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150210_compos.jpgA Gentalha do Pichel - O entruido é a festa do riso e da burla na Galiza. Existem multidom de expressons locais desta celebraçom. 


A nossa pretensom na Gentalha foi encontrar informaçom ou dados sobre as características concretas do entruido da comarca de Compostela e o entruido urbano, formas de celebrar estes festejos e outras características, mas nom conseguimos muitos dados concretos sobre esta celebraçom na cidade e paróquias próximas. 

Os Generais do Ulha constituem a mostra mais destacável dum entruido tradicional que perdura.

Além disto, pudemos ler ou ouvir algumha informaçom pontual sobre o Meco, os entruidos das classes mais altas e as comparsas na nossa cidade. Podemos extrapolar informaçom geral dos entruidos urbanos da Galiza a nível geral. De certo contará com características genéricas que som comuns ao da nossa cidade.

Do entruido rural ao urbano

O pós-guerra; 

Da mascarada tradicional fica pouco na Galiza actual.

Nom tem o mesmo sentido nem as mesmas conotaçons de outras épocas cultural e socialmente muito diferentes.

A forte repressom de 36 e do pós-guerra, o êxodo rural por causa da emigraçom e da indústria, a ruptura do isolamento das aldeias e o processo de urbanizaçom fôrom encurralando a tradiçom, os ritos, festas e costumes do entruido.

Brincadeiras, máscaras, sátiras e comparsas sobrevivem em contadas localidades apesar da empobrecedora universalizaçom das pautas de comportamento alheias e colonizadoras.

Desaparece o entruido tradicional galego como esmorece o conceito de aldeia como modo particular de ver e viver a vida.

Paralelamente a estes entruidos rurais, celebram-se na Galiza desde meados do século XIX e com os altibaixos impostos pola repressom, entruidos urbanos introduzidos e organizados por elites económicas e sociais das cidades galegas a quem se somárom as pequenas burguesias emergentes nas Vilas.

Era um tipo de entruido que tencionava ser fino e elegante, desprovido das “rudes” celebraçons próprias da aldeia.

Um “carnaval” alheio à simbologia mítica da Galiza tradicional e com umha forte componente classista.

Carnaval de casino e desfile de carroças que perde o seu carácter iconoclasta e subversivo das gentes dos arrabaldes.

Umha festa de bom gosto e boas maneiras.

O entruido rural satírico e crítico de fartura e de inversom de papéis era perseguido; o da cidade nem tanto. Mas nom se livrou de rígidos contróis dos guardiáns da moralidade integrista de 39.

A gente gozava dum entruido de círculos recreativos, casinos, sociedades culturais (disfarces bonitos e custosos, rondalhas e comparsas fardadas, carroças, bailes de mascarinhas, confete, serpentinas e amêndoas).

Um entruido limitado à imitaçom dos costumes das grandes cidades europeias tributárias da tradiçom italiana configurada no S.XVIII.

Finais dos anos 70-80

Em 1977, com a nova situaçom político social surgem novos hábitos sociais e culturais.

Nesta altura o entruido tanto rural como urbano estava bastante perdido, quase esmorecendo.

Era umha situaçom de desorientaçom e desarraigamento cultural e social no referente ao sentido de vida colectiva tam necessário para viver o entruido. Várias geraçons nom conheciam esta festa.

A década de 80, contra todo o pronóstico, foi um momento de renovado entusiasmo polo entruido.

Ano após ano saíam às ruas cada vez mais pessoas mascaradas, mais comparsas…

Entende-se que isto se deve a que a sociedade urbana precisa também válvulas de escape. Num mundo urbano em que se imponhem as regras do mercado, em que a vida se regulamenta e aperta oculta e duramente, converte-se o entruido num período idóneo para descontrair, sorrir, criticar, satirizar, ridiculizar o poder, parodiar, mudar de personalidade, ser outra, libertar-se da própria identidade, representar outro papel.

NOVOS TEMPOS; COMO DEVE SER O ENTRUIDO URBANO ACTUALMENTE?

A vida na Galiza actual passou de pivotar sobre a aldeia para girar sobre vilas e cidades.

As pautas de comportamento da gente do rural e da cidade parecem-se cada dia mais.

