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RP-LuanoCongressoBrasil - Laboratório Filosófico - [Rafael Silva] Brasília, a capital do Brasil completa hoje 56 outonos. Construída em cinco anos, cumprindo o aventureiro lema de Juscelino Kubitschek, “Cinquenta anos em cinco”, foi entregue ao povo brasileiro a sua nova capital nacional, novíssima em folha, moderníssima; modernista aliás.


Agora Brasília é cinquentona, justamente o tempo que foi comprimido nos cinco de sua feitura. Ela pagou a conta da aventura histórica que foi?

JK sabia que tempo é dinheiro, e que não se cria aquele sem este. Antes, os cinquenta anos que ele “fez ser” em apenas cinco haveriam de ser pagos no futuro, pelo futuro, e com capital. De acordo com a lógica do lema da construção de Brasília, os “Cinquenta anos em cinco” deveriam ser pagos em cinquenta anos. Muitos percalços históricos –na verdade a história ela mesma– fizeram com que ainda estejamos pagando o “sonho” kubitschekiano.

Por ser uma cidade planejada Brasília já merece muita atenção. Tal urbanidade perverte o modo como historicamente as cidades se fizeram, pelo menos até a Modernidade, momento a partir do qual o mundo não pôde mais esperar que as cidades surgissem espontaneamente e se consolidarem historicamente, pois, novamente, tempo é dinheiro. Para os Modernos, mais ainda para os modernistas, a urbe é mercadoria; deve ser produzida pelo preço que for, mesmo que custe, em capital, uma década/ano.

A urbanidade tradicional se deu com famílias que passaram a moram próximas umas das outras, gerando vilas, que, várias delas, muito próximas umas das outras, geraram centros, periferias, densidades, necessidades diversas porém conjuntas, ou seja, as cidades como as conhecemos. Porém, para ser uma capital nacional, como o Rio de Janeiro antes da inauguração de Brasília, era necessário mais: décadas ou até mesmo séculos de centralidade econômica e política para um mero agrupamento humano ter o privilégio de hospedar o Estado.

O preço a ser pago em cada etapa do desenvolvimento urbano, digamos assim, natural, contudo, foi alto. Os interesses da família foram atravessados pelos da vila assim como a liberdade da vila foi reduzida desde que passou a ser somente mais uma dentre as que compõem a cidade. Outrossim a cidade que é capital nacional é oprimida por compartilhar seu território com o tirânico Leviatã. Com efeito, é uma aventura “sobreurbana” uma cidade-capital-nacional administrar satisfatoriamente a si mesma e o Estado ao mesmo tempo. Só mesmo muito capital nessa causa. Não é à toa que a cidade que é capital de uma nação recebe -e consome- a verba de um estado.

Não por amor ao Rio de Janeiro, obviamente, mas por amor a si mesmo, o Leviatã-tupiniquim-kubitschekiano construiu, no solo seco e ermo do cerrado, um castelo urbano novinho em folha, no melhor estilo ficção científica dos anos cinquenta, com a justificativa de “interiorizar” o Brasil até então demasiado litorâneo. Só que o “Cinquenta anos em cinco” de Kubitschek foi tão poético quanto cruel. Playtime, e utopia cinematográfica dirigida e atuada por Jacques Tati em 1967, que tergiversa mudamente sobre as cidades modernas, sequer chega perto de representar o preço que é comprimir cinco décadas em cinco anos.

E o Leviatã brasileiro JK, que construiu para si uma “cidade ideal”, no final das contas gerou um monstro urbano real que consome muito mais do que esses cinquenta anos usados nos cinco de sua feitura. Tal é a “capitalidade” de Brasília! Quando, afinal, essa capital começará a dar lucro? Brasília: “Muito mais do que cinquenta anos de capital em cinco para fazer uma capital”, esse sim teria sido um lema mais honesto. De qualquer forma, parabéns, capital do Brasil!

Foto: Ricardo Penna/Fotos Públicas


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