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b_450_0_16777215_00_archivos_imagenes_articulos_0210b_160210_somalia4b.png Apresentamos a tradução brasileira realizada pela companheira Mayara Melo, do Diário Liberdade, da entrevista com Mohamed Hassan, especialista em geopolítica árabe, publicada em inglês pela Global Reserch, da autoria de Grégoire Lalieu e Michel Colon.


Nela, se dão alguns pontos-chave sobre o processo que conduziu à chamada "pirataria somali" e ao caos imperante na região, o que a torna um texto de recomendável leitura para compreender a política imperialista na África.

A Somália tinha todos os motivos para ter sucesso: uma situação geográfica vantajosa, petróleo, minérios e uma só religião e idioma para todo o território, um fenômeno raro na África. A Somália poderia ter sido uma grande potência na região, mas a realidade é completamente diferente: fome, guerras, saques, pirataria, ataques à bomba. Como este país afundou? Porque não se estabeleceu nenhum governo somali nos últimos vinte anos? Que escândalos estão por trás dos piratas que sequestram os navios? Neste novo capítulo da série "Entender o mundo muçulmano", Mohamed Hassan, explica porque e como as forças imperialistas têm aplicado na Somália a teoria do caos.

Como se desenvolveu a pirataria na Somália? Quem são os piratas?

Desde 1990, não existe nenhum governo na Somália. O país está nas mãos dos senhores da guerra. Navios europeus e asiáticos tiraram proveito desta situação caótica e passaram a pescar ao longo da costa somali, sem qualquer licença ou respeito por regras elementares. Eles não observaram as quotas em vigor, em seus próprios países, para proteção de espécies e se utilizaram de técnicas de pesca predatórias – devastadoras como bombas! - Isso provocou enormes danos à riqueza dos mares da Somália.

Isso não é tudo! Tirando proveito dessa ausência de autoridade política, empresas européias - com a ajuda da máfia -, despejaram resíduos nucleares no mar da costa da Somália. A Europa sabia disso, mas fechou os olhos, pois era uma solução que apresentava vantagens econômicas para a gestão de resíduos nucleares. No entanto, o tsunami de 2005, trouxe uma grande parte desses resíduos para as terras da Somália. Doenças desconhecidas apareceram, pela primeira vez, entre a população local. Esse foi o contexto no qual a pirataria se desenvolveu. Pescadores Somalis, que utilizavam técnicas de pesca artesanal, não puderam mais trabalhar. A partir de então, eles decidiram proteger a si mesmos e a seus mares. Isso foi exatamente o que fez os Estados Unidos, durante a guerra civil contra os ingleses (1756-1763): sem forças navais, o presidente George Washington fez um acordo com os piratas para proteger a riqueza dos mares americanos.

Não existe Estado Somali há quase vinte anos! Como isso é possível?

Isso é o resultado de uma estratégia americana. Em 1990, o país foi assolado por conflitos, fome e saques, o Estado entrou em colapso. Diante dessa situação, os Estados Unidos, que descobriu petróleo na Somália há alguns anos, lançou a Operação Restore Hope, em 1992. Pela primeira vez, a marinha americana interveio na África para tomar o controle de um país. Foi também a primeira vez que uma invasão militar foi lançada em nome de intervenção humanitária.

E o famoso saco de arroz exibido numa praia Somali por Bernard Kouchner?

Sim, todo mundo se lembra daquelas fotos cuidadosamente exibidas. Porém, as verdadeiras razões eram estratégicas. Um relatório do Departamento de Estado Americano comenta fato de que os Estados Unidos deverá ser a única superpotência global após o colapso do bloco soviético. Para alcançar esse objetivo, o relatório defendia que o país ocupasse uma posição hegemônica na África, que goza de uma grande quantidade de matérias-primas.

No entanto, "Restore Hope" foi um fracasso. Houve até um filme de Hollywood "Black Hawk Down", com os pobres G.I’s "atacados pelos rebeldes Somalis do mal" ...

