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Eduardo Maragoto

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O Estado do galego

Nom ser independentista é difícil

Eduardo Maragoto - Publicado: Segunda, 08 Fevereiro 2010 02:41

Eduardo Sanches Maragoto

De um ponto de vista económico ou social, a defesa da necessidade de um Estado galego provocou e provoca discrepáncias, mesmo no interior do nacionalismo. 


Compreende-se: nom há umha regra universal que nos permita afirmar que os Estados pequenos tenhem mais possibilidades de assegurar o progresso dos seus povos nessas áreas. Em relaçom à língua e à cultura é diferente, porque os Estados comportam-se como os principais elementos geradores ou preservadores de identidades diferenciadas, e a ausência dele dá origem à deslocaçom dos traços culturais e lingüísticos próprios para a periferia da sociedade. Acabam por ser marginais e até cair na desmemória. Deixam de ser um modelo a imitar para o conjunto da sociedade. A potente força da maquinaria estatal tem tal poder de atracçom que nem sequer as pessoas mais conscientes dela a conseguem contornar como desejariam. Às vezes, a resistência de fortes movimentos populares é capaz de desacelerar os efeitos desta uniformizaçom, mas quase nunca de travá-los completamente. 

Um exemplo: a resistência cultural está a recuperar a figura do Apalpador, como alternativa ao Pai Natal, mas há muitos outros elementos na nossa tradiçom natalícia que nas últimas décadas nos ligárom a Espanha. Poderá haver quem na teoria ponha em questom o torrom, o maçapám, as uvas, a hora das badaladas e até os Reis, mas na prática é muito difícil renunciar aos hábitos espanhóis enquanto pertencermos ao mesmo Estado e virmos as mesmas televisons. Em relaçom à língua acontece outro tanto. Mantemo-nos no galego, mas tendemos a evitar aqueles traços que nom convirjam com o castelhano mal pomos um pé fora da casa. Conscientes de que se di lulas, pescada, ameixas, garfo ou cadeira, nós, nacionalistas, podemos utilizar estas palavras nos nossos meios, na casa; mas no restaurante, a nom ser que tenhamos o dia reivindicativo, preferimos dizer bocadillo de calamares, merluza à romana, mermelada de ciruela, tenedor ou silla, porque divergir do marcado como normal pola língua estatal é incómodo.

Afinal, acontece que acabamos por invisibilizar a nossa diferença, submentendo-a à marginalidade, e o que os outros vem de nós é o que é igual ao resto do Estado. Imaginemos que um alemám visita o Estado espanhol: começa por dous lugares tam afastados entre si, geográfica e culturalmente, como  Vic (Catalunha) e Cádiz. A seguir visita a Galiza, e decide dar um saltinho a Portugal, concretamente a Viana do Castelo, passando por Tui. Será que notou mais diferenças culturais entre Vic e Cádiz do que entre Viana do Castelo e Tui?

Nom. Em Vic, como em Cádiz e Tui, terá comido tortilha, terá bebido cortados, terá ido de marcha, terá comprado recuerdos, terá falado espanhol e terá ouvido as pessoas tratarem-se por tu gritando muito. Pudo notar diferenças paisagísticas, sim, e até notaria que algum prato é servido de forma diferente, mas nada que nom aconteça também entre diferentes regions de um país com umha mesma língua e cultura. Sendo excepcionalmente culto, poderá ter reparado em que alguns falam um 'dialecto' diferente, mas umha vez que nom o necessitou, provavelmente decidiu nom prestar-lhe atençom. Já atravessando a fronteira do Minho, em Portugal, terá encontrado um país diferente: nom terá ouvido espanhol, nom terá podido comer tortilha, nem tratar as pessoas por tu, e menos aos berros, nem pinchos, nem tapas, nem cortados, nem menu do dia, nem jantar às 15h00, nem lojas abertas até as 21h00... Poderá parecer a alguém que alguns destes elementos som circunstanciais, que nom definem umha cultura, mas  engana-se. Afinal, é a soma deles e de muitos outros o que fai com que umha pessoa de Valença se sinta mais próxima de umha de Faro do que de umha de Tui e umha de Vic se sinta mais próxima de umha de Cádiz do que de umha catalá de Perpinyà. Compartilham cousas mais determinantes nas suas vidas do que umhas festas ou umha língua milenária: o mesmo ensino, os mesmos jornais, a mesma cultura televisiva... e também a língua em que realmente estám instalados fora do ámbito doméstico. Pensemos em nós. Quantas amizades portuguesas, aqui ao lado, temos? E quantas, lá longe, madrilenas, bascas ou catalás?

A importáncia dos Estados na conformaçom das identididades está fora de dúvida; tanto que é difícil defender umha estratégia nom independentista para a preservaçom das línguas nom estatais. Porém, é um assunto que nom se tem tido mui em conta na Galiza e disso falaremos nesta coluna, porque penso que no campo da língua e da cultura ser independentista é mais necessário e interessante do que muitas pessoas pensam. Mas, sobretodo, é muito mais fácil que no terreno político, sem necessidade de referendos nem grandes revoluçons.


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