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ABR230913 TNG5006Brasil - Laboratório Filosófico - [Rafael Silva] O fascismo foi um movimento político italiano surgido entre as duas grandes guerra do século passado em reação à Revolução Bolchevique de 1917 e contra a luta dos trabalhadores e seus sindicatos. Embora o fascismo tenha recebido seu nome na Itália –“fascio” eram as varas usadas pelos magistrados romanos para abrir à força passagem entre o povo-, sua essência tática e prática, qual seja, a disseminação do ódio e a intransigência absoluta na imposição de uma visão monológica de mundo em função da conquista total do poder, pode ser encontrado em vários momentos da história. O crísico presente brasileiro é exemplos disso.


Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil

O que muda em cada época e lugar, entretanto, é a máscara com que o fascismo se apresenta. A mais famosa de todas foi, sem dúvida, o rosto de Benito Mussolini, que, em 1936 ostentava o título oficial de "Sua Excelência Benito Mussolini, Chefe de Governo, Duce do Fascismo e Fundador do Império". A máscara do fascismo é tão imperiosa que Mussolini, antes de ser morto pelos guerrilheiros da resistência italiana, disse: “Atirem no meu peito. Não destruam meu perfil”. Porém, mais imperiosa é a determinação revolucionária contra o fascismo. Tanto que depois de morto, Mussolini foi pendurado pelos pés no centro de Milão, onde, por vários dias, seu cadáver foi agredido pela mesma população que ele oprimiu, findando com seu rosto absolutamente deformado e irreconhecível.

Hoje em dia, a face do fascismo não se priva de se exibir, sem pudor algum aliás, por exemplo, nos descaramentos do americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro, ambos com discursos e projetos antidemocráticos, imperialistas, totalitários, machistas, racistas, xenófobos e sexistas. Como Mussolini, os dois fascistas das Américas são tão vaidosos quanto inescrupulosos, visto que um mínimo de consideração histórica os advertiria de que é bem provável que suas faces fascistas sejam desfiguradas, objetivo sempiterno de todo revolucionário.

Como o fascista é aquele que melhor do que ninguém nega a realidade, Jair Bolsonaro, o mais despudorado neofascista tupiniquim, pode se alienar do que aconteceu com o seu antecessor histórico máximo, Mussolini. Entretanto, essa alienação em nada reduz a revolta e o desejo de mulheres, gays, negros, estrangeiros e libertários em geral de dar cabo dele, e, se tiverem oportunidade, desfigurarem a sua “cara-de-pau” em praça pública.

O exemplo manifesto desse desejo latente foi dado por Jean Wyllys em 17 de abril de 2016, durante a votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Depois de discursar a favor do antidemocrático impedimento de Dilma mediante elogios ao gangster evangélico Eduardo Cunha, criminoso que conduzia a sessão, e ao coronel, torturador e assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos militares mais temidos da Ditadura brasileira que torturou inclusive a presidenta que estava sendo julgada, Bolsonaro atacou Jean -que votou e discursou contra o impeachment e os fascistas- com ofensas homofóbicas de baixo calão. Jean, que é assumidamente homossexual, mas também declaradamente libertário, em resposta, cuspiu na cara de Bolsonaro.

Alguns podem acusar Jean de ter agido fascistamente agredindo Bolsonaro. Porém, muito mais pessoas não tem dúvida de que a cuspida que o fascista recebeu era o mínimo que ele merecia. Quanto mais não seja, um fascista não está aberto ao diálogo. Não tem condições para tal. A filósofa Márcia Tuburi ressalta isso de forma excelente no seu livro “Como conversar com um fascista”. Segundo Tiburi, o fascista é avesso à reflexão e não suporta juízo crítico, característica que compartilha com os ignorantes.

