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081015 talqualPortugal - ACP-PI - Olhamos para estes resultados à luz do que foram os últimos quatro anos e vemos que os partidos da austeridade perderam 730 mil votos, enquanto dos partidos à esquerda da coligação houve um ganho de 444 mil votos.


Os resultados das eleições do passado domingo viraram uma página na política nacional e mostram de facto as novas contradições que existem no país, com fortíssimo condicionalismo a partir da Europa. Com mais de 50% dos eleitores a votarem em partidos que apostavam no fim da austeridade, o partido mais votado acabou por ser “o” partido da austeridade, aclamado pela imprensa internacional conservadora e pelas instituições europeias. No meio está um partido socialista, atado pelos constrangimentos internacionais e a redefinir onde está o centro da política nos dias de hoje. A dicotomia esquerda-direita esbate-se na era da austeridade e as decisões do PS definirão novas fronteiras sociais e políticas.

Se é certo que a coligação PSD-CDS, sob a sigla PàF, foi a força política mais votada (seria o PSD individualmente o partido mais votado? – em 2011 teve sozinho mais do que agora em coligação) com 36,8% dos votos e 99 mandatos no parlamento, os partidos que se apresentaram a eleições prometendo virar a página da austeridade (PS) ou enterrar as políticas de austeridade (BE, CDU, outros partidos mais pequenos), obtiveram 50,9% dos votos e 121 mandatos no parlamento, o que permitiria hipoteticamente a constituição de um governo de maioria absoluta.

A questão que se coloca não é no entanto acerca da derrota ou não da coligação governamental, mas sim de que PS sairá do rescaldo destas eleições. Um PS que não conseguiu perante o governo mais radicalmente liberal da história do país, que mais pressão social e popular sofreu, vencer. E a questão já não se coloca na tradicional distribuição do poder entre as máquinas partidárias, mas nas políticas centrais do país: que alternativa propôs, e que alternativa tem o Partido Socialista a apresentar à população quando a maior parte dos votos expressos em urna se manifestaram contra o governo da legislatura anterior? Que margem tem o PS para, dentro dos constrangimentos dos tratados internacionais e da dívida explosiva, propor uma política, se não socialista, pelo menos progressista?

A resposta é: pouca. Os partidos à sua esquerda, com quase um milhão de votos e 36 deputados, abriram as portas a um acordo à esquerda, mas não há ainda resposta por parte do PS, que se encontra na encruzilhada que, mais cedo ou mais tarde, chegaria. Num espaço europeu de austeridade, os cenários que existem à frente o PS são os que se colocam pouco a pouco, a todos os partidos socialistas europeus: o PASOK, na Grécia, desapareceu porque o campo político em que se colocava esfumou-se ao aplicar a austeridade selvagem; no Labour do Reino Unido assiste-se a uma inédita viragem à esquerda, liderada por Jeremy Corbyn; em Espanha o PSOE deverá assistir brevemente a um cenário similar ao português, havendo indicações de uma derrota do PP (partido que governa actualmente), mas que pode não ser suficiente para removê-lo do poder; em França a catastrófica governação ultraliberal de Hollande promete tornar a próxima disputa eleitoral numa batalha entre a direita de Sarkozy e a extrema-direita de Marine Le Pen, com o ocaso dos socialistas, que para contrariar esta tendência governam cada vez mais à direita.

Hoje uma das chaves da política nacional e europeia prende-se com a transformação ou estagnação e decadência dos antigos partidos socialistas. A sua estratégia de apelar à política progressista e governar com austeridade esgota-se, já que o desgaste eleitoral e social que sofre é muito superior ao da direita que aplica a política que sempre defendeu de Estado mínimo, gastos mínimos, transferência de riqueza para a banca e a finança. Virar à esquerda, virar à direita ou ficar à espera são as três possibilidades em cima da mesa. Em Portugal essas mesmas opções materializam-se ou num governo anti-austeridade, num governo de bloco central austeritário ou num governo minoritário de austeridade com o beneplácito do PS, que se retira das decisões centrais para fingir que aguenta outras eleições depois de anos a fingir de árbitro.


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