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b 450 0 16777215 00 archivos Administradores manu 2015 08 DSC 2656Portugal - Cravo de Abril - [João Vilela] São 1372,5 milhões de euros. Por extenso: mil trezentos e setenta e dois milhões e quinhentos mil euros. Cerca de metade do que vai ser gasto no Banif . Cerca de quatro anos de Rendimento Social de Inserção. Cerca de um quarto dos gastos anuais com o SNS. Eis o valor que foi pago pela PT e pela NOS pelos... direitos de transmissão dos jogos de futebol do FC Porto, do SL Benfica e do Sporting CP. 


Foto de Luis Nunes / Diário Liberdade - Manifestação de lesadas pelo BES em Lisboa, em agosto de 2015.

O absurdo destes números torna-se uma obscenidade insuportável quando sabemos de que forma a Meo e a NOS acumularam a espantosa fortuna que pretendem dissipar com estas compras: na exploração desenfreada dos largos milhares de trabalhadores que, em última análise, trabalham para ambas. Digo "em última análise" porque, entre empresas sub-contratadas, empresas de trabalho temporário, recibos verdes fraudulentos e centenas de outros ardis são inúmeras as formas por via das quais estes dois gigantes das telecomunicações reduzem artificialmente a lista dos seus funcionários e, de caminho, os custos que têm com eles. Das lojas às vendas porta-a-porta, dos call-centers ao pessoal de reparações e manutenção, o exército de trabalhadores que estes dois gigantes tem ao serviço é inversamente proporcional aos salários de fome – quando são sequer salários, e não sobrevivem em regimes 100% comissionais a despeito de jornadas de trabalho de 10 e mais horas, na rua, meses e anos a fio, em funções inapelavemente permanentes mas pagas contra recibo verde – com que os remunera ao fim de cada mês. É por isso normal que possam dispender tão prodigiosos números. O que é espantoso é o modo como reagem, ferozmente, a qualquer veleidade de aumentos salariais ou melhoria das condições contratuais no sector! 

Estas empresas utilizam com eficácia uma série de instrumentos montados a pensar nelas: um Estado que ignora ostensivamente as violações laborais, por vezes as mais grosseiras, desde o Tribunal Constitucional até ao inspector da ACT (recordo-me de, em 2011, ouvir na rádio o juslaborista Júlio Gomes dizer numa conferência que o TC "não via uma inconstitucionalidade em matéria laboral nem que ela fosse do tamanho de um elefante e tivesse "INCONSTITUCIONAL" pintado a tinta fluorescente"); um exército industrial de reserva para cuja redução nenhuma política pública decente é levada a efeito porque "o Estado não tem de criar emprego"; a permanente afirmação de que só se reduz esse mesmo exército industrial de reserva com a redução ainda maior dos já violentamente atacados direitos dos trabalhadores; e, para corolário, a existência de uma mão-de-obra ultra-especializada, saída das universidades, com nula perspectiva de emprego na sua área de formação, e particularmente apta a apropriar e desenvolver os procedimentos de trabalho de tais empresas, tornando-as tanto mais lucrativas. Os enxames de licenciados que batem portas atrás de comissões ou que vegetam atrás de balcões onde tentam vender pacotes de canais ou telemóveis da moda aí estão para o comprovar. 

Esta juventude escorraçada de Abril pela contra-revolução, que nunca conheceu o subsídio de férias, a baixa médica, a estabilidade contratual, que nunca chegou ao dia 15 sem contar tostões na carteira, que nunca viu salário ao fim do mês e se fartou de ver mês no final do salário, é a carne e o sangue que permitiu à NOS e à PT dispender mais de mil milhões de euros para poderem exibir jogos de futebol. Este é um problema social de um tamanho imensurável, para cujo fim todo e qualquer indivíduo onde ainda habite a decência comum mais elementar não pode deixar de contribuir. 

Esta juventude tem dado mostras de combatividade, seja através do movimento sindical de classe, seja em organizações que foi levantando para dar mostras da sua indignação (e onde o autor destas linhas participou, com muita honra, desde o primeiro momento). São de saudar todas as suas iniciativas, e de reconhecer a enorme simpatia e mobilização popular que a sua causa atrai. Estes jovens demonstram que, contra todas as profecias absurdas sobre o fim da história, o conformismo, a morte da luta de classes e a redução dos trabalhadores à dócil condição de carneiros do redil, a velha toupeira sobe sempre à superfície da terra, dura e tenaz, inquebrantável na sua determinação, inamovível nos seus propósitos, invencível na sua marcha em frente: a velha toupeira da luta do proletariado pela sua emancipação que também estes jovens, com os mais velhos com quem aprendem e melhoram, ajudam a que um dia ocorra, livrando o mundo dos exploradores. 

É fundamental trazer mais e mais jovens expulsos de Abril pela contra-revolução para o combate pela sua emancipação definitiva. E trazê-los dando-lhes a lição mais válida, a que os mais velhos aprenderam com mais custo e mais sacrifícios, a que pagaram com anos de combate e de erros que foram corrigindo. A lição fundamental é a de que nenhum direito, nenhum progresso, nenhuma alteração por mais miúda que seja, está garantido nesta sociedade. Vivemos na sociedade dos patrões, com um Estado dos patrões, com um modo de produção que só serve aos patrões. 

E enquanto esta contradição fundamental entre capital e trabalho existir, nenhum trabalhador terá sentido ainda o sabor da liberdade, da liberdade verdadeira, que é a de não ter quem o oprima. A lição fundamental é pois a de que não há açúcar, não há palavras doces, não há concessões nem avanços que a burguesia consinta com simpatia que nos devam satisfazer. Devemos aprender com os que combatem há mais tempo que nós a levar o combate até ao fim, sem nos iludirmos com promessas de concessões que o capital só faz para poder, em ocasião posterior, brandir melhor o contra-golpe. Só é solução definitiva a derrota da burguesia e a sociedade socialista.


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