Os soldados americanos foram realmente derrotados por uma resistência somali nacionalista. Desde então, a política americana se concentrou em manter a Somália sem nenhum governo de fato - como estratégia para “balcanizá-los”. Esta é a antiga estratégia britânica, já aplicada em vários lugares: desfragmentação do estado para melhor governá-lo. É por isso que não existe Estado Somali há quase vinte anos. Os Estados Unidos tem implementado a teoria do caos, a fim de impedir qualquer reconciliação na Somália, mantendo assim um país dividido.

No Sudão, devido à guerra civil, a Exxon teve de abandonar o país depois de ter descoberto petróleo. Portanto, deixar a Somália mergulhada no caos não estaria contrariando os interesses americanos, uma vez que não poderia explorar o petróleo descoberto?

Exploração de petróleo não é sua prioridade. Os Estados Unidos sabem que as reservas estão lá, mas não precisam delas imediatamente. Dois elementos são muito mais importantes na sua estratégia. Em primeiro lugar, evitar que os concorrentes possam negociar com um rico e poderoso estado Somali. Se você considerar o Sudão, a comparação é interessante. O óleo que as empresas norte-americanas descobriram, há trinta anos, o Sudão vende hoje para a China. A mesma coisa poderia acontecer na Somália. Quando era presidente do governo de transição, Abdullah Yusuf visitou a China, embora fosse apoiado pelos Estados Unidos. A mídia americana criticou fortemente a visita. O fato é que Estados Unidos não têm nenhuma garantia quanto a este ponto: se um governo somali for estabelecido, amanhã, seja qual for a sua corrente política, provavelmente poderia adotar uma estratégia independente dos Estados Unidos e estabelecer comércio com a China. Os imperialistas ocidentais não querem um Estado forte e unificado somali. O segundo objetivo perseguido pela teoria do caos está relacionado com a localização geográfica da Somália, que é estratégica tanto para os imperialistas europeus quanto para os americanos.

Por que é estratégica?

A questão é o controle do Oceano Índico. Olhe para o mapa. Como já expliquei, as potências ocidentais têm uma importante parcela de responsabilidade no desenvolvimento da pirataria somali, mas, em vez de dizer a verdade e pagarem pelo que fizeram, eles criminalizam o fenômeno, a fim de justificar a sua posição na região. Sob o pretexto de combater a pirataria, a OTAN está posicionando sua marinha no Oceano Índico.

Qual é o objetivo real?

É controlar o desenvolvimento econômico das potências emergentes, principalmente a Índia e a China. Metade do tráfego mundial de contêineres e 70% do tráfego total de derivados de petróleo passa pelo oceano Índico. Do ponto de vista estratégico, a Somália é um lugar muito importante: o país tem a maior costa da África do Sul (3.300 Km) e está voltado para o Golfo Pérsico e para o Estreito de Ormuz, dois pontos-chave da economia da região. Além disso, se uma resposta do Pacífico é oferecida ao problema somali, as relações entre a África de um lado, e a Índia e a China, por outro lado, poderiam se desenvolver através do Oceano Índico.

Esses concorrentes americanos poderiam então ter influência nessa área Africana. Moçambique, Quênia, Madagáscar, Tanzânia, Zanzibar, África do Sul e etc.Todos esses países ligados ao Oceano Índico poderiam ter acesso fácil ao mercado asiático e desenvolver relações econômicas frutífera. Nelson Mandela, quando foi presidente da África do Sul, defendia a necessidade de uma revolução no Oceano Índico, com novas relações econômicas. Os Estados Unidos e Europa não querem este projeto. É por isso que eles preferem manter a Somália na instabilidade...

160210_somalia3.jpgVocê diz que os Estados Unidos não querem a reconciliação somali. Mas quais são as raízes da ruptura somali?

