Em 4 de outubro a autoridade formal para o fazer sofreu um abalo inesperado. Tanto bastou para que se seguisse o pânico.
O pânico da direita tem a ver com a fragilidade que, como toda a burguesia bem sabe, afecta o seu próprio poder, debilitado por uma crise interminável que lhe estreita a capacidade de comprar o sossego das classes assalariadas — e ao mesmo tempo a obriga a espoliá-las cada vez mais.
As alusões exaltadas ao fantasma do PREC traduzem o receio das classes dominantes do retorno da luta de classes, da luta anticapitalista. Um fantasma mais temível ainda que o PREC propriamente dito porque um movimento desses, hoje, não se levantaria contra uma ditadura caduca — mas contra uma democracia apodrecida e sem saída.
Não teria por alvo meia dúzia de favoritos protegidos por um regime fechado — mas uma classe inteira de capitalistas que estendeu a exploração assalariada a todos os cantos do país.
Não teria como tarefa expandir e modernizar um capitalismo nacionalista, incipiente, dependente da mama colonial — mas suplantar um capital senil, internacionalizado, parte integrante de uma teia imperialista, que constitui ele mesmo um obstáculo ao crescimento material e ao progresso social.
Não teria de arrastar o peso morto de um campesinato analfabeto e temente a deus — mas soltaria as energias de um proletariado muito mais numeroso e instruído.
Porque, enfim, um tal movimento não seria desencadeado por uma tropa cansada da guerra, nem tutelado por nenhum MFA — mas seria gerado pelas contradições do regime de exploração e tenderia por isso a mobilizar a massa dos assalariados e a assumir a forma de um confronto de classe contra classe.