Cada tempo e mentalidade tem as suas formas de expressom e, como o entruido é umha tradiçom que inova e cria cousas cousas muda cara certa falta de expontaneidade e carácter de festa municipal programada e subencionada (matices que atentam contra a essência anticontrolo e antirregulamentaçom dos usos e costumes do entruido). 

Este entruido que ressurge em vilas e cidades nom aflorou espontaneamente senom fomentado e estimulado com prémios e concursos polos departamentos de cultura e festas (o seu próprio carácter urbano dificulta a espontaneidade e autenticidade).

Desde o momento em que todo se regulamenta (até a diversom) segundo critérios de “ordem social”, “bom gosto”… o entruido nom pode ser mais do que um renovado divertimento sem os encantos tradicionais.

Mas pode ser possível de outro modo? (tendo em conta que carece de essa espontaneidade) temos que ter em conta que já se passou de celebrar um outro entruido baseado em padrons estéticos e premeditados.

Nom teria muito sentido nem êxito pretender que o entruido que ressurge no ámbito urbano se caracterize pola presença de choqueiros, velhos, peliqueiros, murrieiros e que a brincadeira típica fosse o emporcalhamento de farinha... (“cada cousa no seu tempo e seu lugar”).

Os poucos contados entruidos que sobrevivêrom demonstrárom fortaleza bastante, mas nom tem muita viabilidade onde rompeu a tradiçom.

O entruido urbano carece de espontaneidade pola idiossincrasia das pessoas urbanas. Nas cidades há um maior isolamento social e maior individualismo. Nom existe o mesmo sentido de colectividade que na aldeia ou na paróquia, a gente nom se conhece tanto e isto dificulta que a gente faga brincadeiras entre si.

A falta de integraçom colectiva fai com que a gente vaia ao centro da cidade contemplar passivamente o que acontece nas cavalgatas.

Surge assim um estímulo diferente da criatividade; a gente que participa activamente fomenta a sua criatividade à procura de galardons.

O entruido que ressurgiu nos anos 80 na Galiza é urbano e moderno, afastado de rituais tradicionais e variedades autóctones.

As aldeias perdêrom vidas em favor de vilas e cidades que é onde se centrou o renascimento do entruido. Este recuperou-se num momento em que parecia que esmoreceria totalmente e instalou-se nas cidades numha nova expressom.

Nestes anos, as classes mais urbanas passam de ser espectadoras do entruido a fazer parte dele (embora tenham dificuldades para perder a vergonha).

Ao nom haver coessom social nem conhecimento mútuo a expressom deste entruido tem outras características; comparsas e charangas som as expressons típicas do entruido popularizado na cidade (no Domingo, Segunda e Terça Feira Gorda).

Nos primeiros anos da transiçom política produziu-se um pequeno boom turístico aos entruidos rurais. A gente queria ver peliqueiros, pantalhas, generais e outras mostras de singularidade do entruido. Isto implicou um acordar, umha vontade de sair à rua e foi muito criticada a intromissom do poder municipal naquilo que era suposto ser a organizaçom dumha festa do povo, livremente e sem regras e normas, carregada de crítica social e política.

O entruido urbano distingue-se do rural polo seu refinamento, polo culto e bonito em vez do grotesco, polo controlo e seguimento por parte das autoridades. As batalhas de confete desterrárom outras mais engraçadas com água, grao, farinha ou ovos podres . 

A elegantes carroças dos desfiles desterrárom as modestas comitivas da aldeia.

Os disfarces vistosos desterrárom os disfarces improvisados.

Os bailes desterrárom os folions das aldeias.

Um assnetava no “elegante” e o outro no rito e a ruptura

OS GENERAIS DO VALE DO ULHA.

ORIGENS:

À umha e outra margem do Ulha conservam-se as mascaradas rurais que protagonizam os Generais e Correios com os seus atranques e altos. 

Estes constituem umha herança da guerra da Independência, as guerras civis e o militarismo do S.XIX.

Esta estrutura da mascarada, convertida em exército do século XIX, sobrepujo-se às velhas disputas de mouros e cristaos (representadas em Cameixa; Boborás, Ourense por exemplo) que apresentava umha estrutura similar. A diferença é que disputas nom tenhem tom humorístico, nom som parte do entruido e acabam em batalha campal. O Atranque acaba arranjando-se.

