Milhares de casos de microcefalia, centenas de milhares de casos de dengue, com recorde de mortes, e mais a chikungunha, os três trazidos pelo mesmo mosquito, representam o abandono – pelos sucessivos governos - da saúde pública, que se alastra principalmente nas comunidades pobres. Eles governam para os ricos, os pobres sofrem as consequências.
O governo alega que “está perdendo a batalha contra o mosquito”, mas a guerra sequer foi travada. Se a casta de políticos que governa para os capitalistas estivesse preocupada, ao primeiro sinal da doença e da praga do mosquito, o governo teria feito prevenção maciça, distribuindo repelentes naturais e telas/mosquiteiros para toda comunidade pobre, teria produzido em grande escala testes sorológicos/diagnóstico, teria deflagrado um plano nacional para garantir saneamento básico em cada região onde doenças como aquelas aparecem.
Metade do Brasil não conta com esgoto e saneamento e nem condições de moradia dignas. O SUS vem sendo destruído, sucateado, agentes sanitários precarizados, demitidos e com salários achatados. E diante do mosquito, diante da epidemia de microcefalia, o governo perde em todas as frentes.
Se o governo estivesse preocupado com a mãe que tem sua gestação comprometida pela microcefalia, por que fica enrolando no debate sobre o direito ao aborto? Por que gasta milhões de dólares nas Olimpíadas, enquanto não existe um único centro de atenção à criança com microcefalia e sua família, que seja de qualidade, público e gratuito?
Microcefalia é um quadro gravíssimo, que inclui mutilação neurológica permanente para a criança e sobrecarga igualmente permanente para familiares que já vivem carências terríveis. É o futuro roubado de toda uma geração; esta doença não é como a pressão alta, ou a artrite, que podem ser corrigidas. São danos para sempre, eis a barbárie capitalista.
Foram esses distintos governos que abriram a porta para o mosquito, através da exclusão de grandes massas de moradia, de saneamento básico e de qualquer planejamento urbano, sem falarmos nas carências nutricionais crônicas [pela falta regular de ovos, carnes, o que arrasa a imunidade da família trabalhadora] e poluição.
Como se não bastasse, os governos não cessam seus ataques contra o emprego, arrancando direitos conquistados [como o de acidente do trabalho etc] e segue privando as comunidades pobres de água [a crise hídrica não cessou], coleta de lixo, esgoto e agentes sanitários. As melhores terras rurais e urbanas estão em mãos de ricos; é a especulação imobiliária capitalista quem lança a classe pobre para regiões de risco, seja de avalanches nas chuvas, pragas ou doenças.
Há um debate em torno de grandes negociatas que empresas capitalistas de produtos químicos fizeram com o Ministério da Saúde para lançar venenos nas águas de comunidades pobres a pretexto de combater o mosquito e que estariam causando microcefalia; noticia-se outros venenos e mesmo vacinas experimentais que o governo desastradamente jogou naquela região pobre onde a microcefalia explodiu e segue crescendo. É importante abrir o debate de forma independente do governo sobre esses temas, a partir da esquerda, entendendo que Monsanto e a indústria capitalista – com cobertura da ONU/OMS - são capazes de tudo em função do lucro. Basta ver que deixaram o mosquito voltar para depois gastarem nas vacinas de multinacionais os recursos que não gastaram para barrar o mosquito e vencer a microcefalia.
Em suma: o governo não quer e nem pode resolver o problema, está de rabo preso com banqueiros, dívida pública e grandes negociatas. Senão por que não libera a licença para a gestante que queira se cuidar contra o mosquito, ou se proteger contra a microcefalia? E os bairros onde se mora no meio da água parada, do mosquito, do racionamento de água [que obriga a ter caixa de água ou algum armazenamento de água no quintal] por que não libera prédios e conjuntos habitacionais vazios? Por que não contrata na juventude frentes de trabalho para saneamento imediato dos bairros pobres? E o direito elementar da mulher para poder abortar, escolher se quer ou não ter um filho com microcefalia? E a mulher que escolha ter o filho [com microcefalia], onde estão os centros equipados com profissionais para todo tipo de atenção à criança com microcefalia? E por que o governo não produziu repelente natural em grande escala e não distribuiu em massa telas/mosquiteiros, desde que a dengue voltou a crescer e o mosquito a se espalhar?
Falta de recursos? Mentira: não faltou dinheiro para a Copa, e o governo continua gastando milhões na invasão do Haiti. E o SUS, conquista das lutas sociais, virou lugar de filas sem fim, sem leitos, sem UTIs, e a saúde foi sendo privatizada. Jamais venceremos essas pragas sem uma reestatização do SUS sob controle dos trabalhadores. E sem uma ofensiva a partir da esquerda, sindicatos combativos e centros estudantis levantando aquelas bandeiras de luta.