Para entender essa situação caótica, temos de mergulhar na história somali. Este país tinha sido dividido por potências coloniais. Em 1959, a Somália ganhou a independência através da fusão da colônia italiana do Sul com a colônia britânica no Norte. No entanto, povos somalis também viviam em algumas partes do Quênia, Etiópia e Djibuti. O novo Estado somali inseriu uma estrela em sua bandeira - cada ponta representa uma parte da história da Somália. A mensagem por trás desse símbolo quer dizer: "Duas Somálias foram unidas, mas três ainda estão colonizadas".

Enfrentando a legitimidade dessas reivindicações, os britânicos - que controlavam o Quênia -, organizaram um referendo no território queniano reivindicado pela Somália. 87% da população, composta principalmente de etnia somali, votou a favor da unidade somali. Quando os resultados foram publicados, Jomo Kenyatta – era o líder nacionalista queniano -, os britânicos ameaçaram se voltar contra os colonos se estes repartissem parte do território com a Somália. Portanto, a Grã-Bretanha decidiu não considerar o referendo, e hoje uma importante comunidade somali ainda vive no Quênia. É preciso compreender que as fronteiras coloniais foram um verdadeiro desastre no caso somali. A questão da fronteira é um objeto de importante de debate para o continente Africano.

No que resultou esse debate?

Na década de sessenta, muitos países africanos tornaram-se independentes, houve um debate entre o que chamamos de “Monróvia” e os grupos “Casablanca”. E depois, outros foram incluídos, Marrocos e Somália, resolveram que as fronteiras herdadas do colonialismo deveriam ser discutidas. Para eles, esses limites não tinham legitimidade, no entanto, a maioria dos países africanos tem fronteiras que são produtos do colonialismo. Finalmente, a Organização dos Estados Africanos (OAU), anterior a atual União Africana, encerrou o debate, decretando que as fronteiras eram indiscutíveis: voltar atrás na determinação das fronteiras provocaria guerras civis em todo o continente. Mais tarde, um dos arquitetos da OAU, o tanzaniano Julius Nyerere, reconheceu que esta decisão foi a melhor, no entanto, lamentou a decisão referente ao caso somali.
Qual foi o impacto da divisão colonial sobre a Somália?

Ela vai criou tensões com os países vizinhos. Durante esses anos, que a Somália defendia a revisão das fronteiras, a Etiópia tornou-se um bastião do imperialismo americano. Os Estados Unidos também tinham bases militares no Quênia e na Eritréia. Neste momento, a Somália, uma jovem democracia agrícola, quis construir seu próprio exército. O objetivo era não parecer frágil diante dos vizinhos armados, apoiar os movimentos somali na Etiópia, além de recuperar pela força, se necessário, alguns territórios. Mas as forças ocidentais foram contrarias à criação de um exército somali.

Assim, a Somália teve relações tensas com os seus vizinhos. Não seria razoável a oposição a este projeto exército somali? Ele teria provocado guerras, não é?

O Ocidente não está preocupado com os conflitos entre os africanos, mas com seus próprios interesses. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha estavam fornecendo treinamento e militares para a Etiópia, Quênia e  Eritréia. Esses países ainda estavam sob o jugo de um sistema feudal muito repressivo. Eles também foram regimes neocoloniais dedicados aos interesses ocidentais. Por outro lado, o poder instaurado na Somália foi mais democrático e independente. Assim, o Ocidente não tinha nenhum interesse em fornecer apoio a um país que poderia escapar de seu controle.

Como consequência, a Somália decidiu se voltar para a União Soviética. Esse medo das forças ocidentais, que temiam que a influência soviética se estendesse para a África, se tornou mais fortes com o golpe de 1969.

O que você quer dizer?

As ideias socialistas foram se espalhando no país. Sobretudo numa importante comunidade somali que vivia em Aden - no Sul do Iêmen. No entanto, este era o lugar que a Grã-Bretanha usava como exílio para pessoas consideradas perigosas na Índia: os comunistas, os nacionalistas e assim por diante. Eles costumavam ser presos e enviados para Aden, onde as ideias nacionalistas e revolucionárias desenvolveram-se rapidamente afetando mais tarde, tanto os somalis quanto os iemenitas. Sob a influência de civis com ideias marxistas, um golpe de Estado foi realizado por policiais, em 1969, e Siad Barre assumiu o poder na Somália.

