Foto: Alejandro Acosta
Leia também:
Após vitória da direita, burguesia venezuelana exige o fim das leis populares
Após direita vencer eleições, produtos escondidos aparecem nos supermercados
Nos dias 7 e 8 de dezembro, os chavistas, em geral, ficaram estupefatos e paralisados. Nesses dois dias, não houve qualquer manifestação nas ruas, nem do chavismo nem da direita. Na quarta-feira, 9 de dezembro, um grupo de aproximadamente cinco mil ativistas dos movimentos sociais foi até o Palácio Presidencial de Miraflores e exigiu falar com o presidente Nicolás Maduro. Apesar das recomendações da segurança de evitar o portão de entrada principal, Maduro foi até lá e, desde o capô do automóvel em que se encontrava, conversou com os ativistas e recebeu uma delegação. Essa delegação ficou incumbida de encaminhar propostas concretas para enfrentar a crise no prazo de uma semana. A crise aberta pela vitória eleitoral da direita passa pela “guerra econômica”, a burocratização e a corrupção do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela) e dos aparatos do estado, e, principalmente, pelo colapso dos preços do petróleo que levou ao chão as políticas do chavismo.
Radicalização do PSUV?
No dia seguinte à manifestação dos movimentos sociais no Palácio de Miraflores, na quinta-feira 10 de dezembro, aconteceu um Congresso Extraordinário do PSUV que também foi incumbido de ficar em sessão permanente e voltar com propostas concretas para combater os problemas, após ter consultado as bases e as UBCHs (Unidades de Base Bolívar Chávez). Os discursos do presidente Maduro, e até de outros membros da cúpula do chavismo, tornaram-se muito mais radicais. Frases como “não iremos entregar as conquistas da Revolução Bolivariana” se tornaram cada vez mais comuns até na boca de Diosdado Cabello, o atual presidente da Assembleia Nacional, e de outros membros da cúpula do chavismo.
Recentemente, Cabello anunciou que entrará em funcionamento o Parlamento do Poder Popular, um componente dos cinco poderes do estado venezuelano, que havia ficado até agora em letra morta. Em dezembro de 2010, o presidente Hugo Chávez havia aprovado por decreto a criação do Parlamento Comunal, mas ficou perdido na lei Orgânica de Comunas, uma das cinco leis comunais, e nunca havia saído do papel. As comunas seriam a base do Poder Popular, apesar de nunca terem ido muito longe por causa do burocratismo que impera no PSUV e nos aparatos do estado, e que o chavismo oficial tem propagandeado como as “dificuldades para mobilizar a população”. O Parlamento Comunal terá “recursos, delegacias, tomada de decisões, leis, forma de vida”. A isso se somou a nomeação da advogada Susana Barreiro, como Defensora Pública. Ela foi a juíza que condenou o direitista Leopoldo López a 13 anos de prisão.
Até que ponto esse Parlamento poderá enfrentar a Assembleia Nacional dominada pela direita e o burocratismo chavista, ainda deverá ser analisado no próximo período. Essas movimentações têm na base a forte pressão da ala esquerda do chavismo, que por sua vez é pressionada principalmente pelos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, a ala direita deverá usar a “radicalização” como moeda de troca para as inevitáveis negociações que acontecerão com a direita.
A base material do chavismo, a renda petrolífera, se esgotou. O chavismo como é conhecido hoje está com os dias contados. A perspectiva é que, conforme a crise continuar se aprofundando, o chavismo rache em vários grupos. Uma ala favorável ao ajuste e ao acordo com a direita aparece claramente a partir dos governadores ex-militares e de setores da burocracia. E também aparece claramente a ala esquerda, principalmente os setores ligados aos movimentos sociais.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.