Pato da Fiesp. Foto: Lucas Lima (CC BY-SA 2.0)
Na primeira vez, vi três pessoas com a camisa da seleção brasileira de futebol, ultimamente usada como protesto pela queda de Dilma.
Mas na volta, depois do final da avenida, na praça onde fica a saída para a estação Paraíso do metrô, vi meia dúzia de crianças, a metade delas com a camisa da seleção.
Elas estavam brincando com um balão grande e amarelo, meio murcho, daqueles da Fiesp, com a propaganda de #NãoVouPagarOPato. Pareciam alegres, jogando o balão pra cima, brincando como crianças.
Algumas de chinelo, outras descalças. Todas negras, aquela mistura que vemos na maioria do nosso povo, mas negras. Eram crianças de rua, meninos e meninas. Havia uma barraca logo atrás delas, com uma bandeira do Brasil.
Aquilo parecia realmente estar muito divertido. Talvez este tipo de brincadeira, simples, seja uma das únicas diversões de crianças assim.
Crianças. Moradoras de rua. Descalças. Brincando com o balão da Fiesp e vestindo a camisa que virou símbolo da burguesia antipovo (perdoe a redundância). Essa imagem eu vi durante alguns segundos apenas, porque o ônibus seguiu em frente. Mas dificilmente irei esquecer.
Passei então em frente ao prédio da Fiesp, que estava com as portas abertas para os acampados que há um mês pedem o impeachment. Havia pouca gente do lado de fora, tive a impressão que muitos haviam entrado no edifício. Já que estava na hora do almoço, talvez tenham ido comer filé mignon junto aos industriais de São Paulo...
Mas ainda sobre as crianças... será que aquelas camisas foram dadas de presente a elas pelos manifestantes que foram ontem à Avenida Paulista assistir à votação do impeachment? É uma possibilidade, mas, sinceramente, não arrisco o palpite. Se foi isso, elas devem ter adorado, afinal é a camisa da seleção que venceu cinco Copas do Mundo.
No entanto, essa imagem, que eu espero ter transmitido de alguma forma para a mente do leitor, pode explicar mais a situação do Brasil e a luta política travada por aqui do que qualquer texto analítico.
São crianças, ingênuas, inocentes, indefesas. Não estão envolvidas nas disputas de poder. Tanto faz para elas se vai sair o PT e vai entrar o PMDB-PSDB no governo federal. Tanto faz para as pessoas nessa situação. Elas já estão acostumadas a pagar o pato.