... que terá como consequência o aumento do desemprego e da pobreza no país. Este plano, iniciado com a aprovação do Orçamento do Estado na Assembleia da República, com a ajuda da direita (PSD e CDS-PP), é bastante semelhante ao plano que o governo da Grécia está a aplicar neste país e cujo repúdio o povo grego já está a demonstrar com greves e mobilizações, inclusive com a realização de uma greve geral marcada para o próximo dia 24 de Fevereiro.
Assim como na Grécia, os trabalhadores portugueses não concordam com este plano do governo Sócrates e da União Europeia de obrigar o povo a pagar a crise que os capitalistas e banqueiros provocaram. A responsabilidade pelo agudizar da crise económica e o aumento do défice das contas públicas para mais de 9% no ano passado deve ser atribuída às medidas do governo de ajuda à banca – só para o BPN foram mais de 3 mil milhões de euros – e à destruição de milhares de postos de trabalho efectuada pelos capitalistas. Enquanto os trabalhadores ficaram mais pobres em 2009, a banca chegou a ter lucros de 13,7% nesse mesmo ano. Por isso, para exigir melhores salários e demonstrar a sua recusa em pagar a crise dos capitalistas, os enfermeiros portugueses fizeram uma greve de três dias no final de Janeiro com cerca de 90% de adesão, coroada por uma manifestação nacional de mais de 10 mil participantes. Por isso, está convocada uma greve geral da Função Pública para 4 de Março.
Os capitalistas e os seus partidos – PSD e CDS-PP – concordam, como é lógico, com o plano de austeridade do governo Sócrates e, por isso, viabilizaram, com a sua abstenção, o Orçamento do Estado apresentado por este na Assembleia da República. Para os capitalistas e os seus partidos interessa, pelo menos por agora, manter o governo Sócrates: porque concordam com o seu plano de fazer com que os trabalhadores paguem a crise e, também, porque não têm unidade suficiente para apresentar uma alternativa. Basta ver a confusão que reina no PSD, com vários candidatos digladiando-se pela sucessão de Manuela Ferreira Leite. Por isso, apesar das bravatas de muitos políticos da direita, eles não apresentam uma Moção de Censura ao governo. Interessa-lhes um governo Sócrates frágil, obrigado a negociar por não ter maioria absoluta, mas que governe para aplicar um plano de austeridade enquanto não pacifiquem as suas hostes e possam vencer as eleições.
Mas com a esquerda deve ser diferente. À esquerda interessa inviabilizar a aplicação do plano de austeridade do governo contra a classe trabalhadora. À esquerda interessa derrotar um governo que foi eleito a prometer melhorar a vida do povo e cujas primeiras medidas são justamente para fazer o contrário. À esquerda importa fazer cair um governo envolvido num escândalo de corrupção como o “Face Oculta”, que dá a exacta medida do que este mesmo governo é capaz de fazer para beneficiar os amigos e silenciar os adversários, entre os quais sectores da imprensa que lhe são críticos. O problema já não é estritamente judicial, mas é também político. O primeiro-ministro José Sócrates, nas actuais condições, não pode continuar a governar como se nada passasse. Se se tratasse de Santana Lopes há muito que a esquerda teria pedido a cabeça do primeiro-ministro e dito, com razão, que este não teria condições, nem sequer morais, para continuar a governar.
Por todas estas razões, consideramos que o Bloco de Esquerda e o PCP devem apresentar uma Moção de Censura ao governo Sócrates.
Ruptura/FER