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051215 timorTimor-Leste - Avante! - [Hugo Janeiro] Na sequência do 25 de Abril de 1974 o governo português nunca aceitou negociar com os movimentos revolucionários que haviam conduzido a luta de libertação nem reconhecimento da sua independência completa com base naqueles movimentos.


Hoje, depois da barbárie provocada pela ocupação indonésia, e da independência de Timor em 2002, quase tudo está por construir as potências regionais cercam Timor enche os cofres com as importantes jazidas de petróleo timorense.

Assinalou-se a 28 de Outubro os 40 anos da declaração de independência de Timor Leste, impedida pela bárbara invasão e ocupação indonésia que deixou um país em escombros. Menos a identidade nacional. Essa, foi preservada e floresceu com a resistência.

A proclamação unilateral, a 28 de Novembro de 1975, pela Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin) decorre das condições criadas pela Revolução de Abril em Portugal, potência colonial do território desde o século XVI. Álvaro Cunhal nota em A Revolução Portuguesa. O Passado e o Futuro, que no decurso do processo de descolonização se manifestaram três orientações. «Uma pretendia continuar a guerra» e impor a falsa autodeterminação. «Uma outra admitia formalmente a independência» mas pretendia impedir «a subida ao poder, pelo menos como posição determinante, dos movimentos revolucionários (...)».

«Uma terceira orientação defendia o fim imediato da guerra, negociações com os movimentos revolucionários que haviam conduzido a luta de libertação» e «o reconhecimento da independência completa com a formação de governos na base desses movimentos. Era a posição do PCP (...)».

«A luta entre estas várias concepções iria dar-se incessantemente», afirma ainda Álvaro Cunhal, que relativamente a Timor sublinha que «o governo português procurou adiar a solução do problema» e «acabou por facilitar, com a sua política, a ocupação e anexação desse território pelos fascistas indonésios».

Recordamos aqui a análise de Álvaro Cunhal porque ela conduz à compreensão das questões centrais em que assenta a epopeia do povo maubere pela sua emancipação nacional. Com efeito, desde Maio de 1974 surgiram em Timor três formações políticas que professavam as três orientações acima referidas: a UDT defendia a autonomia progressiva, a Fretilin batia-se pela independência, e Apodeti pugnava o colonialismo pela integração na Indonésia.

Com efeito, a conflitualidade acirrada foi o pretexto invocado pela Indonésia, que a 7 de Dezembro de 1975 anexou Timor Leste, depois do então presidente norte-americano, Gerard Ford, e do seu secretário de Estado, Henry Kissinger, se terem deslocado a Jacarta e dado luz verde a Suarto, a 5 de Dezembro.

Portugal nunca consumou a transição de poder para os movimentos autóctones e é nesse quadro que a ONU, que condena repetidamente a invasão, promove negociações diplomáticas com a Indonésia. O desfecho é o referendo de 30 de Agosto de 1999, no qual mais de 78,5 por cento dos timorenses rejeitam a integração na Indonésia.

Na Festa do Avante! desse ano, pela primeira e única vez, um dirigente de um partido estrangeiro, Roque Rodrigues, da Fretilin, discursa no comício de encerramento. É o corolário do apoio de sempre, da solidariedade ímpar dos comunistas portugueses para com o povo e a causa timorense.

Os ocupantes ainda armaram milícias que mataram cerca de 1.400 civis, reiterando a prática de quase duas décadas e meia de ocupação. Estima-se que o genocídio de timorenses ascenda a mais de 180 mil vítimas.

O braço armado da Fretilin, as Falintil, resistiram 24 anos à repressão e extermínio, gozando de crescente implantação entre a juventude e as massas populares. A 12 de Novembro de 1991, uma romagem ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, termina num massacre de centenas de pessoas. A causa timorense ganha espaço mediático. A igreja Católica e a a resistência no exílio assumem papel relevante e em 1996 o bispo Ximenes Belo e José Ramos-Horta são distinguidos com o Prémio Nobel da Paz.

A ONU assumirá depois do referendo o controlo militar e administrativo de Timor. Quando a 20 de Maio de 2002 é restaurada a independência, Timor dispõe de uma constituição, de um governo liderado por Mari Alkatiri com suporte maioritário da Fretilin no parlamento, e de um presidente, Xanana Gusmão.

Timor detém também importantes jazidas de petróleo, capazes de dotar o país do progresso social e económico negado durante séculos ao seu povo. A ganância de abocanhar tal riqueza por parte das potências vizinhas com colaboradores internos tem impedido que o primeiro Estado soberano do Século XXI, onde quase tudo está ainda por construir, assuma a maioridade, palavra que noutra forma pode dizer-se emancipação, tanto mais perto de ser alcançada quanto, como expressou Jerónimo de Sousa em Julho de 2006, durante nova vaga de violência no território, deixarem «os timorenses construir o seu país». Sem ingerências.

* Jornalista

Este texto foi publicado no Avante Nº 2192 de 3 de Dezembro de 2015


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