Logo, por isso mesmo são sabotadas pelo agronegócio que tem total apoio do estado. Não trabalhar, não usar dinheiro, não se sujeitar a indústria cultural, não viver uma vida sem sentido, ou seja, mercantil. É desertar e fugir das desgraças que o branco traz desde 1500 que nos servem para reparar ou aumentar nossa passividade e servidão.
Nossxs nativxs estão sim na cidade. A terra que tentavam ao máximo viver, está muito frágil e maltratada. Para sobreviverem, enfim, veem-se obrigadxs a viver na cidade e buscar os recursos para suas famílias que estão sofrendo junto as florestas. Esses povos não são só recordação nos livros de história, eles existem e são de carne e osso. Espalhados por todas as terras de Abya yala seguem resistindo a sua maneira. Parece uma derrota a necessidade de vir a cidade, mas as tradições, os conhecimentos, a língua materna, jamais morrem dentro do peito de cada nativx. Vendendo seus artesanatos, contando sobre sua vivência, tentando ter voz.
Sem perder a sabedoria e a calma, esses povos guerreiros ainda aturam os brancos progressistas e consumidores turistas que adoram o que lhes parece exótico, excêntrico. Eles vêm aos montes procurando defeitos e falhas nos bichxs do mato e seus materiais. Consumidorxs atentxs olham de cima a baixo o que futuramente virá a ser lixo. E batem palma como se estivessem em um cinema, se pintam com pinturas sagradas para xs nativxs, invadem seus rituais de hora marcada para x consumidorx, esvaziam séculos de tradição. Tiram fotos como se estivessem em um zoológico, brincam com o que antes servia para matar europeus invasores, enfim apreciam o que lhes parece nada mais que um Espetáculo.
Ser branco já não mais se limita a cor de pele. Todxs somos seduzidxs pelo mundo branco, perdemos identidade, rosto, tornamonos manequins. Que vagam de um lado para o outro procurando um sentido para a tua existência, que atacam x outrx, que querem se sentir superiores, aceitxs, que têm vergonha de tua própria existência, objetos perdidos e apressados. Flutuando no vazio esperam a morte com certa ansiedade, pois da agonia descobrir-se parte de um nada.
Querer a demarcação de terra para teu povo é uma importante luta. Mas, há muitos outros povos que perderam a terra, há muitxs outrxs que precisam de ajuda. Todas as lutas devem crescer juntas e desenvolverem-se com a diversidade da mesma. A categorização das lutas nos divide e limita. Distraidxs nos atropelamos, dando um passo a frente e voltando o dobro. Todxs devemos actuar juntxs para desertar e fugir do Império. A escuta e a consequente troca de conhecimentos é o que nos unirá e fortalecerá. Reaprender a ouvir e a falar, replantar o que foi morto pelo asfalto.
Umx pretx ser dono de uma multinacional?Um povo nativo com um hospital e escola perto de tua aldeia? Liberdade, de consumo? O deserto continua com seus ventos a jogar areia por todo o lado. A corda que esta no pescoço dessas pessoas é afrouxada, mas continua lá. Limpar nossos olhos fará enxergarmos x outrx que nos parece distante. Nos fará enxergar a terra habitável, sucumbirá a civilização. Não nos distraiamos mais.