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ramEstados Unidos - Esquerda Diário - [Augusto Dorado] Em 15 de abril de 2001, há cerca de 15 anos, discutia-se se o punk havia morrido ou não.


Nesse dia uma parte dele o fez efetivamente: Jeffrey Hyman, conhecido popularmente como Joey Ramone, chegou até esse dia, na sua luta contra um linfoma, num padecimento duríssimo. A notícia gerou um vácuo de tristeza e melancolia em pontos tão remotos quanto Tóquio, Madrid ou Buenos Aires. A voz cantante, a do grito de guerra de “Hey, Ho, Let’s go!” que marcou uma geração, apagava-se. Embora por décadas e décadas continuasse soando nos players enquanto jovens se sentiam desejosos por vingança e de levar o mundo adiante.

Joey nasceu em 19 de maio de 1951, em uma família pouco tradicional e de origem judia. Sua figura de “salsicha”, por ser meio ruim da vista e por certa lentidão em seus movimentos e reflexos, o faziam presa fácil do que conhecemos como bulliyng. Não era exatamente o tipo popular e queridinho da turma, mas bem o contrário.

O ser tão diferente talvez o levou a voltar sua audição para músicas diferentes e em sua adolescencia era fanático por Iggy Pop & The Stooges, MC5 e New York Dolls, além de professar amor incondicional por clássicos como Buddy Holly, The Who, Rolling Stones ou Beach Boys.

Esse caminho pelas margens o levou a ter amizade com outro marginal, Douglas Colvin, o futuro Dee Dee Ramone. Um outro tipo disfuncional, um que parecia sempre ressentido e que logo passaria a se chamar Johnny Ramone. Juntou-se a eles outro personagem do Queens – muito metido nas novidades musicais – como Tommy. Os quatro juntos sem nada para fazer de suas vidas se, rondavam como quadrilha,a seguindo as bandas mais cruéis do movimento, decidiram formar uma: os Ramones.

Em 1974, iniciaram os primeiros ensaios e recitais com Joey na bateria. Não iam nada mal mas não encontravam o cantor adequado e Tommy, o mais visionário e com sensibilidade musical do grupo (em pouco tempo passou a ocupar o rol de produtor) propôs fazer um teste com Joey no microfone. E funcionou, durante mais de 20 anos.

O Ramone de esquerda

Nos primeiros discos dos Ramones, primavam as temáticas das vivências de jovens como eles em um bairro periférico de Nova York. E expressões de raiva e frustração estavam entre os primeiros lugares: reuniam-se sempre que preciso para manifestarem-se, desde usar um conceito militar do exército nazista (o famoso Blitzkrieg, que se refere a uma tática de ataque-relâmpago) até cantar “sou um soldado de choque, sou um nazi” em “Today your love, tomorrow the World”, tudo era válido. Nessas composições se notava mais a mão de Johnny, o Ramone que nunca escondeu suas simpatias direitistas, que a de Joey, que era muito tímido ainda para ocupar maior lugar (cabe destacar que compôs o clássico “Judy is a Punk”, o tema que soa em recordação à cena do filme Cemitério de animais).

Paulatinamente Joey foi se soltando: suas inquietudes musicais eram muito amplas e lhe resultou na boa notícia que haviam escolhido Phil Spector (que produzira os Beach Boys, o Let it be dos Beatles e vários grupos de soul como as Ronettes) para produzir o quinto disco de Ramones – End of the Century. Resultou num disco solto mais muito diferente dos anteriores e nele se davam o gosto de fazer versões como a balada “Baby, I love you”. Joey começou a destacar-se mais.

Seguiu sendo o disco que mais parece levar a marca registrada de Joey: Pleasant dreams (Sonhos Agradáveis). Pegou o cantor num momento de dificuldades pessoais: separava-se de sua antiga namorada Linda, que se envolvera com ninguém menos que... Johnny. Um grande golpe para Joey, que não tinha uma boa auto-estima nesta época. Mas o produto deste desengano foi compor genialidades que se plasmaram neste album. A mais lembrada fala dessa história de maneira metafórica: “The KKK took my baby away” (“A Klu Klux Klan levou meu amor”) que se refere ao direitista Johnny que sem pensar nos laços de amizade ou sentimentos alheios, levou Linda. Joey e Johnny deixaram de se falar até que os Ramones se separaram em 1996 (com o memorável show no tribunal de River como um dos recitais de despedida). Talvez por isso Joey – distanciado da opressão exercida por Johnny – libertou também parte de suas inquietudes sociais ou políticas.

Entre o final dos anos 80 e o início dos 90 começou a participar de manifestações contra Bush (pai) e a primeira guerra do Iraque, embora suas simpatias sempre tendessem para os setores que considerava mais progressistas do Partido Democrata (por isso entre os Ramones o consideravam “um judeu de esquerda”). Outro aspecto que se enfrentava com Johnny, abertamente promotor de candidatos conservadores republicanos. Como o voto nos EUA é optativo, concentraram e impulsionaram um grupo em campanha “Rock for vote” para incentivar a juventude à comparecer às urnas.

Apesar de suas simpatias democratas, não se privou de criticar os papas do partido, incluindo as críticas nas letras de canções dos Ramones: em “Censorshit” (“Sensor de merda”, pode-se traduzir) do disco Mondo Bizzaro critica as iniciativas de Tipper Gore, a esposa de Al Gore que foi vice-presidente de Clinton, de impor advertências morais sobre o conteúdo dos discos, uma espécie de censura encoberta.

Como vimos, o mito de que os Ramones não falavam de política os derrubam Joey pela esquerda e Johnny pela direita.

Quando se separaram, Joey reuniu suas composições num disco solo “Don’t worry about me” (“Não se preocupe comigo”, onde já antecipava sua despedida) e em gravações soltas que logo se lançaram como disco póstumo sob o título “Ya Know?”.

Não teriam nada a ver com os Ramones com o que finalmente foram sem o apoio de Jeffrey, o magricelo, tímido e estranho. Nos disse “Adeus amigos” e que não nos preocupemos com ele, mas sim que honremos sua memória desfrutando de sua obra artística.

Tradução por Rebeca Moraes


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