A tal velha transfigura-se em muitas caras e, na semana passada, ela era Mariano Rajoy, o presidente do governo espanhol que, com um olhar congelado pela lente de uma máquina fotográfica, desaprovava a chegada de um jovem deputado do triunfante e novo partido ao parlamento do tal país. O jovem com rastas, o deputado canário Alberto Rodriguez, passava pela desaprovação do chefe de estado.
Às vezes pensamos que esses velhos olhares já não existem existem nas cidades, seja por estarmos desatentos, seja porque estamos numa zona de conforto mas, o facto, é que lá, como cá, estão vivos e desesperados, porque são eles que nos vigiam as regras. Além disso, estão habituados ao “quem está mal se mude” e, outro facto é que, nós jovens, acabamos todos por emigrar para o(s) centro(s) do império, onde podemos trabalhar.
A fotografia tem esse poder, o de congelar o mundo hiperreal, da hiper-informação que nos distrai e que é narrada à velocidade da luz. Vale, no entanto, a pena por vezes parar. E se parares, escuta e olha. O olhar do presidente Rajoy extrapola a dimensão do grotesco, do medo do povo real e muito pouco Real. Se às vezes julgamos que vivemos em democracia, pensemos que esta não é feita de cruzes postas em boletins de uns quantos em quantos anos. É uma utopia, um caminho, ela não existe. E a pequena e ultramontana Espanha assusta-se com as novas faces dos que o povo elege. Com a eventualidade de ela ser construída.
Não me interessa fazer aqui nenhuma discussão partidária, interessa-me só a reflexão do que observei nesta imagem. Não acredito no Podemos (mas isso seria um outro texto) mas, se alguma coisa este tem, é mostrar que é plural e mais inteiro que outros como o PP e o PSOE que estão efetivamente partidos e repartidos em fatias feudais pelos senhores de bem, de fatos cinzentos e outros senhores burgueses que em coro sustentam hoje o parlamento espanhol. Só as esquerdas comportam o mosaico social do qual as sociedades são feitas: mulheres e homens de rastas ou sem elas, gordos, deficientes, pretos, amarelos e até cinzentos.
Aqui não é Espanha mas, por contágio, também é Espanha, é França, é Alemanha e o resto do mundo e a velha desaprovadora, o País Profundo, que na semana passada Rajoy personificava, está sempre atenta para nos condenar, ao povo, à margem social. Mas não é que eles hoje, aos poucos, estão a ocupar o parlamento?