Quais foram às razões desse golpe de estado?

O governo somali foi corrompido. Ele teve, porém, as cartas na mão para erguer o país ao posto de grande potência regional: uma posição estratégica, apenas uma língua, uma religião e muitos elementos culturais comuns. Isto é muito raro na África. Mas, pela falta de desenvolvimento econômico do país, este governo criou um contexto favorável para as divisões entre os clãs. Sob o pretexto de fazer política, as elites somali se dividiram. Todo mundo criou seu próprio partido político, sem qualquer programa real, e recrutaram votos entre os clãs existentes. Isso aumentou as divisões e acabou se tornando inútil. A democracia em um modelo liberal era, de fato, insustentável na Somália: chegou ao ponto de existir 63 partidos políticos para um país três milhões de habitantes! E o governo nem sequer foi capaz de adotar um modelo de gestão oficial, o que acabou criando graves problemas na administração. A educação foi um fiasco. Burocracia, polícia e exército, entretanto, foram estabelecidos. Mais tarde isso desempenharia um papel chave no golpe de Estado progressista.

b_450_0_16777215_00_archivos_imagenes_articulos_0210b_160210_somalia2.png"Progressista"! Com o exército?

O exército era a única instituição organizada na Somália. Como um aparelho repressivo que existia, supostamente, para proteger o chamado governo civil e da elite. Mas para muitos somalis provenientes de famílias e áreas diferentes, o Exército também foi um lugar de troca onde não havia fronteiras, sem tribalismo, sem divisões do clã. Foi assim que as idéias marxistas de Aden circularam entre o exército. O golpe de Estado foi conduzido por militares que eram os mais nacionalistas de todos. Eles não tinham um bom conhecimento do socialismo, mas tinham simpatia pelas ideias. Além disso, sabiam o que estava acontecendo no Vietnã, o que alimentou sentimentos anti-imperialistas. Os civis, que conheciam as ideias de Marx e Lênin não tinham partido político de massas, portanto, apoiaram o golpe de Estado e tornaram-se conselheiros dos oficiais que tomaram o poder.

Quais as mudanças que o golpe de Estado somali trouxe?

Um importante aspecto positivo: o novo governo rapidamente adotou um programa oficial. Além disso, a União Soviética e a China estavam ajudando a Somália. Os estudantes e a população se mobilizaram. A educação e as questões sociais foram reforçadas. Os anos que se seguiram ao golpe de Estado foram de fato os melhores da história da Somália. Isto é, até 1977.

O que aconteceu?

A Somália, que foi dividida por forças coloniais, atacou a Etiópia para obter o território de Ogaden de volta. Ogaden era povoada principalmente por somalis. Neste momento, no entanto, a Etiópia era um estado socialista apoiado pelos soviéticos. Este país tinha sido comandado por um longo tempo pelo Imperador Selassie, mas na década de setenta, houve uma mobilização importante para derrubá-lo. O movimento estudantil - no qual eu, pessoalmente, participei -, fez quatro reivindicações importantes. Em primeiro lugar, sem violência e democraticamente pretendia resolver as tensões com a Eritréia. Em segundo lugar, realizar a reforma agrária para distribuir terras aos camponeses. Em terceiro lugar, estabelecer o princípio da igualdade entre as nacionalidades - a Etiópia era um país multinacional dirigido pela elite que não representa a diversidade. Em quarto lugar, a abolição do sistema feudal e estabelecimento de um Estado democrático. Como na Somália, o exército era a única instituição organizada na Etiópia e os civis se juntaram aos militares para derrubar Selassie, em 1974.

Como dois estados socialistas, ambos apoiados pela União Soviética, entraram em conflito?

