Embalado pela festa, o Diário Liberdade entrevistou o bloco de rua Comuna Que Pariu!, um bloco revolucionário do proletariado que leva o fervor da classe trabalhadora para os desfiles de rua do Carnaval do Rio de Janeiro, e durante o ano todo realiza uma militância cultural e combativa colocando em pauta as lutas das massas oprimidas.
Falem sobre o bloco Comuna Que Pariu!. Quando surgiu e com qual objetivo?
O Comuna Que Pariu! foi fundado em 2009 pela União da Juventude Comunista. Como mostra nosso manifesto de fundação, tínhamos o propósito de questionar o rumo que o carnaval estava tomando, com cordas e abadás reproduzindo a abissal desigualdade de nossa sociedade. Nossos enredos sempre trazem pra folia a memória das lutas de nossa classe e questões fundamentais de nosso tempo.
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Desde o carnaval de 2013, o bloco passou a ser organizado pelo próprio PCB, através de sua célula de cultura. Conseguimos com isso dar maior vitalidade para o Comuna, que passou a intervir praticamente o ano todo, mesmo fora do carnaval; e passou a envolver um número muito maior de militantes, inclusive de outras organizações. Formamos nossa própria bateria, realizamos oficinas e passamos a intervir em atos, manifestações e a nos solidarizar, sempre que possível, com as pautas das lutas de nossa classe.
O carnaval dos sambódromos, privatizado e elitizado, não é o mesmo que o carnaval de rua. O carnaval de rua representa o verdadeiro espírito carnavalesco?
Pensamos que não há um "verdadeiro espírito carnavalesco" que exista ou tenha existido e sobrevivido independente da nossa história. Esse espírito é e sempre será um momento do processo histórico. Vivemos hoje um período de brutal mercantilização da vida. Por isso que tanto o carnaval de rua quanto o dos sambódromos são, no essencial, controlados pela prefeitura e funcional a grandes grupos monopolistas da cidade. Mas vemos também outros tantos blocos que resistem a esse processo das mais variadas formas. O Comuna que Pariu! é um desses blocos. Nada impede, mesmo que consideremos que hoje seja pouco provável, que num futuro próximo as coisas sejam diferentes. Mas pra isso precisamos viver processos de mudança para muito além do carnaval. Esse é um dos motivos de o Comuna se engajar nas lutas da classe trabalhadora.
Vocês participaram, junto com outros blocos, da "Paespalhada" na última quinta-feira (12), no Centro do Rio de janeiro. Que evento foi esse?
Esse evento foi justamente o resultado de uma articulação entre militantes-artistas para intervir conjuntamente no campo da cultura. Formamos o BONDE – Frente Artística de Esquerda. Na ocasião do "Paespalhada", questionamos os rumos que a cidade do Rio de Janeiro vem tomando, com processos muito duros de remoções de comunidades e de gentrificação, com mercantilização de bens essenciais pra nossa vida. O Comuna levou ao Largo da Carioca o nosso enredo feminista desse ano, somando esforços com o Apafunk, Planta na Mente e Bloco do Nada, além de poetas, para denunciar tudo isso e dar o pontapé inicial do Ocupa Carnaval.
O Comuna Que Pariu! vai desfilar nesta segunda-feira de Carnaval. Em que vai consistir o desfile e as atividades que vocês irão realizar?
Estamos tod@s ansios@s porque o bloco cresceu bastante em visibilidade. O samba desse ano, com o enredo "Lugar de mulher é... é onde ela quiser", repercutiu bastante nas redes sociais e tem bastante gente louca pra se juntar à gente. Vamos cantar os sambas desse ano e de outros e festejar no maior clima de camaradagem, lembrando as lutas das mulheres e defendendo sua atualidade. O desfile terá algumas surpresas. Vai ser lindo!