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Ilka Oliva Corado

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Crónicas de uma inquilina

Argentina, de novo traída, mas nunca derrotada

Ilka Oliva Corado - Publicado: Terça, 24 Novembro 2015 13:56

[Tradução de Camila Lee para o DL] A estas horas da noite, escrevo estas letras com uma dor profunda que me conecta ao povo argentino, o meu povo. Refiro-me ao povão, o povo real, de onde vêm a minha raiz. Eu estou falando sobre este sangue milenário latino-americano que sempre foi oprimido e vendido a quem oferecesse o melhor preço. Eu estou falando sobre o sangue que alguns genocidas ladrões afirmam terem conquistado e o terem tornado "civilizado". Falo desta dor amarga de nos sentirmos traídos, de abrir novamente a ferida que começava a sarar.


Muitos gostariam de que estas palavras fossem sepultadas e afirmar que sim, que nos demos por vencidos, que a América Latina morreu, que não há como lutar por ela nem resgatá-la, que a nossa Grande Pátria já não existe e que sonhar com a sua liberdade é coisa de melancólicos fracassados. Gostariam de afirmar que falar de mártires saiu de moda e são esforços inúteis. Gostariam de dizer que relembrar os massacrados é de mau gosto, pois o futuro se encontra diante de nós, não atrás. De sentenciar que o passado deve ser deixado para trás, já que aqueles que foram torturados, o foram porque mereciam. Que os desaparecidos deviam estar metidos em algo. Que as avós da Praça de Maio são uma blasfêmia. Que a única que conta é a história oficial (escrita por assassinos).

O que é a democracia nas mãos dos desleais? O acontece com uma pétala de flor nas mãos de um genocida, de um traidor, de um ditador? A Argentina, uma das fortalezas da América do Sul, hoje volta a chorar pela punhalada dos pérfidos. Quem me dera poder escrever aqui um rosário de lamentos e soltar a minha língua, meter o pau. Lançar dardos envenenados e devolver o ódio para aqueles que desonraram a sua pátria. A sua entranha. Para os que cuspiram no rosto desta América Latina tão linda.

Porém, este texto é somente para reafirmar que continuamos de pé. Esta não é a primeira punhalada nem será a última. Já estamos acostumados à infâmia. Se alguns apostaram pelo retrocesso, nós, o povo real, lutamos pela reconstrução. Porque a indenização não nos consumiu, temos memória história e hoje, mais que nunca, o nosso sangue ferve honrado da sua raiz. A militância continua, embora esteja cansada e maltratara, mas certeira desde o sangue dos nossos avós, corajosa e forte, continua presente no sangue da juventude das terras aráveis, dos povos e das aldeias. Desde a La Cámpora até as periferias.

Porque nós não conhecemos a traição. O nosso amor é tão grande que floresce no deserto. Fomos obrigados a colocar os mortos, os torturados, as violadas, os desaparecidos pela luta de um sonho de liberdade. Tentaram nos calar, nos diminuir. Tentaram fazer com que nos ajoelhemos a força de metralhadoras. E aqui estamos, não conseguiram. E continuamos lutando por esse sonho de liberdade e não poderão nos exterminar, embora chovam balas sobre nós, pois nada nem ninguém pode ir contra o amor de um povo honrado.

Eu choro, também choro pela dor, a mesma cólera que sentem neste momento milhares de argentinos, milhares de latino-americanos neste nosso continente maculado. Eu choro de tristeza por saber que o ser humano ainda não aprendeu a lição. E que, provavelmente, nunca irá aprender. Que não sabe que a pátria não se vende. A pátria tem de ser defendida com a vida. A vida não serve de nada sem dignidade. Nenhum arranha-céu pode com a beleza das serras.

Eu choro por esta Grande Pátria que novamente foi à leilão, que novamente está vulnerável e denegrida. Mais uma de tantas outras e não será a última estocada. A pele já está mais que curtida.

Saibam que os traidores que aqui, neste continente americano, nesta raiz milenária existe memória histórica, decência, valor, palavra e ação. Saibam que neste continente americano das irmãs Mirabal, das Adelitas, de Ayotzinpa, de Pancho Villa, de Sandino, de Árbenz, de Mujica, de Lula, de Dilma, de Juana Azurduy e de San Martín. De Bolívar, de Cristina, de Néstor e de Correa. De Evo, de Óscar López, de Fidel e de Hugo Chávez.

De Mercedes Sosa, de Violeta Parra, de Salvador Allende e de Evita. De Juana Ramírez, "La Avanzadora". Que saibam que aqui ninguém se rende. Aqui continuamos lutando contra a avarícia dos desertor.

Que aqui continuamos com a cabeça levantada, ombro a ombro, com a palavra clara e o pulso firme. Somos a resistência e daqui ninguém nos tira. Somos a resistência dos nossos ancestrais, avós, pais e filhos. Somos a resistência dos que já não estão presente, dos que estão e dos que virão. Reivindico as conquistas da era Kirchnerista e continuo sendo hoje mais que nunca uma cristinista fiel.

Não nos vamos daqui! Ninguém nos tirará daqui!

Viva a Grande Pátria! Viva a nossa América Latina! Traídos como sempre. Vencidos, jamais! Aqui ninguém se rende!


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