Depois da revolução etíope, uma delegação composta pela União Soviética, Cuba e Iêmen do Sul organizou uma mesa redonda com a Etiópia e a Somália, a fim de resolver as suas contradições. Castro foi a Adis Abeba e Mogadíscio. Para ele, as questões colocadas pela Somália eram justificadas. Finalmente, a delegação da Etiópia aceitou as exigências da sua vizinha Somália. Os dois países fizeram um acordo estipulando que nenhuma provocação deveria acontecer enquanto decisões não fossem tomadas. As coisas pareciam começar bem, mas a Somália não honrou o acordo ...

Dois dias depois que a delegação etíope voltou ao seu país, Henry Kissinger, antigo secretário de Estado de Nixon, dirigiu-se a Mogadíscio. Kissinger estava representando uma organização não-oficial: o Safari Club, que incluía: Irã do Xá, Congo de Mobutu, Arábia Saudita, Marrocos francesa e o serviço de inteligência paquistanês. O objetivo dessa organização era lutar contra a infiltração soviética no Golfo e na África. Sob as pressões do Safari Club, Siad Barre, cometeu o terrível erro estratégico de atacar a Etiópia.

Quais foram as consequências dessa guerra?

Soviéticos abandonaram a região. A Somália, ainda liderada por Siad Barre, passou a integrar a rede neocolonial das forças imperialistas. O país tinha sido seriamente prejudicado pelo conflito e o Banco Mundial e o IFM ficaram encarregados de "reconstruí-lo". Isso agravou as disputas entre a burguesia somali. Cada elite regional quis ter seu próprio domínio. Eles fizeram as divisões entre os clãs o que contribuiu para a derrocada progressiva do país até a queda de Siad Barre, em 1990. Desde então, nenhum chefe de Estado conseguiu chegar ao poder.

Mas, trinta anos após a guerra de Ogaden, o cenário oposto aconteceu: a Etiópia era apoiada pelos Estados Unidos para atacar a Somália ...

Sim, como eu disse, desde o fracasso da Restore Hope, os Estados Unidos, preferiu manter a Somália no caos. No entanto, em 2006, se estabeleceu um movimento espontâneo que se desenvolveu no seio dos tribunais islâmicos para lutar contra os senhores da guerra local e trazer a unidade para o país. Era uma espécie de Intifada. A fim de acabarem com este movimento de reconstrução da Somália, os Estados Unidos decidiram, de repente, apoiar o Governo Federal de Transição (TFG), tendo se recusado a fazer isso antes. Na verdade, eles perceberam que o seu projeto de uma Somália sem Estado efetivo não era mais possível: um movimento – além do mais, islâmico! - Estava prestes a levar a uma reconciliação nacional. A fim de sabotar a unidade somali, os Estados Unidos decidiram apoiar o Governo Federal de Transição. No entanto, isso ocorreu sem que houvesse qualquer base social e um exército. Assim, as tropas etíopes, comandada por Washington, atacaram Mogadíscio para derrubar os tribunais islâmicos.

Funcionou?

Não, o exército etíope foi derrotado e teve de abandonar a Somália. Por outro lado, os tribunais islâmicos estavam dispersos em vários movimentos que ainda controlam uma grande parte do país hoje. Como Abdulla Yusuf foi um governo de transição, que entrou em conflito com os Estados Unidos, o substituíram por Sheik Sharif, o ex-porta-voz do Tribunal Islâmico.

Foi assim que o xeque Sharif passou para "o campo de outros"?

Ele estava acostumado a ser o porta-voz dos tribunais islâmicos, porque era um bom orador. Mas ele não tinha “know how” político. Ele não tinha idéia do que era imperialismo ou nacionalismo. Por isso, as potências ocidentais o colocaram de volta. Ele era o elo fraco do tribunal islâmico. Hoje, ele dirige um governo falso - criado em Djibuti. Este governo não tem base social ou autoridade na Somália. Ele só existe na esfera internacional, porque as forças imperialistas o apóiam.

No Afeganistão, os Estados Unidos disseram que estavam prontos para negociar com os talibãs. Por que não foram negociar também com os grupos islâmicos na Somália?

