Foto do European Parliament (CC by-nc-nd/2.0/)
Senhor doutor Cavaco:
Daqui a um mês fica-se a saber quem é o novo inquilino do palácio. Mas Vosselência terá de ficar por mais alguns dias. Todavia, e caso assim o entenda, estou pronto a indicar-lhe uma brigada[1] que o ajude a arrumar os papeis e a embalar os tarecos. Eu, como muitos outros, só quero o seu bem e tudo farei para que volte à sua amada marquise da Travessa do Possolo, no mais curto espaço de tempo possível.
Além do mais, a sua vida de inquilino do palácio presidencial é, agora, um tremendo aborrecimento. Passa-a a fazer despedidas. E quantas mais faz mais se fica a conhecer a sua tremenda malvadez e quão odioso é o seu carácter.
Foi o que aconteceu na sua despedida do Conselho da Diáspora. O senhor falou e disse: “A governação ideológica pode durar algum tempo mas faz estragos na economia e deixa facturas por pagar.”.
Os seus amigos presentes bateram palmas, trocaram sorrisos e os espertos em descodificar o seu pensamento (?) logo vieram clamarque Vosselência estava a dar mais um recado ao governo do radical António Costa.
Costa que, como sempre faz questão de sublinhar, só é primeiro-ministro com a cumplicidade do PC, Bloco e Verdes e porque o senhor doutor a isso foi obrigado pela “malvada” Constituição da República.
Ora eu interpreto os seus ditos no dito Conselho como um verdadeiro tiro no pé. E explico: foi o governo do qual Vosselência foi mãe e pai que altíssimos danos fez na economia do país. Provam-no:
- Um desemprego recorde;
- Uma dívida pública acima das nossas possibilidades;
- E, por ora que se saiba, uma factura de TRÊS MIL MILHÕES para pagar.
Uma factura que somos obrigados a liquidar por um Banif que há muito estava falido e que apenas se manteve de pé por puro interesse eleitoral dos seus amigalhaços Coelho & Portas[2].
Não, senhor doutor Cavaco, não é “a governação ideológica que faz estragos na economia e deixa facturas por pagar.” A falta de seriedade é que faz estragos na economia e deixa facturas por pagar.
E como Vosselência bem sabe alguns dos seus mais dilectos amigos têm fortes culpas nesse cartório, mas para não o maçar apenas lhe relembro dois: Oliveira e Costa e Dias Loureiro.
Senhor doutor Cavaco o seu tempo, que foi muito para “um génio da banalidade” como disse Saramago, chegou ao fim. Agora, aproveite o sossego da sua marquise, goze a sua parca reforma e deixe-nos em paz. Definitivamente em paz.
Mas atenção: caso compre um novo “Citroen”, com o dinheiro ganho com a negociata das acções do ex-BPN, tome só o rumo da sua vivenda na Aldeia da Coelha. Nós agradecemos.
[1] Garanto-lhe que a brigada é composta por jovens sérios e bem preparados. Muitos deles são licenciados e todos eles estão desempregados. Mais: trabalham a “recibo verde”, não são sindicalizados e auferem menos de 2€ por hora. Tal qual o senhor e os seus sócios Coelho & Portas gostam.
[2] A indicação de Adriano Moreira para o Conselho de Estado é mais uma fdp. Salazarista convicto, Moreira foi o ministro fascista que reactivou o Campo do Tarrafal em 1961. Inteligente e com inegável sentido de oportunidade, Adriano Moreira, com o apoio de Mário Soares, apanhou o comboio da Democracia, atingiu o topo da carreira académica e foi deputado e vice-presidente da Assembleia da República. O facto de ser hoje um ancião não o torna respeitável nem lhe apaga o passado. O operário antifascista Domingos Abrantes e todos aqueles que foram acossados, presos e torturados dispensavam bem tal FOS (Filho da Outra Senhora) no Conselho de Estado.