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Pedro Monterroso

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O diabo revisitado

As gaiolas douradas

Pedro Monterroso - Publicado: Sexta, 11 Dezembro 2015 14:23

Quando a solidariedade é exclusivamente nacional, regional, local, racial, o que quer que seja, não é solidariedade, é uma forma de egoísmo que quer viver entrincheirado. É uma larva que espera o inimigo no buraco escuro, agradecendo a arma que empunha, enquanto engraxa as botas dos senhores da guerra que por ali passam.


Como tal, exponho-vos aqui um relato parafraseado de um tal de Manuel, ou Joaquim, sei lá eu ao certo, que em terras de la France diz que disse:

"- Ai, Madame, não lhe devo eu lamber as botas, que lindas botas, vêm de Guimarrães? Tenho a língua áspera do hábito, mas garanto-lhe que a minha saliva é ideal para o couro cansado das suas marchas, que calcam os direitos de quem tê-los não deve (e se devesse pela constituição, não os saberia usar). Fique aqui Madame, isso, ponha aqui o seu pezinho devagar, devagarinho, dê-me umas moedinhas que, em Portugal, até canto e construo um império igualzinho ao seu, se os socialistas não mo roubarem. Que vergonha, sabe, lá elegeram um monhé para primeiro ministro, Madame. Que ponham olhos em Votre Excellence. De botas lambidas e casas construídas sei eu. Sou operário em desconstrução, porque hoje lambo botas. Construí todos os tetos, os mais altos, de Paris, quando ainda nos anos 60, vivia com a minha sogra, os meus filhos, gatos e a minha senhora, de bigode farfalhudo mas honrado, num bidonville portugais lá nos arredores, em terras que essas botas jamais pisaram.

- Saiba a Madame, que a minha senhora (que é madame em português, mas não soa tão bem, como em Français) é porteira e foi ela que lhe abriu as portas quando a Madame quis ir para a rua marchar e gritar pela grande força do Partido.

- Ai l'Europe, Madame, que ponha os olhos em France. Esses musulmanes, Madame, também eu detesto. Quero paz e presunto fumado e eles guerra e carros queimados, quero dinheiro ganhado e eles carteiras roubadas. Mais Madame, o meu filho quer barbas grandes para estar na moda e não pode - é escuro como um torrão e ainda pensavam que era das leituras do Corão. Há dias, até teve de sacar do rosário, que trazia ao peito, para camaradas seus, lá no seu entender, perceberem que era do país da Virgem de Fátima, que até é como a de Lourdes, mas mais tardia na visita. Sabe como é, Madame, a Portugal até a Virgem veio mais tarde, não devíamos ter cachê suficiente para que ela viesse concretizasse a tourné de então."

Dito isto, diz que a Madame, mui respeitosamente, agradeceu o apoio do tal Joaquim e referiu, que ele era o seu tonton favorito, entre todos os Antónios lusitanos. E eu, na qualidade de narrador orgulhoso de tais palavras, admito que lamber botas assim é, évidemment, une œuvre d'art.

[Nota: Le Pen vai "festejar" resultados das regionais em restaurante português

O partido da extrema direita francesa Frente Nacional (FN) vai festejar os resultados da segunda volta das eleições regionais em França no restaurante português Chez Tonton, disse à Lusa Manuel Domingos, o proprietário do estabelecimento.]


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