Numa das suas mais recentes notas no blog que mantém no New York Times, o economista Paul Krugman cita Portugal como o exemplo de um país em que a mobilidade do trabalho, apresentada como “uma coisa boa e um pré-requisito para uma união monetária”, pode ser problemática e ajudar a prejudicar as economias.
“Já disse isto antes, mas vale a pena enfatizar mais uma vez à luz deste relatório do FT sobre a 'tempestade perfeita demográfica' de Portugal”, diz Krugman. “A crise da dívida de Portugal assemelha-se alarmantemente ao gatilho que desencadeia uma espiral de morte económica: uma economia deprimida provoca uma emigração em larga escala de portugueses em idade de trabalho (acompanhada de uma fertilidade baixa), reduzindo a base fiscal, tornando ainda mais difícil a saída da crise. Não é fácil de saber o que isto vai dar, antes de nos vermos a braços com os restos de uma nação de idosos sem recursos para cuidar deles”.
Teoria da Área Monetária Ótima
O exemplo de Portugal aparece num artigo dedicado à discussão económica sobre a teoria da Área Monetária Ótima.
Krugman discute com Robert Mundel, também ele vencedor de um Nobel da Economia, que afirma ser a mobilidade laboral a questão chave : se os trabalhadores se movimentarem de forma livre e ágil de regiões em fase de contração para regiões em expansão, os choques assimétricos entre as regiões tornam-se um problema muito menor. O debate é ampliado a McKinnon e a Kenen. Este último defende que a integração orçamental, ou a falta dela, foi crucial e desempenhou um forte papel no equilíbrio entre regiões em fase de contração, com o pagamento de impostos mais baixos e recebendo benefícios de regiões com melhores condições económicas.
A conclusão de Krugman é que a teoria de Kenen ultrapassa a de Mundell e que, na ausência de uma integração orçamental, a mobilidade laboral deteriora qualquer união monetária, não a melhora.
E conclui Krugman: "o Ato Único Europeu, que era suposto, entre outras coisas, preparar para uma moeda comum" poderá ter interferido na integração orçamental das economias, "criando todo um novo tipo de catástrofe".