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Roberto Bitencourt da Silva

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A libertação nacional

O “povão” como agente social e político esquecido

Roberto Bitencourt da Silva - Publicado: Domingo, 20 Março 2016 22:26

Para muitos, inclusive aderentes petistas e do governo federal, as últimas semanas foram ricas no aprendizado sobre importantes características de parte estrutural da política e da sociedade brasileira:


1. As direitas são golpistas, violentas, racistas, entreguistas e elitistas.

2. A burguesia e estratos das classes médias revelam uma mentalidade colonizada, oligárquica, antipopular e escravista.

3. A Globo manipula informação e não cumpre preceitos básicos de jornalismo.

4. Os meios de comunicação comerciais são poderosíssimos, influindo na formação da opinião pública.

5. Expurgando o PT, a presidente e o ex-presidente da República, o sistema sairá legitimado e controlado exclusivamente por políticos de moral sabidamente pouco ilibada.

As respostas do governo federal democraticamente eleito, bem como dos seus aderentes, na defesa da legalidade e da inatacável probidade pessoal da presidente, têm sido:

6. Não apresentar qualquer mudança na orientação da política econômica, em um sentido popular e não recessivo.

7. Clamar por manifestações a favor das instituições democráticas, das garantias constitucionais e do respeito ao voto popular.

8. Particularmente das hostes petistas, reclamar das esquerdas “vacilantes” e apelar à adesão contra a marcha golpista.

A respeito, os fatos esquecidos, deliberadamente ou não:

9. Eleitoralmente, as esquerdas possuem pouco significado há anos, implicando em escasso poder de incidência na formação da opinião pública e, portanto, na quantidade de simpatizantes.

10. Mesmo assim, sujeitos individuais e coletivos com ou sem filiação partidária à esquerda, têm se mobilizado nas redes digitais e nas ruas, participado da campanha pela legalidade e a defesa das garantias constitucionais.

Então, o que falta para tentar debelar, com alguma possibilidade crível, o risco real e iminente de um golpe de Estado, pela via judicial-midiático-legislativa?

Os dados demonstrados por sondagens recentemente feitas pelo Datafolha (em que pese a controversa legitimidade do instituto de pesquisa) informam a falta de participação das classes populares mais humildes, para qualquer lado da contenda.

Note-se que, entre desempregados, subempregados, trabalhadores precarizados mesmo sob o regime de trabalho celetista, trabalhadores que não possuem a cobertura de uma rede de solidariedade política e sindical, no mínimo estamos a falar de 70% da classe trabalhadora brasileira.

Trata-se, precisamente, da ampla maioria do nosso povo, que não vê seus interesses em jogo e que não demonstra se sensibilizar pela marcha dos acontecimentos. Não acompanha aos fascistas, por absoluta falta de identificação. Mas, não se movimenta espontaneamente em favor da legalidade e do governo, por inexistirem razões claras para isso. A indiferença impera, no tocante à ação política. 

Isso se deve ao caráter “amorfo” e “alienado” de grossa parte dos trabalhadores brasileiros? Uma sociologia dogmática, elitista e irrefletida diria isso. Nada mais distante da realidade. Sua inteligibilidade não pode ser posta em dúvida.

Os evidentes riscos em torno da possibilidade de perda das garantias constitucionais e dos direitos trabalhistas históricos, tão prezados no debate em curso, envolvendo petistas e frações das esquerdas, simplesmente não integram a experiência cotidiana do “povão”, como Darcy Ribeiro designava aos “párias” do país; os “condenados da terra”, ao modo de Frantz Fanon.

Conversando com qualquer jovem das classes populares mais humildes no Rio de Janeiro, você terá a experiência de observar a força que a narrativa da Rede Globo possui, construindo a realidade do país.

A personalização da culpa pela crise é óbvia: “ah, isso tudo é por causa da Dilma e do Lula”, que são uns “ladrões”, que “estão acabando com o Brasil”! É necessária muita conversa para explicar o que se está passando.

No meio da semana, ainda no Rio, o sistema de transporte público chamado BRT teve suas atividades suspensas por horas. Deixou passageiros, cansados, vindos do trabalho, a pé e desorientados na via pública. Sequer o direito de ir e vir é respeitado.

Foi feito um grande protesto, que interrompeu o trânsito dos carros, também por horas. Em meio à manifestação popular legítima e bastante compreensível, foi possível observar um cartaz de papelão que assim dizia: “Vem Dilma, vem Pezão, vem andar de BRT, seus &#*”. Isso a despeito de o responsável direto pelo referido transporte ser o prefeito Eduardo Paes.

Sem a mobilização, o esclarecimento e ações factíveis da parte da Presidência da República, em relação à maioria dos trabalhadores do Brasil, superexplorados e destituídos de direitos, convenhamos, o jogo está perdido. 

Mesmo o pouco a que tem acesso o "povão", como as precárias educação e saúde públicas, estão na iminência de serem definitivamente destruídas pela volúpia ultraprivatista que já transcorre em ãmbitos estadual e municipal. Isso poderia ser informado, esclarecido, caso haja real interesse em tentar mudar o triste curso aberto pela marcha golpista.

Sem o uso sistemático da cadeia de rádio e TV pela presidente Dilma, sem contrabalançar minimamente a narrativa golpista prevalecente, adeus. Depender somente de redes sociais como instrumento de comunicação é loucura.

Eu vou, fui, você vai, foi, nos protestos pela legalidade, esse ano, ano passado. Temos muito o que perder com a ascensão ultraliberal e fascista. Integramos estratos mais altos das classes trabalhadoras e as chamadas classes médias.

Mas, com a maior parte do nosso povo abandonado às mensagens da Rede Globo e de outros grandes veículos de comunicação, com uma experiência de vida tão dura e desapossada, na prática, de direitos e garantias trabalhistas e constitucionais, fica, realmente, dificílimo frear a marcha do golpe.


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