Então, que réplica mais apropriada Jean poderia ter dado a Bolsonaro uma vez que fascista é a aquele que não quer nem consegue dialogar com a diferença? Como argumentar respeitosa e democraticamente com quem não suporta argumentos nem democracia? Sem dizer que o fascista se torna ainda mais fascista quando afrontado com qualquer racionalidade. Ignorar um fascista, como alguém poderia sugerir, também não diminuiria a sua empáfia, visto que a instituição da ignorância é arma dele, o que acaba fortalecendo-o.

Obvia e infelizmente, a corajosa cuspida de Jean não dará cabo do neofascista Bolsonaro, tampouco do neofascismo que inacreditavelmente toma fôlego no Brasil em pleno século XXI. No entanto, para que mais uma vez o fascismo seja exterminado da ágora da História e do arraial político tupiniquim uma relação com ele deve ser iniciada. Tarefa inglória e unilateral contudo, pois o fascista nunca iniciará tal relação nem se proporá à moderação.

Fazendo uma analogia, no encontro de um primitivo com um civilizado é este que tem mais condições, mas também o dever, de se propor a iniciar o diálogo nos termos daquele. Sendo assim, Jean, ao ter cuspido em Bolsonado, disse, na primitiva “língua salivar”, algo do tipo: ok, sua besta, eu entendo a sua limitação e me proponho iniciar uma conversa nos seus termos.

Novamente, a irracionalidade não resolverá o problema do neofascismo. Entretanto, tem a virtude de criar um inicial espaço comum no qual o fascista finalmente entende uma réplica. Iniciar tal embate com argumentos racionais talvez não seja a melhor estratégia mesmo. Jean deve ter chegado a essa conclusão depois de muito discursar civilizada e argumentativamente contra Bolsonaro, para Bolsonaro, e ver que a besta em nada recuou, muito pelo contrário, parece mais ameaçadora do que nunca.

O fascista é inimigo do diálogo e de seu horizonte infinito. Ainda mais considerando-se que a dialógica é a base da política e da democracia e que o fascista também é inimigo destas duas. De nada adianta, portanto, enfrentar uma fera com palavras ou razões, dado que nada disso a afeta. Diante dela, é ou correr -o que deixaria a fera-fascista dona exclusiva do território- ou agir ferozmente –o que, se não espanta definitivamente a fera, pelo menos deixaria claro a existência e a resistência de um outro. Só assim a besta entende que não há só um “eu”, mas também um “ele”. O cuspe de Jean talvez tenha sido a oportunidade de Bolsonaro sentir o gosto da alteridade.

Todavia, depois desse “approach” salivar inicial, algo mais efetivo e evoluído deve ser feito, ou, do contrário, é o fascismo que vence. Imediatamente à “arte de resistir” apontada por Tiburi, devemos insistir na “arte de evoluir”, forçando o fascista que está diante de nós a suportar a diferença, confrontar-se com sua ignorância, reconhecer suas contradições, e, só então, com a fera minimamente domada, fornecer conhecimento e informação que possam diminuir sua bestialidade. Afinal, o projeto ético-político da filósofa aposta na transmissão do conhecimento como antídoto contra o autoritarismo fascista.

Aos fascistas irrecuperáveis que se recusam a deixar a arena irracional resta, todavia, um destino à lá Mussolini, cuja máscara fascista, arrancada pela resistência revolucionária, levou seu vaidoso rosto junto. Mussolini deixou o fascismo e entrou para a eternidade com a face de um monstro. O cuspe de Jean Wyllys no resistente Bolsonaro chega ser poético em comparação com que se deu com o “Duce” do Fascismo italiano.

E se a história da razão humana começou com a poesia, passou à filosofia, para evolutivamente chegar à ciência, ou seja, ao conhecimento verdadeiro e universal, Jean, intempestivamente, abriu essa senda à Bolsonaro. Resta ao neofascista se familiarizar com a racionalidade, aprender a aceitar e a respeitar a realidade com toda a sua diversidade. Do contrário, será capitulado pelos tempos e, como a história pode exemplificar, sofrer tanta ou mais barbárie do que tentou implantar.


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