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mercosurAmérica Latina - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] No dia 20 de dezembro, aconteceu a reunião plenária do Mercosul na capital do Paraguai, Assunção. Participaram os presidentes da Argentina, Mauricio Macri; do Uruguai, Tabaré Vázquez; da Bolívia, Evo Morales; do Chile, Michelle Bachelet; o primeiro-ministro da Guiana, Moses Veerasammy Nagamootoo, e a chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez.


Foto: Ministério de Relações Exteriores do Equador/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0)

A imprensa burguesa colocou no foco das atenções a resposta de Delcy Rodríguez à provocação de Maurício Macri sobre a suposta violação aos direitos humanos por causa dos presos políticos da direita nas manifestações de 2014. Esse fato revelou o aumento das contradições entre a ala nacionalista e a nova direita reciclada que surgiu numa potência regional de primeira ordem, tanto em relação às próprias contradições como em relação às limitações dessas contradições.

A verdadeira questão central da reunião do Mercosul se relacionou com as políticas para o próximo período que poderiam conter o rápido aprofundamento da crise capitalista na região. Todos os representantes do Mercosul concordaram na necessidade de avançar as relações com a China e a Rússia. Ao mesmo tempo, todos concordaram sobre a necessidade de ampliar os acordos comerciais com o maior número de países ou blocos.

A pressão da ala direita do bloco passa pela aproximação com a União Europeia, os Estados Unidos e a Aliança Trans Pacífico. Desta aliança participam o Chile, a Colômbia, o México e o Peru, enquanto a Costa Rica e o Panamá solicitaram adesão. A Argentina e o Uruguai encabeçam a pressão nesse sentido, mas os demais integrantes do Mercosul passaram a flexibilizar as posições. É a política do salve-se quem puder em ação de maneira cada vez mais clara.

Nacionalismo, anti-imperialismo ou pró-imperialismo?

O nacionalismo burguês latino-americano teve nova ascensão a partir do final da década de 1990 por causa do descalabro das políticas neoliberais. O crescente descontentamento das massas tinha dado lugar ao Caracazo (1989), ao Argentinazo (2001) e às guerras da água e do gás na Bolívia (2002 e 2003). As políticas aplicadas por esses governos tiveram como objetivo principal canalizar pelas vias institucionais as tendências revolucionárias que se acumulavam. O grau de radicalização determinou as políticas que iriam ser aplicadas. Na Venezuela, o golpe de estado fracassado de 2002 e a derrota da greve patronal da PDVSA fizeram com que uma parte da população se armasse, levando a dominação imperialista a um altíssimo grau de crise.

A queda dos preços das matérias-primas nos últimos dois anos, principalmente da energia, colocou em xeque a política assistencialista dos governos nacionalistas burgueses latino-americanos. A própria política norte-americana para a Venezuela havia passado por mudanças com a Administração Obama. Conforme um dos documentos vazados pelo site Wikileaks, em 2009, a expectativa era que a produção de petróleo a partir do xisto nos Estados Unidos provocasse a queda dos preços, e o “enfraquecimento da carteira petrolífera” estabeleceria a base para a derrubada do chavismo.

A América Latina foi atingida em cheio pelo aprofundamento da crise capitalista mundial. O imperialismo norte-americano impõe o aumento da espoliação dos recursos da região na tentativa de salvar os lucros dos monopólios. Os déficits públicos aumentaram de maneira acelerada. Os ataques contra os trabalhadores têm crescido e desgastado todos os governos. Esta é a base principal das derrotas eleitorais do kirchnerismo na Argentina.

O nacionalismo burguês tem buscado acordos com o imperialismo na tentativa de conter a crise. E o imperialismo tem tentado impulsionar a saída neoliberal. Mas se trata de um “neoliberalismo” de crise que nem sequer conseguiu colocar em pé a frente única que foi típica dos anos de 1990. A burguesia está dividida.

Manter os programas sociais nos níveis atuais é inviável por causa da queda dos recursos para sustentá-los. A aplicação das políticas neoliberais deve ser dosada por causa do período da aceleração do descontentamento social. Da mesma maneira, o Mercosul se encontra entre a espada e a parede. Como bloco tenta aumentar os acordos comerciais internos, mas, por causa da crise, precisa ampliá-los para as demais potências. O problema é que os novos acordos abrem flancos e implicarão na entrega de setores estratégicos. Mas para onde correr? As alternativas são cada vez menores?

A tendência é ao aumento da corrosão no Mercosul a partir dos acordos com a União Europeia, os Estados Unidos e a Aliança Trans Pacífico. Mas essa tendência só poderá avançar de maneira contraditória, por meio de crises políticas e pelo surgimento de novos setores nacionalistas a partir do rompimento dos blocos atuais.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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