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ocomuneiroPortugal - O Comuneiro - O acontecimento político do ano de 2015 vai provavelmente ser a ascenção e derrocada do governo Syriza na Grécia.


É uma derrota de tomo, cujos efeitos imediatos não deixarão de ser nefastos para o movimento anticapitalista e para a esquerda em geral. No entanto, podemos também dizer que se trata da nossa primeira derrota na Europa ocidental, há uns quarenta anos. Desde então não tínhamos feito senão recuar continuamente, sem verdadeiramente oferecer batalha. Agora, sim, temos finalmente um evento maior na luta de classes europeia, para ver, rever e estudar ao pormenor. Para que no próximo embate possamos já, pelo menos, perder melhor. Se lutarmos sempre porfiadamente, acumulando e sintetizando as experiências dessa luta, um dia, sem dúvida, poderemos virar por completo a maré. Será então o adversário a recuar, a pedir acordos e tréguas, a desmoralizar, a começar a descrer em si próprio.

Abre este número do Comuneiro com as impressões sobre a “débacle” grega de um veterano da “Nova Esquerda” europeia, Perry Anderson. O indiano Prabhat Patnaik é um pensador que já não dispensamos nas nossas páginas. A sua reflexão, a partir da experiência grega e com referência a um ensaio de Yanis Varoufakis que publicamos no número anterior de ‘O Comuneiro’, vai no sentido de combater as ilusões do “europeísmo de esquerda”. A partir do próprio “labirinto do Syriza”, Stathis Kouvelakis retraça muito do caminho percorrido até à derrota e convoca os resistentes a fazer novo curso. O jovem francês Alexis Cukier traz-nos as reflexões emergentes da sua experiência de campo, no âmbito da solidariedade intenacionalista, e um oportuno apelo à clarificação estratégica de toda a esquerda europeia. Finalmente, Claudio Katz traça os paralelos possíveis entre a experiência recente grega e a luta latinoamericana de há muitas décadas, em particular a luta da Argentina contra a agiotagem internacional.

A experiência de poder do Partido dos Trabalhadores encontra-se estagnada num baixio muito perigoso para a nação brasileira e para toda a “Nuestra America”. Armando Boito traz-nos um oportuno esquiço teórico sobre a corrupção, a partir da sua génese histórica, na primeira parte de um ensaio que vai dedicar a este tema. Ivonaldo Leite aponta o esgotamento da estratégia neo-desenvolvimentista seguida pelo lulismo no Brasil, que neste segundo mandato de Dilma Roussef desagua em pura farsa político-judicial. Alisson Slider do Nascimento de Paula centra a sua análise no próprio Partido dos Trabalhadores, retraçando sucessivas etapas de um contínuo afastamento em relação aos seus proclamados desígnios de classe.

Já se habituaram, no Comuneiro, à densa tessitura conceptual dos ensaios de Bernard Stiegler, na tradução de João Esteves da Silva. É um bom hábito. Desta feita regressamos a Platão, para retraçar uma linha de pensamento sobre a proletarização, ou despossessão do homem de si próprio. Os muros e os campos de internamento reapareceram na Europa. É assim que ela recebe os despojos humanos das guerras de que foi fautora, do falhanço de Estados que ela própria induziu. Embarcações à deriva em alto mar são cinicamente rechaçadas e não assistidas. Levas sucessivas de cadáveres dão à costa. Começa a reaprender-se a indiferença, senão mesmo o ódio e o desprezo, perante o sofrimento dos outros. É por isso oportuno relembrar as palavras que Günther Anders escreveu, há mais de cinquenta anos, em carta aberta dirigida ao filho de um dos arquitetos da eliminação industrializada de uma velha comunidade europeia, também ela julgada de uma radical alteridade pelos poderes de turno.

Do Comuneiro agradecem "toda a divulgação possível do conteúdo deste número do O Comuneiro, nomeadamente em listas de correio, portais, blogues ou redes sociais de língua portuguesa". Comentários, críticas, sugestões e propostas de colaboração serão benvindos. Agradeceriam em particular a ajuda voluntária e graciosa de tradutores.


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