes do Supremo estão a pontos de chegar a vias de facto, arremessando entre si grossos volumes de Direito. Dessa briga vai resultar o travejamento geral da república brasileira nas próximas décadas, se ela continua sendo democrática e o grau de sua subordinação no sistema imperialista mundial. Não é coisa de somenos, nem batalha a que nos possamos manter alheados. Entretanto, um novo fôlego para o lulismo não pode mais ser a aposta de uma esquerda consciente das suas responsabilidades históricas. É preciso avançar. Mas para avançar é preciso derrotar o golpe em curso e salvar o regime democrático que emergiu do movimento “diretas já!”.

Na Europa, o tempo é também de graves incertezas. O envelhecimento demográfico cria vagas laborais mas não concede oportunidades de ascenção social para os “trabalhadores convidados”, nem para os seus descendentes. O ressentimento social daí resultante é instrumentalizado por fanatismos de origem e sustentação obscuras. Uma profunda crise bancária está latente e cada vez mais exposta. A desconfiança nacional provocada pelos efeitos centrípetos da moeda única agudiza-se, ameaçando tornar-se insuportável.

Capitalismo e democracia não fizeram um casamento natural nem formam um casal harmonioso. Foi um enlace de conveniência, sujeito a muitos acidentes de percurso e que pode bem acabar numa separação tumultuosa. Na primeira parte de um ensaio intitulado ‘Capitalismo, democracia e revolução’, Ângelo Novo remonta aos primórdios do princípio de governo democrático, para fazer o seu contraste com a feição restritiva e distorcida que a chamada democracia representativa adquiriu desde os alvores da sociedade burguesa. Retomar o caminho da soberania popular implica a luta contra o estrangulamento em curso da democracia realmente existente, mas sobretudo, a partir daí, a luta pela reconquista de uma real autodeterminação das classes laboriosas.

O pensamento ecossocialista é uma das referências de O Comuneiro desde que iniciamos a nossa publicação, há mais de dez anos. Neste número, com a generosa permissão da Monthly Review, apresentamos um artigo de John Bellamy Foster sobre ‘Marxismo e Ecologia’, onde se enumeram as raízes inteletuais desta síntese essencial para compreender e meter ombros à transformação do nosso mundo. O artigo de Daniel Tanuro ‘Os esteios do ecossocialismo revolucionário’ propõe-se procurar essas mesmas raízes, concentrando-se antes na história política do século XX e nos dilemas estratégicos da luta social atual. ‘O Bem Comum da Humanidade’ é o conceito proposto por François Houtart para resgatar a natureza das agressões a que tem sido sujeita pelo capitalismo, reintegrando-a numa relação metabólica equilibrada com o labor humano.

Tony Smith, em ‘Inovação vermelha’, desmistifica a ideia corrente de que o capitalismo fomenta o dinamismo e a experimentação, avançando propostas ousadas para, de forma democrática e participativa, se avançar rumo a uma revolução tecnológica verdadeiramente emancipadora. Marcos Barbosa de Oliveira desvenda um curioso movimento pendular no pensamento positivista, entre o progresso e o conservadorismo. Na atualidade, o seu sinal é claramente negativo e a sua persisitente influência na reflexão filosófica e na prática científica deve ser combatida.

Refletindo a partir da constatação do impasse do modelo neodesenvolvimentista trazido para o Brasil pelas administrações do Partido dos Trabalhadores, com a crise económica mundial em fundo, Armando Boito faz a radiografia social dos violentos afrontamentos político-judiciários a que estamos assistindo atualmente. Tempos de rotura e incerteza foram igualmente vividos em Portugal nos anos 1974-75, após o derrube do regime fascista e colonialista. Miguel Judas recorda-nos esses anos, com uma reflexão atual sobre as alianças político-militares que então se fizeram (e as que se perderam).

Sintético e certeiro com sempre, Prabhat Patnaik traz-nos uma reflexão sobre o que é o regime político burguês contemporâneo e como deve a esquerda socialista mover-se no seu seio. Novamente pela mão de João Esteves da Silva, apresentamos por fim mais um ensaio de Jean-Claude Michéa. Em diálogo com o jornalista Jacques Julliard, são revisitados alguns dilemas filosóficos atuais, da vertigem desreferenciadora do liberalismo à possibilidade de um humanismo finalmente à nossa medida.

Agradecemos toda a divulgação possível do conteúdo deste número do O Comuneiro, nomeadamente em listas de correio, portais, blogues ou redes sociais de língua portuguesa. Comentários, críticas, sugestões e propostas de colaboração serão benvindos. Agradeceríamos em particular a ajuda voluntária e graciosa de tradutores.

Os Editores

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

 


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