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150611_culturaangolanaAngola - Jornal de Angola - A proposta de eventos culturais em Luanda e noutras províncias do país ainda é pobre e pouco diversificada, segundo Otiniel Silva. Em entrevista ao Jornal de Angola, o promotor que organizou recentemente um concerto no espaço Elinga Teatro, em parceria com o Goethe-Institut Angola, para assinalar o 25 de Maio, Dia de África, disse que os "produtos culturais" do mercado local são caros e quase sempre repetitivos, uma das razões que empobrece a "oferta".


Jornal de Angola – Que avaliação faz do espectáculo do Conjunto 70 e da prestação dos DJ alemães no concerto realizado recentemente no Elinga Teatro?

Otiniel Silva – A avaliação é positiva, em termos gerais, tendo em conta a adesão do público, o ambiente instalado no local, a reacção do público relativamente ao Conjunto 70, bem como às músicas tocadas pelos DJ alemães.

Ver gerações diferentes a conviverem num mesmo ambiente foi uma das nossas intenções, o que achamos boa, e já estão a 'cobrar-nos' um próximo evento do género. As pessoas não têm noção do quão difícil foi organizar o concerto.

JA – Os músicos revisitaram temas e ambientes de um período áureo da música popular angolana. Haverá mais concertos do género com o mesmo grupo ou com formações diferentes?

OS – É nossa pretensão organizar espectáculos semelhantes com outros artistas. O objectivo principal era proporcionar, tanto aos músicos como ao público, momentos ímpares. Como deve ter notado, os músicos tocaram não só temas antigos, mas também tocaram à maneira antiga, sem o uso de bateria, criando-se um clima quase que nostálgico.

Gostaríamos imenso de voltar a organizar concertos semelhantes, tanto aqui como fora do país. Com o sucesso na Europa da colectânea "Angola Soundtrack", da produtora alemã Analog Africa, compilada pelo DJ Samy Ben Redjeb, abriu-se uma nova porta para a exportação da música angolana além fronteiras e estamos neste momento em negociações para quatro concertos em Amesterdão, na Holanda, com uma banda angolana que produza de maneira igual a música dos anos 70 (do século XX).

Quanto à formação da banda é prematuro avançar dados. A ideia é juntar músicos capazes de extrair sonoridades de moda antiga.

Com esta primeira formação do Conjunto 70, achamos que estamos próximos. Durante os ensaios, tanto eu como os músicos, vivemos momentos inesquecíveis. Lembro-me das vezes que os artistas ensaiavam o tema "Benguela Libertar", com solos do guitarrista Boto Trindade. Foi realmente um momento ímpar que nunca me vou esquecer.

JA – Como avalia a recepção do público, num espaço (Elinga) que, em Luanda, alberga as mais modernas produções musicais da actualidade?

OS – A recepção do público foi bastante positiva. Não tivemos receio, porque as pessoas que frequentam o Elinga são versáteis, ou seja, adaptam-se à diversidade de produtos culturais que ali apresentámos.

Escolhemos a jornada em comemoração ao Dia de África para realizar um evento do género e que, por esse motivo, nos dava mais garantia de receptividade, principalmente porque estávamos a festejar o 25 de Maio, consagrado ao nosso continente.

Na verdade, a recepção foi surpreendente, porque superou as nossas expectativas. Além disso, não foi de estranhar a presença, naquele espaço, dos artistas que começaram a tocar nos anos 70, no caso dos Tullingas, Chico Monte Negro, Abana Maior, Dulce Trindade, Carlitos Timóteo, Baião, Boto Trindade e Mamukueno, pois alguns deles têm frequentado o local.

Todos eles sentiram-se regozijados com a nossa iniciativa. O guitarrista Belmiro Carlos, da União Nacional de Artistas e Compositores (UNAC) e o guitarrista Marito, dos Kiezos, felicitaram-nos pela iniciativa.

JA – Pretendem continuar nessa linha de promoção artística ou encaram outras perspectivas?

OS – Futuramente, vamos organizar seminários sobre música. O nosso objectivo é oferecer alternativas culturais, aproximando cada vez mais o artista do público.

Até agora produzimos concertos com Hélder Mendes, Jack Nkanga e, o último, com o Conjunto 70, que teve a participação de dois DJ alemães que tocam Afro-Beat. Promovemos debates radiofónicos sobre música angolana, da década de 70, e temos, neste momento, uma exposição aberta ao público do artista Marco Kabenda, intitulada "Mamã África". A nossa linha de oferta já é, por si só, diversificada.

JA – Que "leitura" faz da exposição "Mamã África", de Marco Kabenda, patente no Elinga-Teatro?

OS – Muito boa, tendo em conta o número de visitantes, assim como a inovação do pintor, que apresenta motivos bicromáticos, com tons preto e branco. Também é positiva devido à venda de quadros que se registou logo na primeira semana da inauguração da exposição, uma das actividades que assinalou o Dia de África.

Em "Mamã África", que encerra no dia 4 de Junho, o artista apresenta-nos o caos urbano. Ele critica a desordem social, religiosa e económica, porém, no seio de tudo isto, ressalta o papel da mulher que está presente em todas estas áreas, destacando as mães e as zungueiras. Ele retrata a maneira como a mulher angolana, de forma justa, procura o sustento da família.

Por outro lado, o Marco é um grande pintor e um verdadeiro artista, que usa a sua criatividade para espelhar o nosso quotidiano.

JA – Para quando a próxima actividade e o que se pode esperar?

OS – Neste momento, entramos num período de reflexão. Mas, até agora tudo tem corrido bem, mas temos muito que melhorar do ponto de vista técnico e organizativo para melhor servir os artistas e o público. Temos tido apoio do Movimento X e da Associação Cultural Elinga-Teatro, com quem colaboramos.

Pensamos organizar eventos noutros espaços da cidade, como no Cine Teatro Nacional, e noutras províncias, como Cabinda e Uíge, e no exterior do país. Para isto, precisamos de articular muito os aspectos de ordem económica, principalmente.

JA – Como avalia o mercado artístico, assim como a proposta e o consumo de produtos culturais no país, particularmente em Luanda?

OS – Para ser sincero já se faz muito mais do que há alguns anos, mas no que toca à oferta continua ainda muito pobre e pouco diversificada.

Uma outra situação que empobrece o mercado deve-se aos preços praticados pelos organizadores de espectáculos. Eu percebo que a vida em Luanda é bastante cara e, à semelhança de outros sectores, os preços são inflacionados.

Sendo a cultura um vector importante para o desenvolvimento de uma sociedade, acho que deveria haver um maior investimento por parte do mundo económico (empresários, bancos, etc.) em actividades artísticas e culturais, de modo a diversificar e torná-las mais acessíveis ao grande público.

Embora a nossa economia registe crescimento, ainda há um grande número de pessoas sem poder de compra. Outra questão que me preocupa é o facto de haver poucas actividades culturais para crianças. Geralmente, aparecem algumas durante a jornada em prol do 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, e de quando em vez há espectáculos do tipo "Ruca e Nodi" para um grupo muito restrito de crianças, devido ao elevado custo dos ingressos, e que mesmo assim são eventos pouco estimulantes para o desenvolvimento cultural da criança. Portanto, no que se refere à oferta e ao consumo de bens culturais, temos ainda um longo caminho a percorrer. Neste aspecto, a Mano-Produções e outras promotoras são uma gota no oceano.


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