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12291249 866602723448851 3222873745262897735 oVenezuela - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] A derrota do chavismo no Bairro 23 de Enero, em Caracas, representou um dos fatores mais impactantes do resultado eleitoral do dia 6 de dezembro.


Comício chavista antes das eleições legislativas. Foto: Alejandro Acosta

Nesse bairro, se encontra o Mausoléu de Hugo Chávez, no Quartel da Montanha, era o distrito eleitoral onde Hugo Chávez votava. Ali começou a tentativa de levante militar do dia 4 de fevereiro de 1992, encabeçada por Hugo Chávez, é o local originário dos principais Coletivos, como La Piedrita, encabeçado por Lina Ron, e o Los Tupamaros. Após o golpe de estado fracassado de 2002, os Coletivos se armaram tanto com o objetivo de enfrentar uma eventual nova tentativa golpista como para servir como fiel da balança em relação às instituições militares formais.

O 23 de Enero foi construído pelo ditador General Marcos Pérez Jiménez. O próprio nome comemora a queda do ditador em 1958. São grandes prédios, que imitam o estilo da antiga União Soviética, onde vivem dezenas de milhares de pessoas.

No 23 de Enero, teve origem o Caracazo de 1989, quando um forte movimento de massas colocou abaixo o governo neoliberal de Carlos Andrés Pérez, dos partidos Ação Democrática e da Democracia Cristã, após ter dobrado os preços dos combustíveis e da energia elétrica. O saldo foi de milhares de mortos e feridos e abriu passo para os jovens oficiais encabeçarem a tentativa golpista de 1992.

Os movimentos armados, que tiveram origem no 23 de Enero, sempre foram bastante radicalizados e agora têm realizado declarações públicas contra a ala direita do chavismo que é acusada de ter jogado os ideias de Hugo Chávez no lixo e emplacado o burocratismo e a corrupção para obter benefícios pessoais.

Voto de castigo, "bachaqueros" e encruzilhada

Diferentemente do que aconteceu na Argentina, a direita venezuelana agrupada na MUD (Mesa de Unidad Democrática) não apresentou abertamente o programa do ajuste. Nem os próprios candidatos apareciam em evidência. Toda a campanha da direita foi concentrada no “cambio” (a mudança), mas em abstrato. Sem apresentar qualquer proposta em concreto, além da demagogia de que as longas filas seriam eliminadas.

Os resultados do dias 6 de dezembro representaram o voto de castigo contra as longas filas, a corrupção e a paralisia do chavismo, inclusive com fortíssimas evidências de burocratização. O poder de compra dos trabalhadores foi corroído por uma inflação galopante. A desvalorização do bolívar levou o salário mínimo a mínimos históricos. O salário mínimo representa algo em torno aos 12 dólares no mercado paralelo, que dobra ao considerar-se os benefícios sociais. O mercado negro e os “bachaqueros” jogam mais lenha na fogueira.

As enormes mobilizações promovidas pelos chavistas, com o envolvimento direto da alta cúpula, a liberação de muitas obras às vésperas das eleições, a forte campanha na imprensa e a aprovação do orçamento público, com 42% destinado aos programas sociais, revelou a enorme insatisfação com o governo.

O chavismo ficou numa encruzilhada. A política atual é impossível de ser mantida em cima dos atuais preços do petróleo. Mas um acordo com a direita pode implodir o chavismo.

Para onde vai o chavismo?

Está colocado para o próximo período o aumento da disputa entre a ala esquerda do chavismo e a ala direita.

Os governadores que se agrupam no Movimento 4F foram citados por Henrique Capriles como os principais candidatos à aproximação com a direita. Alguns membros da cúpula do PSUV têm proximidade com esse movimento, como o atual presidente da Assembleia Legislativa, Diosdado Cabello, o governador do Estado de Aragua, Tareck El Aissami, e o chefe da Guarda Nacional Nestor Reverol. Sobre eles três há mandados de prisão e extradição aos Estados Unidos por suposto envolvimento com o tráfico de drogas.

As medidas propostas pelo PSUV e pelos movimentos sociais envolvem a política da radicalização social contra a própria burocracia do PSUV e do estado, o que vai contra os privilégios que existem hoje. A substituição das importações requer colocar em produção empresas eficientes, o que até o momento não conseguiu ser feito apesar dos altos preços do petróleo. E agora o tempo parece estar indo muito mais rápido que a capacidade para conter o aprofundamento da crise capitalista.

Uma possibilidade seria declarar a moratória da dívida pública, mais isso geraria uma onda de sanções, inclusive dos sócios chineses que a inviabilizam. O direcionamento para a expropriação dos grandes capitalistas e o rompimento com o imperialismo não está contemplado na Constituição Bolivariana. Nem é a intenção ir além dela conforme o Presidente Maduro o tem repetido até a exaustão. É possível acender uma vela para deus e outra para o diabo, como diz o dito popular? É altamente improvável. O que é mais provável é o racha do chavismo, com o surgimento de uma ala direitista, mais próxima à direita, e uma ala esquerda mais próxima com o chavismo original, mas que deverá romper com o chavismo para avançar.

Os movimentos sociais são a ala mais radical do chavismo. Mas ainda deverá entrar em cena a classe operária, principalmente os setores da indústria petrolífera que deverão entrar em movimento, impulsionados pela mobilização dos movimentos sociais, contra os ataques da direita. A reação, de fato, já começou.

Os Coletivos também deverão tomar rumos diferentes. Alguns deles, deverão se juntar à ala esquerda, mas há vários que se encontram altamente burocratizados e alguns, inclusive, controlados pela direita.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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