Os atranques nos limites das paróquias som umha mostra de afirmaçom da identidade colectiva mais autêntica na Galiza rural: a da paróquia (que se constitui em exército e se relaciona de igual a igual com o exército vizinho).

É um costume muito estendido antigamente pola geografia galega e era mostra dumha relaçom de boa vizinhança com a outra paróquia.

Estes atranques até a década dos 80 faziam-se em castelhano ainda que a dia de hoje vemos que em numerosas paróquias já se fam em galego .

ONDE SE CELEBRAM E CARACTERÍSTICAS

Reboredo e Marinho Ferro contabilizárom 31 mascaradas de generais repartidas polos concelhos de Teio, Vedra, Boqueixom, Touro, A Estrada, Silheda e Vila de Cruzes. 

Localidades como Cacheiras, Sergude, Bandeira, Ribadulha, Lestedo Santa Baia de Vedra ou Arins organizam anualmente os seus exércitos na rua para festejar o entruido. Percorrendo os lugares dando os seus vivas e convertendo-se em um dos pontos de referência do entruido tradicional galego.

As comparsas saem por paróquias. Ainda que existem pequenas variantes, a composiçom das comparsas do Ulha e do Deça é muito similar.

À frente destas mascaradas vam os correios ou lanceiros. Montam elegantes cavalos e adiantam-se à comitiva para anunciar a sua chegada; som a comitiva do pequeno exército paroquial.

Atrás venhem os generais; vam de a cavalo e abrem e encerram a comitiva.

Generais e correios vestem de forma parecida. Diferencia-os a funçom que assumem .

Todos chamam à atençom polas fardas de grande gala e polo porte dos cavalos (também enfeitados para nom desluzirem).

O general leva um tricórnio, bicórneo ou uros com penas chamativas, casaco cheio de enfeites, charreteiras, bordados, blocos, bandas de cores, bandeiras, faixa e espada. As medalhas distinguem o general do correio e o seu cavalo luz um espelho adornado na cabeça mentres que o do correio leva campainhas.

Cerca do general vai um abandeirado e depois o coro principal (com a farda tradicional) e o coro de velhos (composto polas pessoas adultas da paróquia ou aldeia principal), seguidos das comparsas e disfarçados dos mais variados modos (denominados a parranda em que se costuma representar os ofícios).

A comitiva percorre a pé aldeia após aldeia até completar toda a paróquia.

OS ALTOS:

O objectivo da comparsa dos generais é visitar todas as casas para presentearem todas as famílias que a componhem e, reafirmando a unidade da paróquia, obter umha contribuiçom económica para o desenvolvimento da festa.

A comitiva detém-se diante da casa e o general, de pé sobre os estribos e sempre em castelhano, pronuncia umha frase ritual em que se incluem o dados do interessado:

“atención, señores, digan conmigo a una voz: viva don ---- en compañía de su esposa y de toda sua familia como natural de la parroquia de --- y vecino de ---.”

Público e acompanhantes respondem ao “viva” do general e este acrescenta:

“viva la gente de su mayor aprecio”. Seguido dum novo “viva” colectivo.

O ponto forte da saída dos generais som os atranques ou enfrentamentos que antigamente eram entre comparsas de duas paróquias e hoje som internos entre generais e correios da mesma paróquia. 

Som choques verbais e rimados; som regueifas que adoptam aprender de memória e que som seguidas com grande atençom polo público.

Os dous contendentes abordam nesta luita dialéctica temas variados da vida local, política local ou estatal ou factos históricos; sempre com ironia e paródia do militarismo exagerado. 

Finalmente impom-se o sentidinho e após a dureza dialéctica chega-se a um arranjo pacífico que culmina com paz e uniom das paróquias.

COMPARSAS E COPLAS

A gente acomodada na cidade que investia tempo e dinheiro em disfarces ostentosos e carroças consolidou na segunda metade do S. XIX e primeiro terço do S. XX a tradiçom urbana das comparsas.

Esta tradiçom enraizou quase espontaneamente tanto entre a gente endinheirada como a menos favorecida.

A comparsa é composta dum grupo de indeterminado número de pessoas que se disfarçam igual com algum tipo de carroça ou similar.