Porque esses grupos querem afastar a ocupação estrangeira e abrir caminhos que permitam uma reconciliação nacional para o povo Somali. Como resultado, os Estados Unidos quer destroçar esses grupos: a reconciliação, através do movimento islâmico ou através do TFG, não é interessante para as forças imperialistas. O que os interessa é o caos. O problema é que, hoje, este caos se estendeu à Etiópia também, que está muito fragilizada, desde o conflito de 2007. Um movimento de resistência nacionalista veio à tona, novamente, para lutar contra o governo pró-imperialista de Addis Abeba. Com sua teoria do caos, os Estados Unidos criaram, de fato, problemas para toda essa região. E agora, se lançam para a Eritréia.

Por quê?

Este pequeno país conduz uma política nacional independente. A Eritréia tem uma visão direcionada para toda a região: o Corno de África (Somália, Djibuti, Eritréia, Etiópia) não precisa de interferência de potências estrangeiras, é a sua riqueza, que lhe permitirá estabelecer novas relações econômicas com base no respeito mútuo. De acordo com a Eritréia, a região tem que se desenvolver em conjunto e seus membros devem ser capazes de discutir os seus próprios problemas. Naturalmente, esta política assusta os Estados Unidos, pois temem que outros países sigam o exemplo. Então, eles acusam a Eritréia de envio de armas à Somália para instigar problemas com a Etiópia.

Então a Eritréia não envia armas para a Somália?

Nem mesmo uma bala! Isso é pura propaganda, como fizeram contra a Síria no caso da resistência iraquiana. A perspectiva da Eritréia é lançar um projeto de revolução para o Oceano Índico - aquilo que falamos antes. As potências ocidentais não querem isso e desejam trazer a Eritréia de volta ao círculo dos estados neocolonial sob controle, como o Quénia, a Etiópia ou Uganda.

Então não existem terroristas na Somália?

Potências imperialistas sempre rotularam de terroristas as pessoas que lutam por seus direitos. Os irlandeses eram terroristas, até que assinaram um acordo. Abbas foi um terrorista. Agora, ele é um amigo.

Mas e o que ouvimos sobre a Al Qaeda na Somália?

Al-Qaeda está por toda parte, da Bélgica a Austrália! A Al-Qaeda é um “logotipo” desenhado para justificar para opinião pública as operações militares. Se Estados Unidos dizem aos seus cidadãos e soldados: "Vamos enviar nossos soldados para o Oceano Índico, a fim de lutar contra a China", as pessoas teriam medo e não apoiariam. Mas se você diz que se trata apenas de combater a pirataria, a Al-Qaeda, não será um problema. O objetivo real é contudo diferente. Ele consiste na fixação de forças na região do Oceano Índico, que será o teatro de grandes conflitos nos próximos anos. Isto é o que iremos analisar num próximo capítulo...

*Mohamed Hassan é um especialista em geopolítica e mundo árabe. Nascido em Adis Abeba (Etiópia), ele participou de movimentos estudantis, por ocasião da revolução socialista de 1974 no seu país. Estudou ciências políticas no Egito, e é especialista em administração pública, em Bruxelas. Como diplomata de seu país de origem, ele trabalhou em Washington, Pequim e Bruxelas. Co-autor de L'ocupação Irak sous (IEP, 2003), ele também tem contribuído para livros sobre o nacionalismo árabe, os movimentos islâmicos e nacionalismo flamengo. É um dos melhores especialistas contemporâneos no mundo árabe e muçulmano.

ORIGINAL
Somalia: How Colonial Powers drove a Country into Chaos
Interview of Mohamed Hassan
by Grégoire Lalieu and Michel Colon
Link: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=17549
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TRADUÇÃO _PORTUGUÊS
Somália: Como o domínio colonial levou um país no caos
Entrevista de Mohamed Hassan*
Por Grégoire Lalieu e Michel Colon
Tradução: Mayara Melo (Diário Liberdade)


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