Basta percorrer o índice da obra para termos uma ideia de sua importância e extensão: além da Comuna de Paris, somos brindados com fotos de cenas e pessoas que participaram das seguintes revoluções: Russa (1905), Russa (1917), Húngara (1919), Alemã (1918–19), Mexicana (1910–20), Chinesa (1911–49), Espanhola (1936) e a já mencionada cubana. O leitor mais atento notará que não estão na relação alguns movimentos extremamente importantes, como a revolução húngara (1956) e as lutas de libertação nacional (por exemplo, na Indochina e na Argélia). O critério para a seleção é explicado numa página de “advertência”, logo no início do livro:
“Por uma questão de coerência, escolhemos as revoluções ‘clássicas’, revoluções sociais de inspiração igualitária que visavam distribuir as terras e riquezas, abolir as classes e entregar o poder aos trabalhadores. [...] Portanto, fomos obrigados a deixar de lado outros movimentos revolucionários não menos importantes: as revoluções democráticas, antiburocráticas e antitotalitárias. [...] O último capítulo passa em revista uma série de eventos revolucionários – distintos, em certa medida, das revoluções no sentido pleno do termo – dos últimos trinta anos: Maio de 1968, a Revolução dos Cravos em Portugal (1974–1975), a Revolução Nicarguense (1978–1979), a queda do Muro de Berlim (1989) e a sublevação zapatista de Chiapas (1994–1995).
Cada revolução coberta pelo livro é comentada por um especialista, que trata de contextualizar os acontecimentos e permitir uma leitura crítica das fotos. Temos, então, a sensação de que a própria história se desenvolve diante de nossos olhos. Mas o valor documental da fotografia é discutido por Löwi, no capítulo introdutório, fazendo eco a um complicado debate entre historiadores. Até que ponto a fotografia pode e deve ser aceita como um “registro da história”?
“É claro que as fotografias não podem substituir a historiografia, mas elas captam o que nenhum texto escrito pode transmitir: certos rostos, certos gestos, certas situações, certos movimentos. A fotografia possibilita que se veja, de modo concreto, o que constitui o espírito único e singular de cada revolução. Alguns críticos negam o valor cognitivo das fotografias de acontecimentos. Por exemplo, o grande teórico do cinema Siegfried Kracauer tinha convicção de que a foto não permite conhecer o passado, mas somente a ‘configuração espacial de um instante’. (...) Esse ponto de vista me parece discutível. É verdade que a fotografia não pode substituir a narrativa histórica, mas isso não a impede de ser um instrumento insubstituível de conhecimento histórico, que torna visíveis aspectos da realidade que frequentemente escapam aos historiadores.”
Para além do debate teórico sobre o valor documental da fotografia, o livro oferece, no mínimo, o prazer proporcionado pelo acesso a cenas que, até então, faziam parte unicamente do universo imaginário e algo mitológico das revoluções. Se fosse apenas por isso, sua leitura já valeria muito a pena.
José Arbex Jr. é jornalista, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP).