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090216 haiti electionsHaiti - Esquerda Diário - [Artur Lins, estudante de história UFRJ] Nesse domingo, dia 7, o presidente do Haiti, Michel Martelly, renunciou ao seu cargo publicamente em um evento com diplomatas estrangeiros, formando um governo interino provisório que governará até as eleições presidenciais, que foram adiadas para o final de abril.


Nesse domingo (7) o presidente do Haiti, Michel Martelly, renunciou ao seu cargo publicamente em um evento com diplomatas estrangeiros, formando um governo interino provisório que governará até as eleições presidenciais, que foram adiadas para o final de abril.

A empobrecida ilha caribenha passa por uma profunda crise política desde o ano passado, mais precisamente em outubro, quando o candidato da oposição, Jude Celestin, do partido LAPEH (Liga Alternativa para o Progresso e Emancipação do Haiti) rejeitou disputar o segundo turno com Jovenel Moise, um empresário exportador de bananas e candidato governista apoiado pelos EUA, alegando que houve fraude eleitoral no primeiro turno, o que provocou intensos protestos populares contra o candidato do governo.

Devido às fortes manifestações contra o governo e à ocupação imperialista da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), as eleições presidenciais foram adiadas para janeiro desse ano pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP). No entanto, o candidato opositor manteve seu boicote ao segundo turno e mais uma vez os haitianos foram às ruas, desta vez exigindo a realização de novas eleições sem Michel Martelly na presidência.

Os manifestantes destruíram seções eleitorais, denunciavam a corrupção generalizada do regime e das instituições do Estado, enquanto a Polícia Nacional do Haiti (PNH), sob as ordens das marionetes governistas do imperialismo, reprimiam brutalmente a população haitiana, tentando dispersar e suprimir na força os protestos.

Martelly governou o Haiti sobre decretos, seu governo foi marcado por fraudes eleitorais e constantes casos de corrupção que buscavam favorecer os interesses das elites agroexportadoras e facilitar o saque dos recursos naturais do país pelo imperialismo, principalmente dos EUA.

Desde 2010, a ilha caribenha sofreu um terremoto que matou 200.000 pessoas e deixou milhares de haitianos sem teto dispersos pelo país. Até hoje, milhares de haitianos seguem sem um teto para morar, os acampamentos que foram construídos como uma medida emergencial para abrigar os sem-teto são insuficientes.

Nas áreas mais marginalizadas e pobres do país há uma preocupante epidemia de cólera, ausência de saneamento público, falta de água e de serviços públicos, que são feitos em sua grande maioria por ONG’s e por instituições privadas, que evidentemente não providenciam e servem de forma eficiente à população.

Com todos esses problemas, há o adicional do Estado policial imposto pelo imperialismo, mascarado como se fosse uma “missão de paz” para ajudar e estabilizar o Haiti. Essa mesma missão de estabilização imperialista tem a função de assegurar as eleições no país, sendo cúmplice das fraudes eleitorais para, de fato, assegurar a vitória das marionetes governistas do imperialismo.

Por outro lado, a Minustah serve também como força de repressão às manifestações populares contra sua intervenção no país, e no caso brasileiro o problema é mais grave, pois as tropas de ocupação brasileiras comandam a coalizão militar estrangeira e muitos dos fuzileiros e soldados brasileiros foram treinados no Haiti para reprimir a população pobre das favelas, através das intervenções militares apoiadas e patrocinadas pelo governo PT para instalar as Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas do Complexo da Maré e do Alemão, no Rio de Janeiro.

Os sucessivos protestos violentos contra o governo tiveram a participação incrível da juventude haitiana, que era linha de frente nos enfrentamentos com a Polícia Nacional do Haiti. Durante as manifestações, diversas organizações estudantis e de jovens de bairros pobres se articularam para exigir a renúncia de Martelly e a retirada imediata das tropas de ocupação. Consignas de forte caráter anti-imperialista como “Não ao saque dos recursos naturais!” e “Minustah Fora!” ecoam entre a juventude haitiana.

Apesar dessa importante vitória da população haitiana com a renúncia de Michel Martelly, o imperialismo e a burguesia haitianas seguem tentando controlar e sufocar as aspirações democráticas das massas. Segundo o ex-presidente Martelly, “apesar do acordo, nós precisamos continuar vigilantes porque há pessoas que não concordarão”, se referindo às violentas manifestações contra o governo e ao mesmo tempo as temendo. Já o imperialismo deseja estabilidade para prosseguir o saque e exploração do povo haitiano, independente do partido vencedor nas eleições que virão, pois a chefe da Minustah, Sandra Honoré, fez um apelo para que os partidos rechacem a violência.

A população pobre e a juventude haitianas não desejam apenas uma mudança política, o que se evidencia nesse processo é um profundo questionamento e repúdio à podridão do corrupto regime político do país, dominado pelas elites agroexportadoras e pelo imperialismo. O povo haitiano necessita de serviços públicos de qualidade, infraestrutura urbana adequada e moradias dignas para os milhares de sem-teto que vivem no país, e nenhum dos representantes políticos do governo e seus possíveis sucessores podem e querem resolver esses problemas sociais. Nesse sentido, fica claro o porquê do rechaço popular contra todas as instituições públicas do Estado, contra o fraudulento CEP e contra os políticos governistas.

Como se fosse ironia da História, a luta que se segue no Haiti é pela emancipação de seu povo contra os parasitas imperialistas.

Photo Credit: Haiti Innovation / Flickr / Creative Commons


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