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031215 delcanhoArgentina - RBA - [Eduardo Maretti] Nicolás del Caño, candidato esquerdista que teve 815 mil votos na eleição presidencial, diz que, com novo presidente, argentinos vivem expectativa sobre o grau do ajuste neoliberal que será adotado.


Nicolás del Caño, candidato à presidência da República pela coalizão da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT, na sigla em espanhol), situada mais à esquerda no espectro político argentino, prevê um cenário difícil para seu país a partir da posse do neoliberal Macri, no próximo dia 10 de dezembro.

Considerado uma espécie de Aécio Neves argentino, que deixa o cargo de prefeito de Buenos Aires para assumir a Casa Rosada, Macri sucede Cristina Kirchner, sob expectativas pessimistas de setores progressistas do país, o que inclui o campo da esquerda peronista representada pelo kirchnerismo. "A direita na Argentina tem a intenção de aplicar o ajuste (fiscal), e o que precisamos ver é até que ponto Macri poderá aplicar esse ajuste, de que maneira. Ele prometeu que vai manter os subsídios (a políticas sociais), se é que vai manter a promessa. Se não mantiver, vai haver forte crise política e social", avalia del Caño.

O trotskista Caño obteve uma votação significativa no primeiro turno da eleição, encerrada no mês passado: com 815 mil votos (3,3% do total dos votos válidos), ficou em quarto lugar. Para efeito de comparação, em termos percentuais, obteve o dobro do resultado de Luciana Genro no Brasil em 2014 , quando a candidata do Psol conseguiu 1,6%.

Dirigente do Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) – que forma a coalizão com o Partido Obrero e a Esquerda Socialista – del Caño exibe um discurso semelhante ao de setores da esquerda brasileira para a qual os candidatos do PSDB e do PT são equivalentes sob um ponto de vista muito objetivo: a luta de classes.

"Obviamente que Macri e Daniel Scioli (o candidato de Cristina, derrotado) não são a mesma coisa. Há diferenças de matizes entre Cristina e Macri ou entre Scioli e Macri. O que acontece é que, do ponto de vista dos interesses para os quais governam, são os mesmos interesses", analisa. "Mas agora há um representante mais fiel do capitalismo, que faz parte de um clã, de uma família capitalista argentina, que é Macri", reconhece.

Segundo a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), as políticas públicas de inclusão e distribuição de renda durantes os 12 anos de gestão Néstor e Cristina Kirchner obtiveram resultados concretos e importantes, como a redução da pobreza: de 2006 a 2009, o índice de cidadãos em "alta vulnerabilidade social" caiu de 21% para 11,3%. Houve aumento de salários (à semelhança do que ocorreu no Brasil de Lula e Dilma), criaram-se políticas de subsídios que ajudaram a população a arcar com o fornecimento de energia e gás, por exemplo, além da renacionalização da empresa de petróleo YPF e a empresa aérea Aerolíneas Argentinas, para não falar da Ley de Medios, que enfrentou o poderoso império midiático encabeçado pelo grupo El Clarín.

Apesar das conquistas, del Caño acredita que o kirchnerismo padece de um problema grave: "uma das piores coisas para a consciência dos trabalhadores no kirchnerismo, e setores do peronismo, é que para eles os trabalhadores precisam esperar que as coisas venham desde cima, desde o Estado, e vão sendo concedidas certas reformas graduais como benefícios à classe. Nossa perspectiva é completamente distinta: os avanços têm de vir de baixo para cima", explica.

Ele aponta para uma grave distorção que não foi combatida pelo kirchnerismo: a propriedade da terra. Na Argentina, diz, há cerca de 4 mil latifundiários. "A oligarquia latifundiária concentra 50% das terras cultiváveis do país e 70% das empresas mais importantes são estrangeiras. Não houve mudanças estruturais."

Segundo a Frente de Esquerda composta pelo partido de del Caño, sob o discurso de "desendividamento" dos governos kirchneristas, a Argentina pagou mais de 200 bilhões de dólares de dívidas aos mercados. As multinacionais remeteram ao exterior, "impunemente", 70 bilhões de dólares na década.

Brasil e América Latina

Se setores progressistas brasileiros e latinoamericanos avaliam a eleição de Maurício Macri como um sério retrocesso, Nicolás Del Caño relativiza as consequências que vêm sendo projetadas. ‘"Representa uma forte crise dos governos autodenominados progressistas na América Latina, que se mantiveram sob os limites impostos pelo capitalismo. O importante para a América Latina é que emerja e se consolide uma esquerda independente, tanto da direita como dos governos que têm garantido os negócios dos grandes capitalistas nos últimos anos", afirma. "A diferença entre Scioli e Macri é sobre como fazer o ajuste, mais ou menos gradual, se vai ser com tarifaço, ou não, mas sem tocar nos interesses dos grandes empresários."

Na opinião do dirigente, o Brasil da presidenta Dilma Rousseff e do ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é um indicativo de que as diferenças de Scioli e Macri são mesmo de "matizes": "me parece que Dilma está cedendo permanentemente à pressão da direita brasileira". No segundo turno na Argentina, del Caño e seu grupo defenderam o voto em branco. "Defendemos não fazer alianças, como (no Brasil) o Povo sem Medo fez, ou o Psol fez, com setores do PT. Cremos que esquerda não pode fazer aliança com um governo que aplica um ajuste."

Ainda segundo o ex-candidato da FIT, sua "corrente irmã" no Brasil é o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), entidade que se autodefine como "uma nova organização que luta pela revolução socialista, contra o sistema de exploração que vivemos hoje no capitalismo e busca uma sociedade sem classes, sem opressões e violência social, sem a soberania do capital".


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