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110216 quesePortugal - Jornal Mudar de Vida - [Manuel Raposo] Quando Passos Coelho, numa bravata própria de feirante, a três anos de distância, disse que se estava a lixar para as eleições (“o que interessa é Portugal”...), percebeu-se que, com o tempo, o discurso iria mudar.


Mas poucos talvez adivinhassem o sentido preciso que a frase iria tomar depois do 4 de Outubro de 2015.

A forma assanhada como a Coligação se quis manter no poder, mesmo sem maioria para o conseguir, os argumentos trogloditas usados por todos os seus apaniguados, o apoio descarado do patronato a Cavaco para não empossar o governo de Costa, o clima de golpe de Estado que a direita criou — tudo isto mostrou, da parte da burguesia, um outro sentido, útil e concreto, para a frase de Coelho, e esse sentido é: que se lixe a democracia, que se lixe o parlamento, que se lixe a vontade dos eleitores, tudo vale para manter o poder.

Este episódio mostrou uma unidade essencial de propósitos da direita que merece toda a atenção. Percebe-se: a crise, como os factos mostram, não é apenas uma crise de negócios, exclusivamente “económica”. Ela manifesta-se na corrupção das instituições, no esvaziamento das fórmulas democráticas, põe a nu o carácter de classe do Estado, desmente a existência de interesses “nacionais” que não sejam os da burguesia, mostra a precariedade das liberdades e dos direitos da massa trabalhadora quando o interesse do capital é abalado. Estes factos contribuem para que o povo despreze as instituições e veja no poder, e naqueles que o exercem, o poder das classes dominantes — e não, como a burguesia pretende, o poder indistinto da “nação”, comum a “todos os cidadãos”. O que emerge da situação que vivemos é essa “característica essencial do Estado” que, no dizer de Engels, consiste “num poder público distinto da massa do povo”.
Na percepção instintiva deste facto radica o desespero da direita.

Se o espectáculo que a direita deu após 4 de Outubro se deveu a uma pequena deslocação à esquerda do eleitorado — que de modo nenhum pôs em causa qualquer instituição —, pode imaginar-se o que se passará quando uma vaga de fundo (e é seguro que ela vai surgir) trouxer de novo as massas trabalhadoras para o primeiro plano da luta política. Nessa altura, a experiência de 74-75, que agora parece enterrada, voltará à memória colectiva dos trabalhadores e será de toda a utilidade. Concretamente: a forma independente como o proletariado tomou a iniciativa da acção política, agindo em defesa dos seus interesses, dando o exemplo à restante massa trabalhadora, rejeitando o espartilho das instituições, praticando a sua própria democracia, ousando atacar os privilégios da propriedade privada e pondo em causa o poder das classes dominantes.


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