Achamos esta umha boa oportunidade para relermos aquele artigo, que alguns e algumhas de vós, se calhar, nem conhecíades. Ei-lo:
Entroido Entroido, Entroido, Entroido, ... palavras que dam mostra da generalizaçom desta festa em todo o nosso território.
Festa remota no tempo e quiçais, como quase todas as festas antigas, vinculada na sua origem aos ciclos das sazons e trabalhos no campo. O Entroido é o pórtico, a entrada, o passo aà já exergada primavera; tempo onde, se bem o inverno pode esticar os seus rigores, já sabemois que som as últimos enrabeados lategadas, que vai vencido e se alguém nom o crê, ai estám as mimosas para lembrar-no-lo, florecendo e estalando como umha promesa de porvir.
Nos centros urbanos, infelizmente, perde-se esse ligame íntimo aos ciclos; os páxaros que volvem, as árvores floridas, case nom tenhem cabida num mundo onde as estaçons marcam-se polo almanaque.
Porém, antigamente, os pequenos indícios seriam decodificados e essa alegriafai surgir a festa. A festa mais teatral por excelência, onde cada quem escolhe a sua personagem e representa o papel que quiger; onde a orde se subverte, onde muda o establecido, as normas aprendidas e onde a crítica tinge todo o que os seres humanos tinhem criado nisso que chamamos sociedade.
Só umha norma prevalece: a imaginaçom. É o tempo de desfazer, de subverter, labor necessário e preciso para volver a fazer, para construir de novo, se qualhar, dum jeito distinto. E neste labor de dstribuiçom-construiçom todo o mundo tem cabida. Eis o espiírito do Entrudo; todos/todas participam, todas/todos som necessários, nesta espiral sem límite. Daí que a sua esigência nom seja umha festa-espetáculo. É preciso colocar-se como actrices e actores desde mundo criado temporalmente.
Estes dous elementos, imaginaçom e participaçom, figérom derivar ao Entruido a umha rica diversidade de ritos, fórmulas, mascaras, roupagens, gastronomia, cantigas, representaçons, bonecos, ... que estám estendidas amplamente pola nossa geográfia. Som as aportaçons de cada lugar e de cada tempo, da micro-história que fica na conciência colectiva e vai somando novas ideias ao comum.
Paradogicamente, co pretendido impulso que se lhe quere dar à festa hoje em dia, teremos que fazer umha reflexom se nom é cortar-lhe as asas ao espírito mesmo do que é o Entruido:A festa é cada vez mais o espetáculo artelhado, organizado e decretado.
As ruas enchem-se de carroças preparadas e cada vez há mais gente doutro lado, os outros, espectadores/as passivas/os que se conformam com o que lhes entra polos olhos, como se dumha televisom se tratar, esquecendo-se ou amedrentando-se de participar, assim, a proimigénia interaçom entre os seres nom se dá.
Os disfarces deixam de ser um alarde de imaginaçom e limitam-se a ser um mercado de faros feitos (carissímos, cuidado que nom se manchem as crianças), preparados para pousar na foto ritual e comparar nas juntaças ou nas escolas !! numha competiçom que nom tem nada de sa.
Se ainda nom fosse pouco, temos que aturar mimetismos estúpidos pretendendo celebrar o nosso Entrudo como em Cadiz, Tenerife ou Brasil, manifestaçons peculiares e interesantes de cada zona, mas que nada tenhem a ver com a nossa cultura ... nem com o nosso clima! Penadá ver, às vezes, as moças galegas com roupa mínima tentando bailar o samba e pensando quiçás, para si no bem que estariam nesse momento com um disfarce de oso, ponho por caso.
Em fim, reflexons amargas para umha festa leda e nom seria justo rematar aqui: há muitos sítios onde o espírito do Entrudo ainda permanece, ha muita gente empenhada em recuperá-lo. Assim nas nossas maos está chegar ao cerne mesmo da celebraçom. Aínda nom nos acabárom com a imaginaçom e a participaçom ... está aberta.
Narom, Fevereiro de 1998
Pilar Patinho Penya, integrante da Fundaçom Artábria.