Podem ir com umha charanga ou ela própria contar com acompanhamento musical.

A comparsa costuma interpretar coplas e cançons satíricas e fazer ruadas.

A formaçom destas comparsas está ligada ao aburguesamento de amplas camadas da sociedade.

A comparsa de disfarce bonito popularizou-se; é um bom instrumento para aglutinar sectores cidadaos e canalizar o espírito colectivo da festa. 

As coplas cantadas e coreadas som umha das variantes que pode tomar a expressom do humor ou da sátira popular. Vale qualquer tema, música e qualquer qualidade.

O MECO

Quase todos os entruidos contam com umha personagem representativa.

A triunfal apresentaçom e a trágica morte marcam começo e final destas festas.

O nome varia segundo as zonas mas os nomes mais populares som “Entruido” e “Meco”. Às vezes mesmo há casais: A Meca e o Meco; o Entruido e a Entruida.

Tradicionalmente o boneco de Entruido fazia-se de palha e vestia-se com roupa velha. A mocidade encarregava-se de o fazer, da ruada e colocaçom num lugar concorrido da paróquia (mesmo pendurado dumha árvore). Ali estava até ao fim da festa e finalmente queimava-se ou atirava-se a um rio na Terça de Entruido à noite.

A vizinhança participava na farsa dum julgamento; disfarçavam-se de cregos, juízes, pessoas acusadoras, pessoas defensoras e choronas que acompanhavam o cadaleito; também acompanhava a descendência espúria.

Antes de proceder à queima ou enterro, umha das pessoas presentes lia o testamento do Meco finado (em que deixava para as vizinhas e vizinhos aquelas peças de roupa ou partes corpóreas que mais falta faziam). Este acto punha fim ao Entruido.

Compostela optou polo Meco, bom conhecedor das ruas e cantinhos; personagem enigmática que supostamente fijo grande mal aos galegos e galegas.

Por palavras do P. Sarmento havia umha maliciosa pergunta que no S.XVIII era feita: já perdoáramos o Meco?.

Pensa-se que a origem do Meco está nas trasnadas que fijo na vila costeira de Ogrove (lenda situada entre o SXV e o SXVI). Ele exercia ali de Padre e diz-se que era um assediador de mulheres. Fôrom precisamente estas que o esganárom numha figueira.

A lenda conta que quando o julgárom, à pregunta de “quem esganou o Meco?”, as mulheres do povo respondêrom: “-matamo-lo todas!!”

A lenda pretende ser crítica com as pessoas que gozavam dos excessos carnais (sexuais e hedonistas em geral); com as pessoas que tenhem a obriga de dar exemplo e nom cumprem o que predicam.

Como já contamos, este boneco de palha ou papel acaba ardendo “inquisitorialmente” nas chamas. Mas ninguém questiona a morte já que assim se tem feito sempre, sabendo previamente que a sua desapariçom é um trámite e que voltará a estar connosco no próximo ano. Morre simbolicamente a pessoa com defeitos e vícios e nasce a pessoa virtuosa e responsável.

O QUE PENSAMOS NA GENTALHA DO PICHEL

Da Gentalha cremos que é necessário recolher e recuperar a memória histórica do entruido da nossa cidade (tanto rural como urbano).

Como compostelanas e compostelanos sabemos que tem grande importáncia o conhecimento das nossas tradiçons nestas datas.

É necessário que desde as redes de relaçom social como os bairros e paróquias ou associaçons vicinais de Compostela trabalhemos na reactivaçom desta celebraçom popular.

Devemos sair à rua, disfarçar-nos, divertir-nos, relacionar-nos. 

Esta recuperaçom do entruido também deve incluir certo cuidado pola nom folclorizaçom desta festa como espectáculo para o turismo alheio à Galiza.

Apostamos no entruido como mascarada popular de carácter crítico, reivindicativo e subversivo (principal sinal identitário do entruido popular).

E, evidentemente, queremos reivindicar que esta festa seja feriada. Porque é parte da cultura galega, porque tem grande seguimento e porque é umha festa nossa.

Biliografia:

COCHO FEDERICO, O carnaval en Galicia. Edicións Xerais de Galicia

CONCELLO DE SANTIAGO, O Meco do Antroido Compostelán 1993

 


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