Nos últimos anos, a velocidade vertiginosa a que assistimos às transformações nas formas de produção de notícias foi acompanhada, ao mesmo ritmo, por alterações nas condições de exercício do jornalismo. A concentração da maior parte dos órgãos de comunicação em grandes grupos económicos, conduziu, na prática, ao emagrecimento dos quadros redactoriais. Hoje são poucos ou nenhuns os jornalistas a entrar para os quadros das empresas de comunicação social. Ao invés, sacrifica-se a especialização temática e opta-se por uma "circulação" mais ou menos frequente de profissionais do mesmo grupo, entre várias publicações ou meios, à medida das "necessidades do mercado".
A concentração e a concorrência aberta, faz com que os media deixem de ter, mesmo que apenas temporariamente, condições de autonomia informativa.
A crise económica tem sido, também nas redacções, um pretexto para que se racionalizem custos, se façam ajustamentos, se "poupe" em jornalistas, e os despedimentos em empresas de comunicação foram uma constante no último ano. Vejam-se os casos da Controlinveste/GlobalNotícias, de Joaquim Oliveira (que publica o Jornal de Notícias, Diário de Notícias e 24 Horas, e detém a TSF), ou da Media Capital com a Rádio Clube Português. Noutros, como o Público, a redução salarial foi a única saída que evitou o desemprego. Cada jornalista desempregado é menos um ponto de vista sobre os factos, menos um contributo para uma informação plural.
Desconhecem-se os números exactos, mas poderá dizer-se com segurança que uma grande maioria dos profissionais da informação, chefias à parte, são hoje mal pagos e têm vínculos precários. Muitos trabalham com falsos recibos verdes ou em regime de freelancer, sem rendimento fixo, pagos "à peça", sem horários, direito a férias, protecção na doença, ou descontos para a Segurança Social. É de precariedade que falamos.
Entre os profissionais que se encontram em situação mais favorável, com contratos de trabalho permanentes, também não de estranhar que o clima de intranquilidade sobre o futuro actue como uma espécie de "analgésico" sobre os seus direitos e deveres.
Acusados tantas vezes de serem uma classe excessivamente corporativista, de falta de questionamento, coragem ou compromisso com a verdade, os jornalistas e o jornalismo actual são o produto do seu meio. O "compromisso moral" que existe entre os jornalistas e os cidadãos, que são o seu "público", é hoje mais difícil de cumprir.
A degradação das condições profissionais, o desemprego e a precariedade são as grandes ameaças à liberdade de imprensa.