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Luka Franca

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A segunda luta

Racismo ajuda a entender invasão de milícia branca armada em prédio público no Oregon

Luka Franca - Publicado: Sexta, 08 Janeiro 2016 18:18

Cultura política enraizada no estado é galgada em profundo racismo que até hoje questiona o poder central dos EUA.


Tu acordas no terceiro dia de 2016 e se depara com notícia de que prédio da administração da floresta nacional Maulher no estado do Oregon nos EUA foi invadido por uma milícia. Sim, um prédio público nos EUA foi invadido por milicianos armados e ao que parece a imprensa mundial e estadunidense acha que este fato é irrelevante, mesmo se tratando do país que toda vez em que um negro, latino ou muçulmano questiona uma vírgula já é taxado de terrorista. O país em que se Miley Cyrus, Selena Gomez e Justin Bieber tomarem um milk-shake juntos vira chamada nas principais homes do mundo.

Pois bem, uma milícia de rancheiros estadunidenses ocupou um prédio público, eles falam que há cerca de 150 pessoas envolvidas na ação e não tem a pretensão de sair tão cedo da ocupação. Estão dispostos a matar e serem mortos por sua causa territorial e separatista. A motivação de terem ocupado o prédio da reserva é demonstrar apoio há dois milicianos presos na segunda-feira (28/12), eles demandam que os dois milicianos sejam soltos e a saída do governo federal do comando da floresta nacional de Malheur.

Em vídeo que circula pela internet um dos líderes, Ammon Bundy, avisa que a ocupação do local servirá de base de operações e que pode durar anos. Segundo o Oregon Live o grupo pretende expandir a ocupação para a sede do Corpo de Bombeiros próxima ao prédio da administração da floresta Malheur. No vídeo Bundy afirma que:

We’re doing this so the people can have their land and their resources back where they belong. We’re calling people to come and stand. We need you to bring your arms and we need you to come to the Malheur National Wildlife refuge.

Estamos fazendo isso para que as pessoas possam ter suas terras e seus recursos de volta onde pertencem. Estamos chamando as pessoas para vir e ficar. Precisamos de você para trazer suas armas, precisamos que você venham ao refúgio na floresta nacional Malheur.

É importante resgatarm que Ammon Bundy é filho de Cliven Bundy, uma das principais figuras do estado de Nevada envolvidas em uma longa disputa de terras com a federação. A família é conhecida por suas posições separatistas e conservadoras, Bundy pai escreveu em seu blog recentemente sobre os rancheiros presos no final de 2015:

The United States Justice Department has NO jurisdiction or authority within the State of Oregon, County of Harney over this type of ranch management.  These lands are not under U.S. treaties or commerce, they are not article 4 territories, and Congress does not have unlimited power.  These lands have been admitted into statehood and are part of the great State of Oregon and the citizens of Harney County enjoy the fullness of the protections of the U.S. Constitution.  The U.S. Constitution limits United States government. (Press Release)

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos não tem jurisdição ou autoridade no interior do Estado de Oregon, no Condado de Harney, sobre o tipo de gestão de rancho. Essas terras não são decorrentes de tratados dos Estados Unidos ou comércio, eles não são territórios do artigo 4, e o Congresso não tem poder ilimitado. Estas terras foram admitidas em condição de Estado e fazem parte do grande estado do Oregon e os cidadãos do Condado de Harney desfrutam a plenitude das proteções da Constituição dos EUA. A constituição limita o governo dos Estados Unidos.

As movimentações dos milicianos hoje são fruto do racismo de ontem

Nas redes sociais já se vê questionamentos sobre a forma que o incidente tem sido noticiado. O Wall Street Journal noticiou a ocupação da floresta Malheur como uma movimentação pacífica, não registrando as convocações para pegar em armas que Bundy filho tem feito via vídeos.

Nos últimos anos é perceptível o aumento de manifestações e ocupações para denunciar diversas questões relativas a política dos EUA. Fergunson e NYC demonstraram isso, porém é importante salientar a resposta rápida dada pela mídia e polícia a estes processos: pessoas presas, chamadas de vândalas e criminalizadas pela mídia de massa. Isso por denunciarem processo de racismo e genocídio da juventude negra estadunidense. 2016 abre as portas com brancos donos de fazenda no Oregon ocupando uma floresta nacional, questionando a legitimidade do governos estadunidense em cumprir a legislação, questionando a legitimidade do congresso nacional daquele país e convocando as pessoas as armas para defender “seus territórios” e isso não existe, é algo menor.

Outra questão importante é o fato do estado do Oregon ter sido fundada em cima de uma utopia profundamente racista, a base separatista que hoje está no formato da ocupação do prédio de administração da floresta Maulher está justamente lá atrás nas leis estaduais racistas. Até 1926 era proibido que negros se mudassem para o estado. Matt Novak, em janeiro de 2015 no Gizmodo, escreveu um post que levanta diversos dos elementos das leis racistas que galgaram no Oregon um sentimento separatista forte, inclusive quando o processo segregacionista tomou desenhos nacionalizados pressionando mudanças no congresso nacional e não apenas nas leis estaduais.

Today, while 13 percent of Americans are black, just 2 percent of Oregon’s population is black. This is not some accident of history. It’s a product of oppressive laws and everyday actions that deliberately excluded non-white people from a fair shot at living a life without additional obstacles being put in their way. (Oregon was founded as a racist utopia)

Hoje, enquanto 13% dos americanos são negros, apenas 2% da população do Oregon é preto. Isso não é um acidente da história. É um produto de leis opressivas e ações cotidianas que deliberadamente excluídas pessoas não-brancos a partir de uma oportunidade justa de viver uma vida sem obstáculos adicionais que estão sendo colocados em seu caminho.

A discussão formada pelos milicianos sobre soberania da gestão de seus ranchos e territórios flerta com o passado racista do Oregon, pois mesmo quando nacionalmente a escravidão foi formalmente erradicada dos EUA a posição local foi a de referendar a constituição racista do estado, ao invés de dialogar com a decisão progressiva existente no resto dos EUA.

O percusso histórico do estado do Oregon em manter-se distanciado das mudanças políticas nacionais, abrindo questionamentos institucionais e afins galgou o caminho que neste começo de 2016 culmina com a ocupação da floresta Maulher por parte de separatistas que tem na construção do seu caldo de formação de consciência o racismo e o reacionarismo e estão dispostos a matar e morrer por manter uma tradição galgada na exclusão e negação de direitos civis.

Há um processo de disputa contra o racismo nos EUA que precisamos olhar com carinho, a disputa antirracial perpassa o questionamento do genocídio da juventude negra, mas profundamente conectado com os processos de garantia de direitos civis ocorridos anteriormente. Batendo frontalmente com ao retrógado sentimento de tradição, principalmente nos estados que adotavam coisas similares as leis de Jim Crow.

[+] The Oregon militia standoff, explained

[+] Oregon ranchers’ fight with feds sparks militias’ interest

[+] Hundreds of Armed Right-Wing Militia Members Take Over Federal Building

[+] ‘Oregon Under Attack’: Anger over limited response to hostile militia takeover of US government building

[+] Militia takes over Malheur National Wildlife Refuge headquarters

[+] Armed militia, Bundy brothers take over federal building in rural Oregon

Fonte: Blog Bidê


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